Barras flexíveis na BR-153, em Goiás, levantam dúvidas sobre segurança na rodovia
Instalação entre Estrela do Norte e Mara Rosa busca conter ultrapassagens perigosas, mas motoristas questionam riscos em situações de emergência e eficácia da medida
Quem passa pela BR-153, entre os municípios de Estrela do Norte e Mara Rosa, no norte de Goiás, levou um susto nos últimos dias. Imagens que circulam nas redes sociais mostram barras flexíveis instaladas no meio da pista, separando as faixas de rolamento em um dos trechos mais críticos da rodovia.
A cena rapidamente viralizou, gerou comentários, críticas e elogios, e abriu uma discussão que vai muito além do asfalto, até que ponto a medida aumenta a segurança ou cria novos riscos.
A BR-153 é considerada uma das principais rodovias do País e, nesse trecho goiano, concentra histórico elevado de acidentes. A presença de pista simples, trechos com terceira faixa e a insistência em ultrapassagens proibidas tornam o local especialmente perigoso. Só no último ano, segundo relatos de motoristas e dados preliminares de ocorrências, houve aumento de acidentes com vítimas fatais, muitos deles provocados por manobras imprudentes.
De um lado do debate estão motoristas e moradores da região que defendem a instalação das barras flexíveis. Para eles, a separação física das pistas funciona como um freio às ultrapassagens arriscadas, prática comum no trecho. A avaliação é de que, ao impedir o acesso à pista contrária, a medida reduz drasticamente o risco de colisões frontais consideradas as mais graves em rodovias de pista simples.
“Tem gente que reclama, mas a verdade é que muitos não respeitam a sinalização. Com as barras flexíveis, o motorista é obrigado a reduzir a velocidade e prestar mais atenção”, comentou um condutor. Outro motorista afirmou que a mudança pode salvar vidas ao evitar acidentes frontais, especialmente em curvas e trechos com visibilidade reduzida.
Do outro lado, surgem críticas contundentes. Parte dos motoristas avalia que as barras, embora tenham proposta de segurança, podem gerar novos problemas. A principal preocupação é a dificuldade de realizar manobras de emergência. A presença constante de animais soltos na pista, objetos que caem de caminhões, recapagens de pneus e até veículos parados por pane mecânica são situações comuns na região.
“Se precisar desviar de um animal grande ou de um carro quebrado, não tem para onde ir. A rota de fuga some”, relatou um motorista. Há ainda quem questione a real flexibilidade das estruturas. Um condutor afirmou que, após uma colisão, descobriu “da pior forma” que a barra teria núcleo rígido, causando danos significativos ao veículo.
As estruturas instaladas são conhecidas tecnicamente como balizadores longitudinais ou barreiras de segurança flexíveis ou semi flexíveis. Diferentemente das barreiras rígidas de concreto, como as do tipo New Jersey, esses dispositivos são projetados para absorver parte da energia do impacto, reduzir a gravidade das colisões e redirecionar o veículo de forma controlada.
Entre as funções principais estão a prevenção de colisões frontais, a organização do fluxo e o reforço da sinalização em locais onde a geometria da via dificulta a visualização das marcas no asfalto. Existem diferentes tipos, como guard-rails metálicos, sistemas de cabos de aço e barreiras plásticas flexíveis, usadas tanto de forma permanente quanto temporária, especialmente em obras viárias.
Posição da concessionária em relação das barras flexíveis

O trecho da BR-153 é administrado pela concessionária Ecovias do Araguaia. Segundo a empresa, a instalação dos balizadores tem como objetivo garantir a segurança dos usuários da rodovia. A concessionária informou que as estruturas foram implantadas em pontos com maior incidência de ultrapassagens proibidas e seguem normas técnicas previstas no Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito.
Ainda de acordo com a Ecovias, os balizadores são colapsáveis, projetados para não causar danos estruturais graves aos veículos, e podem ser utilizados para inibir o desrespeito às marcas viárias, melhorar a visibilidade de obstáculos e organizar o tráfego. A instalação segue critérios técnicos, como espaçamento máximo de três metros entre os dispositivos e posicionamento paralelo ao fluxo veicular.
A instalação das barras no meio da pista da BR-153, entre Estrela do Norte e Mara Rosa, evidencia um dilema recorrente nas rodovias brasileiras: como equilibrar segurança, fluidez e realidade local. Enquanto alguns defendem que a medida reduz acidentes e força o respeito às regras, outros alertam que o improviso pode transformar um risco em outro.
Em um trecho marcado por acidentes e imprudência, qualquer solução precisa ser acompanhada de fiscalização, educação no trânsito e avaliação constante de seus efeitos na segurança viária.
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