Discos de vinil retomam espaço e criam novo ciclo de negócios no país
Com alta global prevista para ultrapassar US$ 4 bilhões até 2034, o vinil ressurge como produto estratégico
Mesmo após ter desaparecido das prateleiras por décadas, os discos de vinil – as clássicas “bolachas” – retornaram com força a partir dos últimos anos e hoje representam um dos segmentos mais dinâmicos da economia criativa. O movimento, impulsionado pela nostalgia e pela busca por novas experiências sensoriais, já é percebido em diferentes regiões do país, incluindo o Espírito Santo, Goiás e todo o Centro-Oeste.
Renascimento impulsionado pela nostalgia e pelos números
O vinil deixou de ser um item de colecionador para ocupar novamente espaço relevante nas vendas físicas de música no Brasil. Em 2024, o segmento registrou crescimento de 31,5% e alcançou o maior patamar desde 2017. A participação do vinil nesse resultado é expressiva: ele já representa mais de dois terços de todo o faturamento do mercado físico nacional.
Somente no ano passado, o formato movimentou mais de R$ 16 milhões no país, superando o CD e consolidando-se como o produto mais lucrativo entre os suportes físicos. No cenário global, estimativas de consultorias internacionais indicam que o mercado de vinil poderá alcançar cifras superiores a US$ 4 bilhões até 2034, sustentado por uma taxa de crescimento anual acima de 13%.
Esse fenômeno contrasta com a predominância do streaming, que domina o consumo de música no Brasil e responde por mais de 85% das receitas digitais. Mesmo assim, o vinil cresce em paralelo, impulsionado por um público que busca experiência, objeto físico, artes gráficas e conexões mais profundas com a obra musical.

Espírito Santo: da paixão ao investimento
No Espírito Santo, o ressurgimento do vinil se reflete tanto no consumo quanto na produção. Bandas independentes capixabas voltaram a lançar álbuns no formato. Um exemplo é o grupo de rock Lordose Pra Leão. Para o baterista e vocalista Márcio Vaccari, o disco representa algo além de som:
“O conceito colocado na capa dialoga com a música. A dimensão do vinil permite uma expressão artística muito mais intensa. É um objeto que convida ao ritual, à pausa, ao envolvimento.”
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Vaccari explica que o formato tem atraído justamente a geração mais nova. “Em meio à vida acelerada, a tarefa de pegar o disco, limpar, colocar para tocar virou um ritual de calma. É quase terapêutico.”

De ouvinte casual a colecionador de vinil
O fascínio pelo vinil também conquista o público jovem. O médico Victor Edas, 28 anos, começou a colecionar de forma despretensiosa ao presentear o pai com um LP. Sete anos depois, já acumula mais de 300 discos.
“Ouvir no aleatório me tirava a conexão com a música. O álbum completo, na ordem pensada pelo artista, mexe de outra forma. O vinil virou um momento importante do meu dia.”
Edas afirma que o hábito trouxe novas relações de consumo, atenção e até economia: “Acabei gastando menos com compras impulsivas de streaming e priorizando aquilo que realmente me toca.”
Histórias como a dele têm sido comuns entre jovens de 18 a 30 anos — hoje o grupo que mais compra vinis no Brasil.
Lojas especializadas e oportunidades de negócio
O crescimento do segmento abriu portas também para empreendedores capixabas. Em Vila Velha, o empresário Valdir Santuzzi administra uma das lojas mais tradicionais do Estado. Segundo ele, a mudança do perfil do consumidor surpreendeu:
“Quando abrimos, eram principalmente colecionadores antigos. Hoje, 70% do público tem até 25 anos. São jovens que querem descobrir, tocar e colecionar.”
Além da venda, a loja investe na produção de discos capixabas, prensando álbuns de artistas locais e revivendo obras lançadas originalmente em CD. Para Santuzzi, esse movimento cria um ciclo virtuoso:
“O vinil voltou, mas voltou diferente. Ele movimenta a economia, fomenta a cultura e dá valor ao artista regional. Estamos apostando nisso.”
Goiás, Centro-Oeste e o avanço nacional
O fenômeno também se expande pelo Centro-Oeste. Em Goiás, cresce o número de feiras, sebos e grupos de colecionadores que movimentam compra, venda e troca de discos. Embora a oferta de lojas físicas ainda seja limitada, a comunidade on-line tornou-se uma força importante, permitindo que fãs do estado e da região tenham acesso a catálogos nacionais e importados.
Nas capitais do Centro-Oeste, como Goiânia, Cuiabá e Campo Grande, o interesse pelo formato é visível em eventos culturais, feiras independentes e espaços voltados ao consumo de itens vintage. O vinil se integra a um movimento mais amplo que engloba produtos retrô, móveis antigos, fitas cassete e câmeras analógicas. Para especialistas, esse comportamento está ligado à busca por autenticidade e ao resgate de objetos com valor simbólico.
O mercado, porém, enfrenta desafios: preços elevados — muitos discos antigos ultrapassam facilmente R$ 100 — e tiragens limitadas das gravadoras, que encarecem lançamentos novos. Ainda assim, analistas avaliam que o vinil seguirá em expansão nos próximos anos, impulsionado por nichos fiéis e pela diversificação das prensas brasileiras.