Administrações bem avaliadas têm boa chance de reeleição, diz especialista
Debate sobre futuro das cidades brasileiras deve ter a polarização como pano de fundo nas eleições deste ano
Em ano de eleições municipais, pesquisas ajudam a compreender os diferentes cenários que se montam no jogo político e a prospectar o futuro da disputa na qual eleitores votarão para vereadores, prefeitos e vice-prefeitos. Os temas que vão protagonizar as campanhas dos candidatos deste pleito ainda são incertos, contudo, as tendências que seguem a vida nacional não devem passar batido no debate que ajudará a definir o futuro das cidades brasileiras.
São essas algumas das questões levantadas pelo cientista político Rodrigo Mendes acerca das eleições municipais de 2024. Para ele, as pesquisas qualitativas são interessantes para revelar, por exemplo, os sentimentos das pessoas e ajudar a antever o que vem pela frente no âmbito político. Mendes também defende que o eleitor brasilieiro está mais propenso a preferir a administração de alguém conhecido do que confiar em uma nova gestão.
“Prefeitos em mandatos bem avaliados ou até mesmo razoavelmente avaliados, têm boa chance de se reelegerem. O eleitor quer equilíbrio, não será facilmente enganado por promessas mirabolantes e grandiloquentes, até porque estamos no contexto municipal”, afirma o cientista político no ebook “Tendências: eleições municipais 2024”, que acaba de lançar de forma independente.
Por se tratar de um contexto naturalmente mais regional, cujo foco na análise dos eleitores é sobretudo a zeladoria das cidades, as eleições deste ano devem ter como tema, afinal, a capacidade de gestão de serviços públicos, que, segundo diz Mendes, é a que o cidadão consegue observar na realidade cotidiana. “Pretendentes sem experiência administrativa e com um discurso simplesmente calcado na mudança não terão vida fácil”, avalia o autor no livro. “A eleição vai pressionar os atuais gestores a darem respostas a questões que ultrapassam suas competências e capacidades.”
“Predomina na eleição municipal um localismo, um foco nos problemas locais e próximos”, diz o autor, que tem passagem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foi responsável pela campanha “Vota Brasil”. “Nacionalizar a eleição não parece um caminho muito promissor. Eventualmente nos grandes centros urbanos as questões ultrapassam as demandas relativas à zeladoria, como o buraco da rua, a luz no poste, a coleta do lixo, o remédio e o médico no posto, a vaga na escola ou na educação infantil.”
A capacidade de os prefeitos responderem aos questionamentos dos cidadãos, para o autor, deve ter implicações diretas na questão da reeleição. De acordo com o TSE, a taxa de reeleição nas eleições municipais de 2020 foi de 63%, sendo a maior desde 2004 (58%). A média, no Brasil, é de 58% calculado os índices de reeleição desde o pleito do ano 2000. Isso significa que a cada 10 prefeitos, seis provavelmente se reelegerão.
É nesse sentido que, na análise de Mendes, o registro que fica é que o eleitor parece desejar segurança no próximo pleito. “Segurança no sentido sobretudo psicológico”, afirma o cientista político na obra. “O eleitor não parece disposto a se arriscar. Tende a preferir o certo ao duvidoso. Parece preferir votar no próximo e no conhecido. Assim, se há um prefeito que está fazendo um trabalho bom ou razoável, “mesmo que sem muito brilho”, um “arroz com feijão temperadinho”, é melhor manter o que aí está trabalhando, do que “arriscar em alguém que a gente não conhece bem e a coisa correr o risco de desandar”.”
O celeuma das eleições de 2022 com a tensão entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na disputa pela Presidência da República não deve se repetir da mesma forma no cenário das eleições municipais deste ano, avalia o cientista político. “Esse conflito e seu acirramento, que muitas vezes gerou afastamentos dentro das famílias, causando traumas e estresse, já cansou”, diz na obra. “Neste sentido, a polarização ideológica, mesmo nos grandes centros urbanos, parece que não terá tanta força como outrora. O eleitor médio, desinteressado e cansado da polarização vai ser decisivo na eleição.”
Marcada para o dia 6 de outubro, as eleições municipais deste ano terão eventual segundo turno no último domingo do mês, dia 27 de outubro, nas cidades com mais de 200 mil eleitores em que o candidato mais votado à Prefeitura não tenha atingido a maioria absoluta, ou seja, metade mais um dos votos válidos (excluídos brancos e nulos), de acordo com o TSE.
Conforme mostrado pelo jornal O HOJE, em Goiás as eleições devem ter um crescimento em torno de 3%. Com isso, o número de goianos aptos a ir às urnas pode superar a marca de 5 milhões de eleitores e totalizar mais de 160 milhões no Brasil.