O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Economia

Comércio goiano prevê alta na Black Friday, mas juros recordes freiam apetite das famílias

Setor estima movimentar R$ 793,3 milhões nesta semana de Black Friday, mas taxa média de juros mais alta desde 2017 limita o uso do crédito e reduz disposição para parcelamentos

Letícia Leitepor Letícia Leite em 25 de novembro de 2025
4 abre Rovena Rosa ABr 1
A pressão do crédito caro exige mais cautela e seletividade do consumidor neste fim de ano. Foto: Rovena Rosa/ABr

A semana da Black Friday movimenta o comércio goiano com expectativas positivas, mas também com um pé no freio. O Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas-GO) projeta que as vendas até esta sexta-feira (28) alcancem R$ 793,3 milhões, alta de 7,5% em relação ao ano passado. No cenário nacional, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) prevê R$ 5,4 bilhões em receita,o maior volume desde 2010.

Apesar do avanço, o varejo fala em otimismo moderado. O presidente do Sindilojas-GO, José Reginaldo Garcia, afirma que o bom desempenho do primeiro semestre ajuda a sustentar o cenário, mas lembra que fatores macroeconômicos continuam pressionando o consumo, principalmente o custo do crédito. “Os juros nas alturas, que encarecem o crédito, elevam os custos operacionais e, consequentemente, freiam o investimento e o consumo a prazo”, diz.

Segundo o Banco Central, a taxa média de juros das operações de crédito livre para pessoas físicas chegou a 58,3% ao ano,  o maior patamar para esta época do ano desde 2017. O nível elevado da Selic – taxa básica de juros da economia – e a inadimplência recorde mantêm o ciclo de endividamento das famílias: 30,5% têm contas em atraso e 13,2% não conseguem honrar compromissos.

Nesse ambiente, a pergunta que mais interessa ao varejo é simples: essa taxa de juros impacta a Black Friday? A resposta do economista Luiz Carlos Ongaratto é direta e vai na contramão da percepção comum.

Ele explica que os 58,3% ao ano se referem ao chamado crédito direto ao consumidor, um empréstimo que não tem finalidade definida e, por isso, é mais caro. “A gente não recomenda recorrer a esse tipo de operação de crédito, de empréstimo, para fazer compras na Black Friday, principalmente porque os descontos não compensam as taxas de juros praticadas”, afirma. Ele complementa que esse crédito só deve ser usado em caso emergencial, como para quitar dívidas com juros ainda maiores, por exemplo do cartão de crédito.

Crédito não determina o ritmo das vendas na Black Friday

Black Friday
Foto: Paulo Pinto/ABr

Para Ongaratto, esse tipo de crédito não é o que determina o ritmo das vendas na Black Friday, porque raramente é usado para consumo. Na prática, quem recorre a ele já está em uma situação financeira delicada. “As pessoas que têm esse tipo de crédito como alternativa, muito provavelmente elas já estão endividadas, não conseguem pagar ali as suas dívidas e só vão acessar crédito cada vez mais caro. Então elas não são o público que deveria consumir na Black Friday”, diz.

O economista destaca que o parcelamento utilizado nas compras do varejo, principalmente via cartão, segue outra lógica, com juros embutidos mais baixos e condições mais previsíveis. Ainda assim, a combinação de endividamento elevado, renda pressionada e juros altos no sistema financeiro como um todo reduz o apetite das famílias.

“Para que tenha mais consumo na Black Friday, de fato o consumidor tem que estar em um nível de endividamento saudável, utilizando o crédito com sabedoria, ter uma questão de crescimento econômico também no Brasil, melhor distribuição de renda e também descontos reais no mercado”, afirma.

O Sindilojas-GO reforça esse ponto: o sucesso das vendas nesta semana e no Natal depende do equilíbrio entre ofertas atrativas e capacidade de consumo das famílias. Os segmentos de hiper e supermercados, eletroeletrônicos, utilidades domésticas, móveis e vestuário devem liderar as compras, repetindo a tendência nacional.

Além disso, lojistas relatam que o comportamento do consumidor nesta Black Friday está mais racional. Pesquisas internas do setor mostram que as famílias fazem comparações de preço por mais tempo, priorizam itens de necessidade imediata e evitam compras impulsivas. A estratégia das empresas, portanto, migra para oferecer benefícios adicionais, como facilidades no pagamento, frete reduzido e políticas de troca mais flexíveis. 

No varejo físico, a expectativa é que o fluxo aumente principalmente nos últimos dias da campanha, quando o consumidor se sente mais seguro de que os descontos são reais. Para o setor, o desafio é transformar esse interesse cauteloso em vendas efetivas, sem depender de um crédito que hoje se tornou proibitivo para grande parte da população.

Siga o Canal do Jornal O Hoje e receba as principais notícias do dia direto no seu WhatsApp! Canal do Jornal O Hoje.
Tags:
Veja também