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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
desequilíbrio do fim de ANO

Dezembro não libera: desregula

Nutricionista explica como a ruptura de rotina afeta o metabolismo e por que as semanas pré-festas pesam mais que a ceia

Luana Avelarpor Luana Avelar em 4 de dezembro de 2025
dezembro
Foto: FreePik

O desequilíbrio típico do fim de ano não nasce da mesa de Natal, mas do período que o antecede. Quando os horários passam a falhar, as refeições deixam de seguir ordem e o sono se torna irregular, o corpo perde seus marcadores de estabilidade. A sensação de descompasso aparece justamente nesse intervalo em que o cotidiano se desfaz antes mesmo da primeira comemoração.

A nutricionista Jaqueline Lagares observa isso todos os anos no consultório. “Quando a gente fala de perder o equilíbrio em dezembro, estamos muito mais falando de comportamento do que de biologia. O corpo não entra em colapso porque é Natal. O que acontece é que a nossa relação com a comida, rotina e emocional muda nesse período”.

Segundo ela, o processo não é fisiológico, mas fruto de um ambiente permissivo. A ideia de “mês liberado” altera a forma como as pessoas interpretam seus próprios limites. “Existe uma narrativa coletiva de liberou geral e quando a pessoa acredita que não tem mais controle, ela realmente perde o freio. Não por fisiologia, mas por permissão comportamental”.

Esse padrão interfere diretamente na regulação metabólica. A maior parte das dúvidas gira em torno do que evitar, mas Lagares afirma que essa abordagem desvia do que realmente funciona. Ela defende preparação prévia, não restrição. “Quando você garante proteína, fibras e uma boa hidratação antes dos eventos, o corpo responde com mais energia, menor pico glicêmico e menos inflamação”. Entre as recomendações estão proteína com gordura boa antes de sair, vegetais no início da refeição e frutas com castanhas entre bebidas alcoólicas. “Aqui não é sobre proibir. É sobre preparar o terreno”.

A nutricionista diferencia ainda um episódio isolado de um padrão contínuo. A ceia, sozinha, tem impacto limitado. “O único dia de ceia gera retenção, aumento momentâneo de glicemia e talvez até um desconforto gastrointestinal. Mas o corpo se regula rapidamente”. O desgaste aparece quando o período acumula eventos sucessivos sem intervalo. “São as semanas de eventos consecutivos sem descanso metabólico. Aí o corpo entra num ciclo de inflamação, cansaço, queda de energia e alteração de apetite porque não tem tempo de retornar ao ponto de equilíbrio”.

É nesse cenário prolongado, e não no jantar festivo, que a indústria do “comece o ano zerado” prospera. “Detox, compensação, promessas rápidas. Isso existe porque a culpa e o descontrole de dezembro são altamente lucrativos. Quanto mais as pessoas acreditam que estragaram tudo, mais elas compram soluções extremas”.

A recuperação, afirma Lagares, exige método, não penitência. “Você não precisa pagar a penitência pelo que comeu, só precisa reconstruir o padrão”. Ela recomenda reorganização progressiva: horários regulares, proteínas suficientes, hidratação consistente, aumento de vegetais e uso de chás ou temperos naturais para modular inflamação. “O corpo responde muito rápido quando você dá previsibilidade a ele. É necessário ter consistência, clareza e um plano que caiba na sua rotina”.

Para ela, esse período só se transforma em ameaça quando falta uma base sólida que sustente o organismo depois dos excessos. “Por isso que eu trabalho muito em criar uma base alimentar, porque sempre que tiver um evento e você sair dela, você vai ter pra onde voltar”. A deterioração, portanto, não deriva da festa em si, mas da ausência de referência para retomar o próprio eixo. É nesse vácuo, e não no prato, que o mês cobra seu preço.

Dezembro
Para Jaqueline Lagares, o descontrole não nasce da ceia de Natal, mas da sucessão de dias sem pausa metabólica. Foto: Divulgação

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