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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025
Gestão de resíduos

Medidas emergenciais impostas ao Aterro Ouro Verde reacendem debate sobre lixões em Goiás

Decisão determina ações imediatas após novos deslizamentos no aterro em Padre Bernardo em meio a impasses sobre licenciamento, responsabilidades ambientais e a política estadual de resíduos sólidos em Goiás

Letícia Leitepor Letícia Leite em 19 de dezembro de 2025
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O magistrado determinou que o Estado de Goiás, por meio da Semad, apresente, no prazo de três dias, um Plano Emergencial de Contingência. Foto: Reprodução/Governo de Goiás

A Justiça Federal determinou a adoção imediata de medidas emergenciais no Aterro Sanitário Ouro Verde, localizado em Padre Bernardo, após acolher pedido de tutela de urgência apresentado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) e pelo Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO). 

A decisão foi proferida na quarta-feira (17) pela Vara Federal de Luziânia e tem como base a gravidade da situação ambiental registrada no local, agravada por novos deslizamentos ocorridos no mês de novembro.

Os episódios provocaram o lançamento de resíduos sólidos e chorume no Córrego Santa Bárbara, afluente da Bacia do Descoberto, responsável pelo abastecimento de água do Distrito Federal e de municípios do Entorno. Relatórios técnicos anexados aos autos apontam risco iminente de ruptura das lagoas de chorume, especialmente durante o período chuvoso, o que poderia comprometer o fornecimento de água para milhões de pessoas.

Na decisão, o magistrado determinou que o Estado de Goiás, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), apresente, no prazo de três dias, um Plano Emergencial de Contingência. O documento deverá conter diagnóstico atualizado da área, mapeamento de riscos, estratégias para prevenir novos deslizamentos e evitar o colapso das lagoas de chorume, além de um cronograma detalhado de ações.

A Justiça também ordenou a execução imediata de reforço geotécnico emergencial nas lagoas e a comunicação formal à Defesa Civil Estadual e Nacional, para garantir monitoramento permanente da área. Diante de indícios de esvaziamento patrimonial, o juiz ainda determinou a intimação dos sócios do Aterro Ouro Verde sobre o pedido de desconsideração da personalidade jurídica da empresa.

Em nota, a Semad contestou a possibilidade de o Estado custear a mitigação dos danos ambientais. Segundo a secretaria, não é correto utilizar recursos do Tesouro Estadual para solucionar problemas causados por uma empresa privada. A pasta sustenta que a responsabilidade pelos danos decorrentes do deslizamento ocorrido em 18 de junho de 2025 é da própria empresa, que, segundo a Semad, vem cumprindo o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) firmado em julho, apesar das dificuldades impostas pelo período chuvoso.

A secretaria também afirmou que esteve presente no local desde o dia seguinte ao acidente, acompanhando ações como a estabilização do maciço de lixo e o monitoramento da qualidade da água do Córrego Santa Bárbara. A Semad destacou ainda que, quando propôs um TAC emergencial à empresa, o Ministério Público optou por não assiná-lo. 

Por fim, a pasta questionou decisões judiciais anteriores que permitiram a continuidade da operação do empreendimento ao longo dos anos e informou que o Estado vai recorrer da decisão.

Gestão de resíduos de aterros e lixões em Goiás expõe avanços e impasses estruturais

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Foto: Divulgação/Semad

O caso de Padre Bernardo ocorre em meio a um cenário mais amplo e complexo da gestão de resíduos sólidos em Goiás. Um levantamento feito pela Semad no último mês, aponta que 125 municípios goianos já realizam a destinação ambientalmente adequada de resíduos sólidos urbanos, o equivalente a 72% de todo o lixo gerado no Estado, com o envio de quase 5 mil toneladas por dia para aterros sanitários licenciados, aterros temporários de pequeno porte ou, em situações específicas, sob amparo de decisões judiciais.

Apesar do avanço, a secretaria ressalta que a destinação correta não se confunde com o encerramento definitivo dos lixões. Até o início de novembro, foram emitidas 83 licenças de encerramento, enquanto 91 municípios ainda têm processos em análise e 64 permanecem irregulares por não terem sequer solicitado o licenciamento. 

Goiânia, que gera cerca de 1,4 mil toneladas de resíduos por dia, integra a estatística por operar com base em decisão judicial, apesar de o aterro municipal não possuir licença ambiental de operação.

A Capital, inclusive, tornou-se um novo foco de controvérsia nesta semana. Após um ano de disputa judicial pelo direito ao autolicenciamento do lixão, a prefeitura solicitou apoio emergencial da Semad para capacitar servidores municipais na área de licenciamento ambiental de aterros sanitários. O pedido ocorreu poucas semanas depois de decisão da 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Goiás reconhecer a competência do município para realizar o licenciamento, entendimento contestado pelo Estado.

Relatório técnico emitido pela Semad em julho, apontam falhas estruturais graves no aterro de Goiânia, como risco de contaminação do solo e das águas por chorume, ausência de sistema adequado de captação de biogás e possibilidade de incêndios e explosões. A avaliação técnica indica que a recuperação do local é inviável nas condições atuais, sendo necessário o encerramento do maciço e a migração para um sistema regionalizado de destinação.

Enquanto decisões judiciais impõem medidas emergenciais, como no caso do Aterro Ouro Verde, especialistas alertam que o desafio vai além do fechamento de lixões: envolve a definição de responsabilidades, a proteção dos recursos hídricos e a construção de um modelo sustentável de gestão de resíduos em Goiás.

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