Idosa norte-americana que morreu em Goiânia não sofreu violência sexual, conclui Polícia Civil
Delegada afirma que lesões foram causadas por prolapso retal e queda em hotel; investigação será encerrada por inexistência de crime
A norte-americana Nanci Ellen Wendel, de 71 anos, que morreu em Goiânia, não foi vítima de violência sexual, segundo a delegada Ana Elisa Gomes, titular da Delegacia Estadual de Atendimento Especializado à Mulher (DEAEM). A idosa, que visitava a capital pela segunda vez para realizar tratamento odontológico, enfrentava sérios problemas de saúde.
“Segundo a própria vítima, em relatos feitos à equipe da Delegacia da Mulher, ela não foi vítima de violência, nem física nem sexual”, afirmou a investigadora.
Durante coletiva realizada nesta sexta-feira (28), a Polícia Civil informou que Nanci apresentava um grave problema intestinal — prolapso retal — e possuía histórico de uso de opioides e consumo excessivo de álcool, situação confirmada pela família.
“Isso fazia com que ela não tivesse controle da evacuação, acontecendo em qualquer lugar do quarto”, explicou a delegada, destacando que os vícios agravaram o estado clínico da idosa.
Nanci morreu na quarta-feira (26), no Cais Vila Nova, após sofrer três paradas cardiorrespiratórias. A morte ocorreu 11 dias após seu primeiro atendimento médico, em 15 de novembro, quando surgiu a hipótese inicial de abuso sexual e agressão.
Como surgiu a suspeita
De acordo com Ana Elisa, funcionários dos hotéis onde Nanci se hospedou relataram que ela consumia várias doses de uísque diariamente e usava medicações fortes trazidas dos Estados Unidos. Uma camareira percebeu que a idosa passava mal e acionou ajuda.
“Ela dizia sentir muita dor. A gerente providenciou o atendimento pelo Samu”, afirmou.

Na unidade de saúde, um médico — sem conhecimento do histórico clínico da paciente — suspeitou de violência sexual ao observar lesões na região retal. Porém, segundo a Polícia Civil, “essas lesões eram decorrentes do prolapso retal que ela já trazia dos Estados Unidos”.
Outras marcas no corpo da idosa também chamaram atenção, mas a investigação constatou que foram causadas por uma queda no banheiro do primeiro hotel.
“Em razão do consumo de álcool e opioides, ela perdia o equilíbrio e sofreu uma queda mais grave”, disse a delegada.
Condição de saúde agravada
A delegada relatou que a idosa buscou Goiânia para realizar um tratamento odontológico mais acessível do que nos EUA, mas já chegou debilitada.
“Ela consumiu muita bebida alcoólica e comeu muito pouco. Acho que já vinha trazendo uma condição física muito frágil”, declarou.
Nanci havia retornado ao Cais no início da semana se queixando de dores intensas no abdômen e na perna direita, que começaram poucas horas antes de seu embarque de volta aos Estados Unidos.
Conclusão do inquérito
Ana Elisa afirmou que a investigação está praticamente concluída.
“Foi uma apuração criteriosa, com várias pessoas ouvidas, imagens analisadas e laudos produzidos. Deve ser finalizada nos próximos dias, certamente pela não ocorrência de crime, e será remetida ao Judiciário com sugestão de arquivamento.”
A delegada destacou ainda o cenário de vulnerabilidade vivido pela norte-americana:
“Era uma mulher muito solitária, em um país onde não falava o idioma, sempre precisando de apoio de pessoas desconhecidas. Uma senhora de 71 anos, sozinha, que veio fazer um tratamento dentário e acabou passando por toda essa situação.”
O corpo de Nanci está no IML e deve ser levado de volta ao seu país de origem.
“A Embaixada foi comunicada. O irmão dela já entrou em contato e virá providenciar o translado”, informou.