Entre ceias prolongadas, brindes sucessivos e encontros que atravessam a madrugada, o fim de ano costuma suspender regras básicas do cotidiano — inclusive aquelas relacionadas ao cuidado com o corpo. No centro desse comportamento está o aumento do consumo de bebidas alcoólicas e refrigerantes, prática naturalizada nas confraternizações, mas que pode impor uma sobrecarga significativa ao sistema renal.

Responsáveis por filtrar toxinas, regular o equilíbrio hídrico e manter níveis adequados de minerais no organismo, os rins funcionam de maneira contínua e são particularmente sensíveis à desidratação e ao excesso de substâncias agressivas. Em períodos de celebração, a combinação entre álcool, açúcar e baixa ingestão de água cria um ambiente propício a danos progressivos.

A sobrecarga sobre a saúde dos rins

Segundo o urologista Dr. Wagner Kono, “o excesso de substâncias agressivas ao organismo, somado à desidratação comum em festas, faz com que os rins sejam obrigados a trabalhar em esforço contínuo para compensar os danos”. Para ele, “essa sobrecarga frequente aumenta a chance de lesões renais, problemas na filtragem de toxinas e compromete a função desses órgãos no longo prazo”.

Do ponto de vista clínico, a saúde dos rins tende a ser impactada não apenas por episódios isolados de exagero, mas pela repetição anual desses padrões de consumo, frequentemente minimizados por ocorrerem em contextos festivos.

Evidências científicas reforçam o alerta

Estudos sustentam a preocupação. Episódios de consumo excessivo de álcool, sobretudo concentrados em curto espaço de tempo, podem desencadear quadros de lesão renal aguda, caracterizados pela queda abrupta da função dos rins. A repetição desse comportamento também está associada ao desenvolvimento de doença renal crônica, além de agravar quadros de hipertensão e alterações no controle de líquidos do corpo.

Nesse cenário, preservar a saúde dos rins passa a depender menos de intervenções complexas e mais de escolhas cotidianas, especialmente em períodos de maior permissividade alimentar.

Refrigerantes também entram na conta

Os refrigerantes, muitas vezes vistos como alternativa menos nociva, também representam riscos relevantes. Bebidas açucaradas e gaseificadas concentram altos níveis de açúcar e aditivos como o ácido fosfórico, que impõem carga metabólica adicional ao sistema renal. Uma pesquisa que acompanhou mais de três mil pessoas por cerca de oito anos apontou que consumidores frequentes dessas bebidas apresentaram 61% mais chance de desenvolver doença renal crônica.

O excesso de açúcar e aditivos interfere no equilíbrio de minerais e na acidez da urina, fatores diretamente relacionados à formação de cálculos renais e ao comprometimento gradual da saúde dos rins.

Para o especialista, o problema está menos nos dias isolados de celebração e mais na repetição do padrão ao longo dos anos. “Não se trata apenas de alguns dias de festa: a repetição dessa frequência eleva o risco de comprometer a função renal de forma permanente”, alerta o Dr. Wagner Kono.

A recomendação não é abstinência, mas moderação. Alternar bebidas alcoólicas com água, reduzir o consumo de refrigerantes e manter hidratação adequada são medidas simples que ajudam a preservar a saúde dos rins. Celebrar faz parte do calendário. Ignorar os limites do corpo, não.

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