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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Dezembro vermelho

AIDS mais 40 anos após o primeiro caso no Brasil, desafios seguem na prevenção e no combate ao estigma

Campanhas de conscientização buscam ampliar diagnóstico, fortalecer a prevenção e enfrentar preconceitos que ainda isolam pessoas soropositivas no país

Anna Salgadopor Anna Salgado em 30 de novembro de 2025
aids
Campanhas do Dezembro Vermelho reforçam a importância da testagem, do tratamento contínuo e da luta contra o estigma que ainda cerca o HIV/AIDS | Foto: Arquibo/ABr

O Dia Mundial de Combate à AIDS é celebrado amanhã em 1º de dezembro, mas o mês todo é voltado para o assunto. A data foi estabelecida em 1988 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) após a descoberta do vírus da imunodeficiência humana (HIV), visando unir esforços de diversos países no combate à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).

Apesar de o HIV ser o agente causador da AIDS, as condições não são sinônimos. Conforme explicou o Médico Infectologista Marcelo Daher, um paciente com diagnóstico de HIV positivo muitas vezes não apresenta sintomas da doença. A classificação de AIDS é definida quando os sintomas (chamados de doenças definidoras de AIDS) começam a se manifestar. O modo de exame para diagnóstico é o mesmo, mas são classificações diferentes para estágios distintos da mesma infecção pelo vírus HIV.

Dados publicados pelo Ministério da Saúde em fevereiro de 2023 indicam que mais de um milhão de pessoas no Brasil vivem com HIV. No entanto, cerca de 52 mil casos de AIDS foram registrados no país nos últimos 10 anos.

História e formas de transmissão da AIDS

O surgimento da doença não é totalmente certo, mas o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNIAIDS) aponta que o vírus é uma variante do vírus da imunodeficiência símia (SIV). O primeiro contágio em humanos teria ocorrido por volta de 1930, a partir de sangue infectado durante caçadas. Embora o surgimento seja da década de 30, os primeiros casos foram registrados apenas no final dos anos 70 nos Estados Unidos, Haiti e África Central.

O primeiro caso de AIDS no Brasil ocorreu em 1980. Dois anos depois, a doença foi nomeada como Doença dos 5H (referindo-se a Homossexuais, Homofílicos, Haitianos, Heroinômanos – usuários de heroína, e Hooker – profissionais do sexo em inglês). Essa nomeação, que reforçava preconceitos como homofobia e racismo, foi abandonada em 1983, quando a condição passou a ser chamada de HIV/AIDS.

Durante a Epidemia da AIDS dos anos 80, algumas formas de contágio foram identificadas. Atualmente, o Infectologista Dr. Marcelo Daher detalha as formas de transmissão identificadas:

  • Via sexual, que é o meio principal.
  • Transmissão vertical, quando a mãe grávida com HIV não tem o diagnóstico e o tratamento adequado, passando a doença para o filho.
  • Uso de drogas, através do compartilhamento de seringas e agulhas.

Prevenção e tratamento acessível

Os métodos eficazes de prevenção incluem o uso do preservativo, pré-natal e tratamento eficazes da gestante. Além disso, as pessoas que não têm a doença podem utilizar a Profilaxia Pré-Exposição (PREP), um medicamento diário que diminui muito o risco de infecção.

O Ministério da Saúde no Brasil disponibiliza o PREP gratuitamente, assim como o medicamento antirretroviral de Profilaxia Pós-Exposição (PEP). O PEP é uma forma de prevenção para uso em até 72 horas após a exposição de risco.

Quanto ao diagnóstico, os testes rápidos para HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como sífilis e hepatites virais, são realizados gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde, um serviço disponibilizado desde 2013 pelo Conselho Federal de Enfermagem. A testagem frequente é importante, pois os sintomas do HIV são extremamente variados e não há um sinal específico da doença.

Embora ainda não haja uma cura para a AIDS, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza tratamento gratuito e imediato após o diagnóstico. O tratamento não só impede a evolução do vírus no organismo da pessoa contaminada, mas também evita que essa pessoa possa transmitir a doença para outras.

O preconceito e a importância do suporte emocional

Apesar dos avanços no tratamento, pessoas vivendo com HIV ainda enfrentam preconceitos. Pedro Henrique (nome fictício), soropositivo entrevistado, relatou enfrentar estigmas nas esferas familiar e profissional. Ele mencionou que membros da família têm receio de dividir talheres ou o veem como super frágil. No âmbito profissional, ele teme o preconceito indireto devido a conversas de colegas de trabalho carregadas de desinformação e fanatismo religioso.

Pedro Henrique ressaltou que o Dia Mundial de Combate à AIDS é de “suma importância para que cada dia mais acabe com o preconceito sobre as pessoas que possuem essa condição”. Ele argumenta que grande parte da proliferação do vírus se deve à desinformação propagada por mídias e locais carregados de fanatismo religioso e preconceito.

O suporte emocional é crucial para a saúde mental de pessoas soropositivas. Um estudo do periódico BMJ Journals aponta que pessoas com a doença têm 100 vezes mais chances de cometer suicídio do que o restante da população. O suporte de família, amigos, entes queridos, grupos de apoio ou ONG’s pode prevenir medidas extremas ou o abandono do tratamento.

Pedro Henrique compartilhou sua experiência, afirmando que o suporte emocional foi fundamental. Ele relatou que, no momento do diagnóstico, sentiu tanto medo de morrer que quase tirou a própria vida, e encontrou apoio essencial em amizades.

Metas globais para 2030

A UNIAIDS publicou um relatório que prevê que, se medidas específicas forem tomadas, o HIV deixará de ser um Problema de Saúde Pública Global até o ano de 2030. As metas, chamadas de “95-95-95”, incluem:

  • Ter 95% das pessoas vivendo com o HIV diagnosticadas.
  • Ter 95% dessas pessoas em tratamento antirretroviral.
  • Ter 95% dessas em tratamento com a carga viral controlada.

Atualmente, apenas Botsuana, Essuatíni, Ruanda, a República Unida da Tanzânia e Zimbábue atingiram os objetivos “95-95-95”. Na América Latina, o Brasil é o país que mais se aproxima, apresentando os percentuais de 88-83-95, respectivamente.

Durante o Dezembro Vermelho, campanhas de conscientização e prevenção, incluindo a distribuição gratuita de testes rápidos, medicamentos para tratamento, preservativos e PREP, são realizadas em Unidades de Saúde e pontos estratégicos.

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