Instabilidade afeta safra 2025/2026 e coloca Goiás sob alerta
Mesmo com crescimento de 16,8% do PIB agropecuário em 2025, atraso na safra da soja, risco climático e queda na rentabilidade levam a Faeg a projetar um cenário de cautela para os produtores goianos em 2026
O ano de 2025 foi classificado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) como um período de instabilidade, marcado por um crescimento robusto do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário de 16,8%, mas que encerra o ciclo com sérios desafios que comprometem o desempenho da safra 2025/2026.
A alta produtividade de grãos registrada (37 milhões de toneladas, com soja e milho subindo 20% e 12%, respectivamente) não se reverteu em renda expressiva devido aos custos elevados.
Agora, a principal preocupação é o clima adverso, que levou a um atraso crucial na semeadura da soja, impactando diretamente a capacidade produtiva do Estado para 2026. A Faeg projeta para 2026 um cenário de atenção, onde os produtores rurais são aconselhados a operar com extrema cautela, dada a menor rentabilidade esperada.
O principal fator de insegurança imediato que se arrastou até dezembro de 2025 foi o atraso significativo no plantio da soja, a cultura mais vital para a economia goiana. Segundo o Boletim da Safra de Grãos da Conab, a irregularidade das chuvas ao longo de outubro comprometeu a semeadura. Até 15 de novembro de 2025, apenas 65% da área havia sido semeada, um percentual inferior aos 80% observados no mesmo período da safra anterior.
Atraso na safra
Este atraso reduziu a implantação da cultura em quase uma semana em relação à safra passada, e em cerca de duas semanas em relação à média histórica. A interrupção das precipitações não apenas comprometeu a emergência e o desenvolvimento inicial das lavouras, causando baixa uniformidade, como também gerou relatos de tombamento de plantas devido ao calor intenso e a necessidade de replantios pontuais.
A região Sudoeste de Goiás, tipicamente a mais adiantada, viu produtores intensificarem a semeadura, arriscando profundidades maiores para aproveitar a umidade residual, evidenciando o risco climático que marcou o início do ciclo.
O impacto mais grave do atraso da soja é a redução da janela ideal para o plantio da segunda safra de milho (safrinha), que fica mais exposta a períodos de estiagem no final do ciclo de chuvas. As projeções de produtividade para a safra 2025/2026 indicam uma queda generalizada em Goiás.
A nível nacional, o segundo prognóstico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a safra de 2026 prevê uma queda geral de 3,0% no total de cereais, leguminosas e oleaginosas (335,7 milhões de toneladas) em comparação com o volume recorde de 2025. Essa queda é atribuída ao fato de que as condições climáticas excepcionalmente favoráveis de 2025 não devem se repetir. A queda mais acentuada no panorama nacional é justamente no milho 2ª safra, que deve declinar 9,7%.
Em Goiás, a área plantada total na safra 2025/2026 deve, contudo, crescer 4,2%, atingindo 7,91 milhões de hectares. Apesar disso, o Estado, que é o terceiro maior produtor nacional de grãos (com 11,2% de participação total), terá uma queda na área a ser colhida de -0,4%.
A menor produtividade projetada em 2026 agrava o cenário financeiro já tensionado. As margens de lucro dos produtores goianos permanecem sob pressão do encarecimento dos insumos, e a rentabilidade da soja para a safra 2025/2026 indica que o produtor precisará de 53 sacas por hectare para pagar o custo (em terra própria), um aumento em relação às 50 sacas necessárias na safra 2024/2025. O custo operacional para a soja na safra 2025/2026 é estimado em R$ 6.001,14/ha.
O endividamento rural atingiu patamares críticos. A inadimplência na carteira de crédito rural com recursos direcionados superou 11% em outubro de 2025, e as aplicações de recursos de crédito recuaram drasticamente na safra 2025/2026.
Além disso, Goiás é um dos Estados com maior número de pedidos de Recuperação Judicial (RJ) no setor. Os fatores internos de atenção para 2026 incluem a taxa de juros elevada (Selic a 15% em 2025), o alto custo de produção, e as condições climáticas irregulares.
O prognóstico climático para 2026 aponta para o fenômeno La Niña ativo no final de 2025, com chance de persistir no início de 2026, o que aumenta o risco de secas ou irregularidade de chuvas. O clima, que foi “muito favorável” em 2024/2025, agora se apresenta como um fator de dificuldade climática.
A combinação de plantio atrasado, produtividade em queda e margens espremidas coloca a próxima safra sob uma lente de vigilância rigorosa. O setor precisa de adaptação e inovação para mitigar os impactos, buscando o apoio técnico e institucional em meio à persistência das adversidades.
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