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quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
OPINIÃO

A verdade sobre as contas públicas: os débitos caíram 70% desde 2018

Secretário de Economia explica os déficits para quem não entende, mas não disse os detalhes: seu chefe é tão muquirana que faz questão até de mudar de banco para economizar, além de aderir a programas de recuperação e destinar à previdência alguns bilhões com que poderia estar construindo obras 

Nilson Gomespor Nilson Gomes em 18 de dezembro de 2025
contas públicas
Alguns estão fazendo carnaval antecipado após o secretário da Economia, Sérvulo Nogueira, praticar um sincericídio na Assembleia Legislativa Foto: Will Rosa/ Alego

Alguns estão fazendo carnaval antecipado após o secretário da Economia, Sérvulo Nogueira, praticar um sincericídio na Assembleia Legislativa, no início do mês passado. Talvez achando que falasse para quem entende de número, confessou estar apreensivo com o saldo entre despesa e receita, daí recomendar “vigilância” e “cautela”.

Quem ali sabe de balanço se omite e quem se considera no chamado lugar de fala é como a Ofélia do Chico Anysio, só abre a boca quando tem certeza de que vai sair bobagem. A oposição está no nível dos governistas quando o assunto são as contas públicas, ou seja, sabe também exatamente nada de tudo, mas catou os cortes da exposição de Sérvulo e há quase um mês os divulga às cegas.

Se não entendeu em siglas, o Gondo ilustra

Faltou a Sérvulo levar à Alego o artista Takeshi Gondo, que faz as excelentes charges e ilustrações na capa e na coluna Xadrez de O HOJE. Se não desenhar, aquela gente não entende. Não leem nem boletim de urna, vão saber de orçamento, de DL, DCL, RCL, IML, PL, LP? Se tivessem se atentado à edição da Folha de S.Paulo de 27 de outubro de 2020 estariam até agora monetizando um dado interessante: quando Ronaldo Caiado assumiu o mandato de governador, em 1º de janeiro de 2019, o déficit nas contas de Goiás eram de R$ 5,8 bilhões, somando-se os R$ 4,2 bilhões de déficit com R$ 1,6 bilhão da folha não quitada de dezembro de 2018, mais outras dívidas salariais com os servidores. 

Sérvulo abriu o coração e os dados: o déficit primário fechou agosto em R$ 2,46 bilhões, “culpa” dos investimentos do governo em servidores e na Saúde. Quem celebra esses números como se fossem trunfos de adversários de Caiado são os mesmos que incitam o pessoal ativo e inativo para reivindicar aumentos. Lembra dos R$ 5,8 bilhões de déficit herdados pela atual gestão? Segundo os cálculos da Universidade Federal de Minas Gerais, “R$ 5.800.000.000,00 em dezembro de 2018 equivalem a R$ 8.930.358.600,00 na data atual”. Os R$ 4,2 bilhões de déficit seriam agora R$ 6.466.811.400,00. 

Se não entendeu em números, o Gondo desenha

Se eram 8 bilhões e 930 milhões ou 6 bilhões e 466 milhões de déficit e o secretário falou em déficit primário de 2 bilhões e 460 milhões até agosto passado, vamos facilitar a compreensão para uma média de queda de 70% nas dívidas. Entendeu? Gondo precisa desenhar em cores para todos nós.

Caiado passou a pagar os precatórios com rapidez – quer dizer, 2 anos nesse ramo são para governo considerado Verstappen –, o que faz sobrar mais dinheiro no bolso do servidor, sobretudo o aposentado. Economizou quase R$ 1 bilhão ao trocar os índices dos contratos. Em 2021, vendeu a Celg Transmissão por R$ 2 bilhões e, em vez de guardar o dinheiro para fazer obras pré-eleitorais, passou tudo para o caixa da Previdência, que é uma bomba vinda dos anos 1970.

3 palavrinhas mágicas: vigilância, cautela e preocupação

O próximo governador de Goiás será Daniel Vilela, ao menos de abril a dezembro, e deve seguir a cartilha de Caiado. O seguinte, de 2027 a 2030, pode ser Daniel ou um de seus adversários, Marconi Perillo (PSDB), Wilder Morais (PL) ou alguém da esquerda. Não importa. Qualquer que seja, vai ter menos problema se seguir as duas palavrinhas mágicas de Sérvulo, vigilância e cautela, notadamente com a previdência. O servidor passa para a inatividade contando que terá uma velhice pelo menos com seu dinheirinho assegurado.

Gestos como o de Caiado no caso da Celg-T são simplesmente inéditos, mas precisa virar regra. Sobrou dinheiro? Joga no futuro de quem fez o Goiás do presente e do passado, pois o servidor não é culpado das más negociações feitas com sua contribuição. Quantos estão preocupados com isso? Menos do que os da audiência presencial de Sérvulo na Assembleia no início de novembro. 

A inteligência artificial e a dança dos números

Acompanhe mais essa dança de números, no caso, entre a dívida consolidada (DC) e a dívida consolidada líquida (DCL): em 2018, DC de R$ 19.634.872.554, DCL de 19.634.872.554. Em 2019, DC 20.670.271.654, DCL 19.245.475.967. Em 2020, DC 22.665.700.875, DCL 19.062.051.831. Em 2021, DC 23.030.006.669, DCL 14.467.794.173. Em 2022, DC 24.564.332.569, DCL 12.098.544.318. Em 2023, DC 25.733.807.908, DCL 11.329.627.043. Em 2024, DC 27.554.723.570, DCL 10.284.487.938.

E o que isso tem a ver? Observe que os governantes anteriores entregaram a monstruosa dívida consolidada pau a pau com a líquida. Com Marconi Perillo, outra DCL, a despesa corrente líquida, passou de 92% da RCL, a receita corrente líquida. Atualmente, está em 65,7%, após o saldo fechar 2024 com R$ 15 bilhões, uma fábula se comparado a sete anos atrás.

Até a inteligência artificial é menos burra que os intérpretes dos números divulgados por Sérvulo (esses aí de cima são do Portal de Transparência do governo). Veja como a IA do Google explica DC e DCL:

“A principal diferença é que a Dívida Consolidada (DC) é o total das obrigações financeiras de longo prazo do governo (empréstimos, títulos), enquanto a Dívida Consolidada Líquida (DCL) é essa mesma dívida menos os ativos financeiros do governo, como caixa, aplicações financeiras e outros haveres, mostrando o verdadeiro peso da dívida, um indicador chave de saúde fiscal para limites de endividamento, como os da Receita Corrente Líquida (RCL)”.

Até o fato de ser absurdamente pão-duro tem ajudado o governador a ajudar o contribuinte: economizou quase R$ 900 milhões somente com a mudança do Banco do Brasil para o Banco Mundial. A recém-aprovada adesão ao Programa de Recuperação Fiscal vai reduzir o serviço da dívida de R$ 2,5 bilhões por ano para R$ 1,4 bilhão. 

 

 

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