Arruda retorna ao centro do jogo político e PSD afirma que “ele é o mais bem preparado para o GDF”
Com o respaldo de Gilberto Kassab, o ex-governador filia-se ao PSD e aposta na experiência de gestão, no enfrentamento direto do debate público e na retomada de políticas que marcaram administrações anteriores
Com clima de campanha e apoio de lideranças nacionais, o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda oficializou sua filiação ao Partido Social Democrático (PSD) e lançou publicamente sua pré-candidatura ao Governo do Distrito Federal (GDF), na noite de segunda-feira (15), durante um evento político realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
A filiação, conduzida por Gilberto Kassab, marca o retorno de Arruda ao cenário político após mais de uma década e aposta em um discurso de reconstrução administrativa, resgate de políticas públicas e enfrentamento direto ao atual governo do DF. O movimento consolida o PSD como força de oposição ao grupo político liderado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) e pela vice-governadora Celina Leão (PP), reposicionando o tabuleiro eleitoral da capital para 2026.
A filiação de Arruda foi anunciada como estratégica pelo comando nacional do partido, que aposta no retorno do ex-governador ao cenário político após mais de uma década afastado.

À frente do evento, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, afirmou que a decisão foi fruto de diálogo interno e articulação política no Distrito Federal. Segundo ele, a filiação contou com o aval do presidente regional da sigla, Paulo Octávio, que defendeu a incorporação de Arruda ao projeto partidário. Kassab classificou o ex-governador como um dos quadros mais experientes da política nacional e destacou seu conhecimento sobre os desafios administrativos de Brasília. “Indiscutivelmente aquele que melhor conhece os desafios que Brasília tem pela frente, é esse querido amigo que está aqui do meu lado, o nosso Arruda”, disse Kassab durante discurso.
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O dirigente também fez acenos a lideranças do campo conservador presentes no evento, como o senador Izalci Lucas (PL-DF) e o deputado federal Alberto Fraga (PL-DF), reforçando o esforço do PSD para ampliar seu arco de alianças no DF. Para Kassab, a legenda inicia um novo ciclo com foco direto na disputa pelo comando do governo local.
Em seu discurso, Arruda agradeceu o apoio do comando nacional do partido e afirmou que sua volta à vida pública representa um projeto coletivo de reconstrução da capital. O ex-governador destacou a lealdade de aliados que permaneceram ao seu lado ao longo dos últimos 15 anos e adotou um tom de mobilização ao convocar apoiadores para a caminhada eleitoral.
Parlamentares presentes também utilizaram a tribuna para criticar a atual gestão do Distrito Federal. O senador Izalci Lucas afirmou que Brasília precisa “recuperar o rumo” e defendeu investimentos em educação integral e ampliação da rede de creches. Já o deputado Alberto Fraga elogiou o histórico administrativo de Arruda e declarou apoio à pré-candidatura, afirmando esperar que a disputa se concentre no voto popular.
O evento reuniu representantes de diferentes partidos. O ex-senador Gim Argello (Avante) declarou apoio ao projeto político do PSD, assim como lideranças do PSB. A senadora Liziane Gama (PSD-MA) participou do ato e afirmou que a bancada do partido no Congresso está alinhada à pré-candidatura no Distrito Federal.
Durante a cerimônia, Arruda afirmou que a disputa eleitoral será dura, diante da força política e administrativa do atual governo. Ainda assim, defendeu a necessidade de enfrentar o debate público e resgatar um projeto de cidade inspirado em administrações passadas. O ex-governador prometeu a retomada de políticas sociais associadas às gestões de Joaquim Roriz e reafirmou o compromisso com planejamento estratégico e eficiência administrativa.
Nos bastidores, o movimento do PSD ocorre em um cenário de rearranjo político no DF. O governador Ibaneis Rocha tem sinalizado apoio à vice Celina Leão como sucessora e articula sua própria candidatura ao Senado, com respaldo de setores do bolsonarismo. O PL, por sua vez, deve apostar na ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), para ocupar a primeira vaga em aberto na disputa para o Senado. Já a segunda posição tende a ser ocupada pela deputada federal Bia Kicis (PL-DF), que teve a pré-candidatura anunciada em um evento com a presença de Michelle.
Em entrevista ao Jornal O Hoje, Arruda afirmou defender um programa de governo focado na recuperação da saúde pública, reestruturação da educação, ampliação do metrô e retomada de programas sociais. O ex-governador critica privatizações realizadas pela atual gestão e garantiu que pretende construir uma ampla frente política sem “entreguismo” e com foco na eficiência administrativa.
