Caiado vira alternativa viável para a direita
Indicação de Flávio Bolsonaro como pré-candidato do PL ao Planalto provoca turbulência na direita, assusta o mercado e mantém governadores na busca para se mostrar como alternativa viável
Bruno Goulart
A oficialização do nome do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como o herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a disputa presidencial de 2026 abriu, de imediato, uma rachadura profunda na direita. A escolha não apenas desencadeou resistências internas — sobretudo no Centrão —, como também provocou impactos externos, entre eles um sobressalto no mercado financeiro, que reagiu negativamente ao anúncio.
O movimento, portanto, reorganiza o tabuleiro político e reposiciona atores importantes, entre eles o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que surge como um nome visto como mais estável, previsível e capaz de dialogar com setores econômicos.
À medida em que o bolsonarismo tenta se reconfigurar com um nome menos popular, aumenta a fragmentação entre partidos que orbitam a direita. Mesmo dentro da base tradicional do ex-presidente, lideranças admitem que a escolha de Flávio gerou desgaste. Além disso, institutos de pesquisa indicam dificuldades para o senador avançar entre indecisos.
Caiado aparece com índice de rejeição baixo
Hoje, Flávio é rejeitado por 38% do eleitorado, de acordo com a pesquisa DataFolha divulgada neste sábado (6), enquanto outros governadores do campo — como Ratinho Jr. (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e o próprio Caiado — aparecem com índices de rejeição bem menores, que variam entre 18% e 21%.
Nesse cenário, o Centrão passa a ter peso ainda maior. Embora costume atuar movido por pragmatismo, sua resistência ao nome de Flávio Bolsonaro é forte. O União Brasil — partido que abriga Caiado e integra o bloco — já sinalizou que não pretende endossar o senador. Como reforço, dirigentes do PSD, PP e Republicanos observam com cautela o risco de embarcar numa candidatura considerada “caseira” demais para o núcleo familiar bolsonarista e pouco palatável ao mercado financeiro. O próprio Flávio lançou uma frase emblemática neste domingo, de que existe um “preço” para que sua candidatura não siga “até o fim”.
Análise
Nesse contexto, analistas avaliam que a crise aberta pelo anúncio recoloca governadores de direita no páreo com chances renovadas. Para o mestre em História e especialista em Políticas Públicas Tiago Zancopé, a escolha de Jair Bolsonaro por Flávio teve o efeito de “zerar a corrida” dentro do campo conservador. Zancopé afirma que o cansaço com a família Bolsonaro ficou evidente na resposta do mercado e abriu espaço para nomes que tinham perdido tração.
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“Agora é a hora em que Caiado tem que trabalhar, Zema tem que trabalhar, Ratinho Jr. tem que trabalhar. Todos eles veem a corrida começar novamente”, declara ao O HOJE. Segundo Zancopé, houve uma reação natural: se Bolsonaro insiste em colocar o próprio filho na disputa, governadores, mercado e Centrão buscam, por conta própria, outra alternativa.
Apesar desse reposicionamento, a possibilidade de Caiado consolidar-se como candidato competitivo ainda depende da engrenagem política que sustenta o Centrão. Para o cientista político Lehninger Mota, o governador goiano só se beneficiará se houver uma “revolta organizada” dos partidos do bloco — União Brasil, PP, PSD e outros — em torno de seu nome.
Esse seria o único caminho para transformá-lo na opção respaldada por estrutura, tempo de TV e capilaridade nacional. Mas Mota alerta: “É pouco provável, porque, devido à polarização, o Centrão dificilmente bancará Caiado sabendo que o candidato de Bolsonaro estará no segundo turno”.
Desgaste precoce
Ainda assim, o desgaste precoce da pré-candidatura de Flávio abre uma janela importante: a procura por um nome capaz de dialogar com investidores, conter a volatilidade e sinalizar governabilidade. E é justamente aí que Caiado tenta se apresentar como solução.
Enquanto o bolsonarismo se fecha sobre si mesmo, o goiano tem buscado contatos frequentes com empresários, parlamentares e lideranças nacionais para reforçar o discurso de previsibilidade fiscal — uma bandeira que, historicamente, agrada o mercado. (Especial para O HOJE)