Motta tira cassação de Ramagem do plenário e entrega decisão à Mesa da Câmara
Presidente da Câmara dos Deputados muda estratégia após decisão do STF, tenta baixar tensão institucional e surpreende o PL
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), decidiu retirar do plenário a análise do pedido de perda de mandato do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento na trama golpista. A definição sobre a cassação ficará a cargo da Mesa Diretora da Casa, em linha com o procedimento adotado pelo Supremo no caso da ex-deputada Carla Zambelli (PL-SP), cuja votação foi anulada pela Corte.
A mudança de rota foi comunicada por Motta a líderes aliados após o STF intervir no processo que envolveu Zambelli. Segundo interlocutores do presidente da Câmara, a decisão busca reduzir o nível de tensão institucional entre o Legislativo e o Judiciário, que se intensificou nas últimas semanas, tanto pelo embate em torno das cassações quanto pela operação da Polícia Federal que atingiu uma ex-assessora do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).
Com o novo encaminhamento, caberá à Mesa Diretora deliberar, nos próximos dias, não apenas sobre a situação de Ramagem, mas também sobre o mandato de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que já ultrapassou o limite regimental de faltas em sessões plenárias, o que pode resultar na perda automática do cargo.
Alexandre Ramagem encontra-se atualmente nos Estados Unidos. Após a condenação no âmbito da investigação sobre a tentativa de golpe, o parlamentar deixou o Brasil e passou a residir fora do país. Inicialmente em Miami, ele teria se mudado posteriormente para Orlando, segundo apuração da coluna.
Reação no PL
A decisão do presidente da Câmara causou surpresa na bancada do PL. O líder do partido na Casa, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), afirmou não ter sido informado previamente sobre a mudança de procedimento. De acordo com ele, houve conversa recente com Hugo Motta, na segunda-feira (15), mas o tema não foi tratado.
Embora tenha dito não se surpreender totalmente com a postura do presidente da Câmara, Sóstenes reconheceu o desconforto entre os parlamentares do partido. Internamente, dirigentes do PL avaliam que houve quebra de um acordo político, lembrando que Motta chegou a publicar nas redes sociais que a cassação de Ramagem seria submetida ao plenário na quarta-feira (17).
Para lideranças do PL, a transferência da decisão para a Mesa Diretora altera o cenário político do caso e reduz a capacidade de articulação da bancada bolsonarista, que apostava no voto aberto em plenário como estratégia de enfrentamento ao STF.