Para Arruda, a principal credencial de sua pré-candidatura é o legado de obras e políticas públicas executadas durante sua passagem pelo governo. A aposta do PSD é transformar essa narrativa em capital político e consolidar uma alternativa competitiva ao grupo que hoje comanda o Distrito Federal.
Leia a entrevista com Arruda na íntegra abaixo:
O que motivou sua filiação ao PSD neste momento político e por que o partido foi escolhido como o espaço ideal para o seu projeto ao Governo do DF?
Precisamos afastar o DF deste governo que está gerando um desgaste enorme para a Brasília. É um governo que é entreguista, vendeu a CEB, vendeu a rodoviária, agora quer vender o Centro Administrativo e botou o BRD na maior crise da sua história. Então, o PSD não pode compactuar com isso.
O apoio público de Gilberto Kassab foi apresentado como estratégico para 2026. De que forma esse respaldo nacional se traduz, na prática, em força política e alianças para a campanha no Distrito Federal?
Eu acho que a mensagem central do PSD é uma mensagem de esperança e de resgate de Brasília. Para Brasília voltar a ser uma cidade limpa, arrumada, organizada, segura e que seja modelo de convivência urbana para as outras cidades do Brasil.
O apoio do PSD sinaliza unidade partidária, mas o DF tem um cenário político fragmentado. Como o senhor pretende construir alianças sem comprometer a identidade do seu projeto de governo?
Esse é um desafio mesmo. É fazer alianças políticas e de governabilidade sem o entreguismo que tem hoje. Sem deixar a politicagem invadir a porta dos quartéis, invadir a porta dos hospitais. Porque quando a politicagem entra, a eficiência sai pela outra porta. E é dessa forma que eu quero construir as alianças, fazendo uma grande frente a favor de Brasília, com um governo eficiente.
Como o senhor responde às críticas e ao histórico político que ainda geram resistência em parte do eleitorado? De que forma pretende reconstruir confiança e ampliar diálogo com a população?
A melhor maneira é enfrentando o debate, botar a cara a tapa e explicar tudo o que aconteceu comigo. Aliás, o que aconteceu comigo, se comparado a essa maluquice do atual governo com o Banco Master, virou juizado de pequenas causas, né? É terrível isso. Então, não há outra maneira a não ser enfrentando o debate de forma respeitosa, mas sem fugir da raia.
Saúde, educação e infraestrutura foram áreas citadas por Kassab como avanços de sua gestão passada. O que pode ser retomado, atualizado ou corrigido nesses setores diante da realidade atual do DF?
Eu acho que a principal marca é o trabalho que eu já fiz. Se em três anos eu fiz 2.300 obras. O último hospital da cidade foi o que eu construí em Santa Maria. A última linha de metrô foi eu que construí em Ceilândia. As últimas vilas olímpicas fui eu que construí. Então é voltar à Brasília que nós tínhamos no governo do Roriz e no meu governo.
O DF hoje enfrenta problemas estruturais distintos dos de outras épocas. Quais são, na sua avaliação, as três prioridades absolutas de um eventual novo governo Arruda?
A primeira prioridade é a saúde. As pessoas estão sofrendo muito, não tem médicos, não tem remédio. Tem pessoas há dois, três anos em fila de cirurgia. Nunca a saúde de Brasília foi tão precária e tão dramática. A segunda prioridade é a educação. Hoje tem mais professor temporário do que professor concursado na rede pública. As escolas estão depredadas e a nossa educação pública, que já foi modelo, está ficando em último lugar no país. Precisa recuperá-la. E, em terceiro lugar, construir novas linhas de metrô. Tem 15 anos que eu saí e não fizeram mais nada de metrô. É preciso fazer as novas linhas já projetadas.
Durante o evento, sua experiência administrativa foi destacada como um diferencial. Quais aprendizados da sua gestão anterior o senhor considera decisivos para enfrentar os desafios atuais da capital?
A situação está tão ruim que o próprio governo reconhece que virou bagunça e botou um delegado para diretor do IGES, ou seja, o IGES virou um caso de polícia. É terrível o que está acontecendo, eu nunca vi tanto desmando, tanta desorganização. Nós precisamos voltar com uma saúde pública eficiente. Eu quero voltar também com os programas sociais que davam certo, o Sexta Verde, o Mãezinha Brasiliense, a Bolsa Universitária, e quero voltar a ter um planejamento estratégico para Brasília. Não é só fazer viaduto, que é a menor distância entre dois engarrafamentos, e essas obras intermináveis. O atual governo está demorando mais para fazer o viaduto do Sudoeste do que o Juscelino demorou para construir Brasília, isso é um desastre.
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