Agiotagem e intimidação: saiba como funcionava esquema que movimentou R$ 7 milhões no Entorno do DF
Seis pessoas foram presas; apuração aponta atuação estruturada com uso de ameaças, juros abusivos e lavagem de dinheiro
A Polícia Civil de Goiás (PCGO) deflagrou, em Luziânia, a Operação Mão de Ferro para desarticular um grupo investigado por agiotagem, extorsão e lavagem de dinheiro no Entorno do Distrito Federal. A ação, conduzida pelo Grupo de Investigação de Homicídios, cumpriu mandados de prisão e de busca, resultando na prisão de seis pessoas, entre elas policiais militares, uma advogada e empresários.
De acordo com as investigações, o grupo atuava na agiotagem, oferecendo empréstimos com juros elevados e cobrança violenta. Em caso de atraso, vítimas relataram sofrer ameaças, pressão psicológica e constrangimentos para forçar o pagamento. A PCGO afirma que o esquema funcionou por aproximadamente dois anos e movimentou mais de R$ 7 milhões durante o período — valor que já foi bloqueado por ordem judicial para fins de responsabilização e rastreio.
Sargento cobrava vítimas sob a mira de armas

Entre os investigados está o sargento Hebert Póvoa, apontado como um dos responsáveis pela cobrança direta de dívidas do esquema de agiotagem. Vídeos que circulam na internet mostram a agressividade do homem em cobrar as dívidas. Em um deles, uma mulher foi gravada sentada na cama enquanto levava tapas no rosto. Em outro, outra mulher estava dentro do carro e era ameaçada todo o tempo sob a mira de uma arma. Em mais um, ele ameaça um homem que pede para não morrer.
Mulher orava por dinheiro recebido na agiotagem
A advogada Tatiane Meireles, esposa de Póvoa, também foi presa e é investigada por possível participação administrativa na gestão dos valores. Em um dos vídeos, a mulher ora pelo dinheiro recebido, fruto da agiotagem: “ Te pedimos, pai amado, que cada pessoa que receber esse dinheiro, que ela tenha gratidão. Que retorne para nós como um dinheiro abençoado, assim como nós abnençoamos essas pessoas”, diz a mulher.
Confira o vídeo:
A Polícia Civil também atribui funções financeiras ao núcleo empresarial do grupo, responsável por movimentações bancárias e circulação patrimonial.
A investigação indica que havia divisão de funções, com atuação operacional na cobrança e articulação para ocultação e reinserção do capital no sistema financeiro — caracterizando lavagem de dinheiro. Os presos foram transferidos para Goiânia, onde permanecem à disposição da Justiça.
A operação, além das prisões, resultou no bloqueio judicial de valores atribuídos ao grupo e na apreensão de equipamentos, aparelhos telefônicos e documentos que seguem sob análise. A Polícia Civil também busca identificar outras possíveis vítimas para ampliar o mapa investigativo.
Em nota, a Polícia Militar de Goiás informou que a corporação teve conhecimento da operação da Polícia Civil e que não compactua com desvios de conduta e reitera seu compromisso com a ética, a legalidade e a transparência. As medidas administrativas cabíveis já foram adotadas e seguirão em estrita observância às normas internas.
A OAB disse que apura o caso.
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