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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
NEGOCIOS

Investimento climático no Brasil cresce 157% e atinge R$ 360 bilhões

Boom verde no Brasil, mas dinheiro não chega onde estão as maiores emissões, ignorando meio climático

Otavio Augustopor Otavio Augusto em 22 de novembro de 2025
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Energia concentrou 44% dos investimentos, enquanto adaptação climática ficou com apenas 7%. Foto: Divulgação

O volume de recursos destinados ao enfrentamento das mudanças climáticas no Brasil mais que dobrou desde 2019 e atingiu US$ 67,8 bilhões em 2024, o equivalente a aproximadamente R$ 360 bilhões para o setor climático. O aumento de 157% revela a consolidação de uma agenda climática mais ativa no país, impulsionada principalmente por fontes internas de financiamento, mas também expõe desequilíbrios na distribuição desses recursos entre os setores mais estratégicos para a redução de emissões.

Embora o crescimento seja expressivo, a aplicação dos investimentos ainda não acompanha o perfil real das emissões brasileiras. Setores como florestas e adaptação climática continuam recebendo participação reduzida, mesmo sendo áreas diretamente ligadas à mitigação de riscos ambientais, eventos extremos e preservação de biomas fundamentais como o Cerrado e a Amazônia.

Energia solar lidera aporte, mas não reflete perfil das emissões brasileiras

Entre 2022 e 2023, 44% do financiamento climático foi direcionado ao setor energético, com destaque para projetos de geração solar. Os investimentos em energia saltaram de US$ 9,5 bilhões no biênio 2020/2021 para US$ 22,4 bilhões em 2022/2023, consolidando o segmento como principal destino dos recursos.

Especialistas alertam, no entanto, que a concentração no setor energético não corresponde à estrutura das emissões nacionais. No Brasil, as maiores fontes de gases de efeito estufa estão ligadas ao desmatamento, uso da terra e agropecuária, o que evidencia uma necessidade de reequilíbrio na alocação dos investimentos climáticos.

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Financiamento climático avança, mas ignora principais fontes de emissão no Brasil. Foto: Divulgação

Créditos rurais ampliam recursos, mas impactos ainda são questionados

O setor de agricultura, florestas e outros usos da terra apresentou crescimento relevante no volume de recursos, passando de US$ 14,9 bilhões no biênio 2020/2021 para US$ 28 bilhões em 2022/2023. A maior parte desse montante foi viabilizada por meio de linhas de crédito rural classificadas como alinhadas ao clima.

Esses financiamentos representam cerca de 71% dos instrumentos utilizados no setor, porém avaliações técnicas indicam que parte dessas operações carece de monitoramento efetivo. Programas voltados à recuperação de pastagens, por exemplo, não demonstram mudanças significativas em diversos casos, o que levanta dúvidas sobre a eficiência ambiental dos recursos aplicados.

 

Florestas recebem apenas 1% do financiamento climático

O setor florestal segue como um dos mais negligenciados. O volume destinado às florestas caiu de US$ 1,5 bilhão em 2019 para apenas US$ 254 milhões em 2023, correspondendo a aproximadamente 1% do total investido em ações climáticas no país.

A baixa priorização contrasta com o papel estratégico das florestas na captura de carbono e na preservação da biodiversidade. Iniciativas recentes buscam reverter esse cenário, com programas voltados à restauração ecológica, manejo sustentável e fortalecimento da bioeconomia, prevendo o plantio de centenas de milhões de árvores e a geração de milhares de empregos verdes.

Adaptação climática ainda ocupa espaço reduzido

Apesar do aumento dos eventos climáticos extremos, como enchentes e ondas de calor, apenas 7% do financiamento climático nacional foi destinado a ações de adaptação entre 2022 e 2023. Projetos voltados à resiliência urbana, saneamento, contenção de enchentes, macrodrenagem e infraestrutura preventiva seguem com participação limitada no orçamento climático.

Especialistas destacam que a baixa prioridade compromete a capacidade de proteção das populações mais vulneráveis, especialmente em áreas urbanas periféricas e regiões sujeitas a impactos ambientais recorrentes. A necessidade de ampliar investimentos em infraestrutura básica e prevenção é apontada como urgente para reduzir danos sociais e econômicos.

Centro-Oeste e Goiás ganham relevância na transição verde

Embora os relatórios nacionais não detalhem a distribuição por estado, o crescimento do crédito climático voltado ao uso da terra é especialmente relevante para o Centro-Oeste e para Goiás, onde a agropecuária exerce papel central na economia regional. A ampliação de investimentos em produção sustentável, recuperação de áreas degradadas e sistemas integrados de produção pode contribuir para a redução de emissões e fortalecimento da economia verde.

A região também se beneficia de projetos voltados ao Cerrado, bioma estratégico para a regulação hídrica e climática do país, cuja preservação se torna cada vez mais essencial diante do avanço das pressões ambientais.

 

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Foto: Divulgação

Maior participação de recursos nacionais impulsiona financiamento climático

Cerca de 90% dos recursos aplicados em financiamento climático entre 2019 e 2023 tiveram origem doméstica, provenientes de instituições financeiras, empresas, governos e famílias. No biênio mais recente, mais de dois terços dos valores foram aportados por agentes privados e instituições bancárias, com destaque para operações de crédito e investimentos corporativos.

O setor público também desempenha papel relevante, especialmente por meio de bancos de fomento e programas federais voltados à mitigação e adaptação climática, reforçando a estrutura de financiamento para projetos sustentáveis em diferentes regiões do país.

 

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