Por que as pessoas sentem mais desejo sexual durante o Natal
Estudos apontam pico de interesse por sexo nas festas de fim de ano
Apesar de ser tradicionalmente associado à família, descanso e espiritualidade, o Natal também guarda um lado menos falado: o aumento do desejo sexual. Há pelo menos 15 anos, estudos científicos observam que as festas de fim de ano costumam vir acompanhadas de maior interesse por sexo — movimento que se reflete, inclusive, no crescimento da taxa de natalidade em setembro, nove meses depois do período.
Pesquisas vêm tentando entender como o clima de celebração influencia o corpo e a mente. Os resultados não apontam regras universais, mas indicam que, para muitas pessoas, o desejo sexual tende a crescer no fim do ano. Para explicar esse comportamento, a revista feminina Marie Claire ouviu a ginecologista e especialista em sexualidade humana Thais França.
O que a ciência diz
Em 2017, pesquisadores da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Portugal, analisaram buscas por temas sexuais no Google ao longo de dez anos, em 130 países. O estudo identificou aumento expressivo dessas pesquisas durante o período natalino em países de tradição cristã, como o Brasil, e também em nações muçulmanas.

Análises feitas no X (antigo Twitter) mostraram ainda maior manifestação de sentimentos como felicidade, calma e generosidade — emoções associadas ao aumento da libido. Segundo os pesquisadores, o contexto cultural do fim do ano, marcado por ideias de afeto, conexão e proximidade, favorece esse estado emocional.
Para Thais França, mudanças simples na rotina já têm impacto direto. “Quando alteramos o ritmo do dia a dia, isso muda a forma como corpo e mente respondem — e, consequentemente, como sentimos prazer”, explica.
Menos estresse, mais desejo
De acordo com a especialista, o principal fator está na redução do estresse. “O estresse crônico aumenta o cortisol, que inibe a resposta sexual. Já períodos de descanso, como férias e recesso, melhoram o sono, o humor e a disponibilidade emocional”, afirma.
Mais tempo com a parceria, momentos de lazer, menor pressão e maior ativação dos sistemas de recompensa do cérebro também contribuem. A maior exposição ao sol, comum nessa época, ajuda a regular o sono e estimula neurotransmissores como dopamina e serotonina, ligados ao bem-estar e à motivação.
Tempo livre e diferenças de gênero
O fim do ano também traz algo raro: tempo e presença. Menos compromissos e mais convivência favorecem o toque, a conversa e a intimidade — fatores importantes para o desejo, especialmente entre mulheres, cuja sexualidade está mais ligada à segurança emocional.
Por outro lado, estudos mostram que muitas mulheres chegam ao Natal sobrecarregadas por tarefas familiares e organização das festas. Um levantamento de 2020, com dados de um aplicativo de relacionamentos, indicou queda do desejo feminino entre 21 e 24 de dezembro, com recuperação após o dia 26 e no Ano Novo, quando as obrigações diminuem.
Como lidar com esse período
Para França, o mais importante é não transformar o desejo em obrigação. “O ideal é usar o tempo livre para se reconectar com o próprio corpo e com o outro, priorizando conexão, não desempenho”, orienta.
Segundo ela, conversas sem pressa, momentos de proximidade e redução das expectativas criam um ambiente mais favorável. “Explorar o desejo não é fazer mais, é sentir mais — e respeitar o próprio tempo”, conclui.