História de Juciel Costta ganha espaço no Manda Vê
Convidado do podcast apresentado por Juan Allaesse, artista relembra origem humilde, momentos de fome e virada nas redes
No episódio da última segunda-feira (8), o podcast Manda Vê recebeu Juciel Costta, cantor e criador de conteúdo que transformou a própria trajetória em narrativa pública. Em conversa conduzida por Juan Allaesse, o artista retomou a linha do tempo que o trouxe do Sertão cearense a Goiânia, passando por períodos de fome, ausência de moradia, trabalhos informais e um esforço contínuo para permanecer na música.
Nascido em Senador Pompeu, no Ceará, Juciel cresceu em uma casa de poucos recursos. O pai administrava um pequeno bar, ambiente que funcionou como primeira escola musical. O menino observava, escutava e começava a reconhecer a própria vocação. Na adolescência, assumiu tarefas para ajudar a mãe e os irmãos. Trabalhou em mercearias, vendeu picolé e utilizou parte do que ganhava para pagar as primeiras aulas de violão. Sem referências musicais dentro da família, construiu sozinho o entendimento de que queria viver da arte. Cantou em eventos escolares e nas portas de lojas da cidade até formar um repertório inicial.
A decisão de migrar para Goiás representou um marco. Sem condições financeiras, vendeu a única caixa de som que possuía para pagar a viagem. Chegou primeiro a Cristalina, onde passou a noite acordado, enfrentando frio e insegurança. No dia seguinte, partiu para Goiânia, onde encontrou uma realidade ainda mais dura. Morou em um cômodo improvisado, sem banheiro e sem móveis, dormindo sobre um colchão recolhido na rua. Alimentou-se de sobras descartadas por desconhecidos e viveu longos períodos de incerteza.
Para se manter, ocupou as funções que apareciam. Trabalhou como servente de pedreiro, vendeu água nos semáforos, comercializou lanches em bicicleta cargueira e cantou dentro de ônibus. Nos bares da vizinhança, oferecia apresentações em troca de comida. Enfrentou recusas, xingamentos, ameaças e episódios de violência. Alguns momentos quase o fizeram abandonar a cidade e retornar ao Ceará, sobretudo quando a pressão emocional ultrapassava a resistência física. Ainda assim, permaneceu. A fé, mencionada por ele ao longo da entrevista, funcionou como estrutura psicológica para atravessar esse período.
Uma fase particularmente insistente de sua trajetória envolveu a tentativa de se aproximar de artistas já estabelecidos. Durante meses, foi diariamente ao escritório de Gusttavo Lima para tentar entregar CDs e cantar na porta. Conseguiu encontrar o cantor em uma ocasião, mas compreendeu que a visibilidade não viria daquele gesto isolado. A experiência, no entanto, contribuiu para fortalecer a disposição que depois marcaria seus vídeos.
A mudança definitiva ocorreu quando estava prestes a desistir. Incentivado por um amigo, passou a produzir conteúdos simples e espontâneos. Assim surgiram os registros nas escadas rolantes e o vídeo em que finge amarrar o sapato antes de começar a cantar. A dinâmica direta, sem preparação elaborada, atraiu o público. As reações naturais dos passantes geraram identificação e transformaram a presença digital do artista. Para Juciel, a conexão criada nesses encontros é mais significativa do que qualquer aproximação com celebridades, porque revela a origem e a trajetória sem filtros.
Ao longo do episódio, o cantor reafirmou a importância do público e a responsabilidade de quem se torna reconhecido após anos de instabilidade. Lembrou com precisão dos momentos em que dependia de desconhecidos para se alimentar e afirmou que jamais recusará um pedido de foto. Segundo ele, a autenticidade sustenta a relação que construiu nas redes e preserva a coerência com o caminho que percorreu.
A participação no Manda Vê reconstrói a imagem de um artista moldado pela experiência concreta das ruas, pelos deslocamentos entre cidades e por um ciclo de resistência que se tornou fundamento de sua identidade. O jovem que cantava nas feiras do Ceará e caminhava por Goiânia sem ter onde dormir agora ocupa um espaço próprio na cena digital, sustentado por uma história que se refaz em cada vídeo e em cada música.
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