O vale do silêncio de Lissauer Vieira em tempos de (in)definição
Ex-deputado afirma que o tempo é de ficar calado, enquanto, no PL, articula uma chapa capaz de desmoronar projeto de sucessão de Paulo do Vale
Rio Verde tem um “dono”. E ele carrega, no cerne da história política e empresarial da cidade, o poderio que pode, sim, definir o futuro da cidade: Paulo do Vale, o atual prefeito. Cobiçado, é o antecessor dos sonhos de “qualquer um”. Mas tem gente de calibre grosso tentando o apoio do prefeito, entre eles, o do ex-deputado estadual, que presidiu a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Lissauer Vieira (PL).
Paulo do Vale, no entanto, tem deixado, como que de canto de boca, aparecer alguma intenção de lançar o atual vice-prefeito, Wellington Carrijo, do MDB. Embora haja na cidade uma birra entre Paulo do Vale e a presidente do MDB municipal, a deputada federal Marussa Boldrin, o próprio prefeito manifestou, recentemente, que União Brasil e MDB vão caminhar juntos.
Enquanto isso, Lissauer Vieira tenta formar um grupo, mais ligado ao bolsonarismo do agronegócio, para contrapor ao projeto de Paulo do Vale. Em conversa com a reportagem do jornal O Hoje na tarde da sexta-feira (19), Lissauer evitou dar detalhes das tratativas. Fugiu às questões que mais suscitam dúvidas. “Trabalho construído a passos lentos”, disse, por exemplo, acerca de como o PL tem se movimentado na cidade, sobretudo em direção à construção de uma chapa forte, capaz de ajudá-lo no processo eleitoral que se finda em outubro.
Sobre o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, ele dá de ombros para, por exemplo, acenos de Valdemar Costa Neto a Lula. “Estou firme, tentando agradar os partidos”, comentou, discretamente, seguindo o tom que tem adotado como estratégia.
Lissauer, contudo, dá uma demonstração de tranquilidade sobre como o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) vai se comportar nos palanques da disputa local. “Nossa candidatura independe”.
O ex-deputado e ex-todo-poderoso da Alego classifica como “natural” o prefeito Paulo do Vale “lançar outro candidato”. “Está com a máquina na mão”, pontuou, depois de demonstrar pequena surpresa do avanço de conversas internas de Carrijo ser, de fato, o nome à sucessão de Paulo do Vale.
Em suma, num silêncio quase sepulcral, Lissauer demonstra maturidade ao citar que a prioridade, por enquanto, é montar sua chapa. “Momento não é de falar muito”, disse ele, que ainda afirmou que não tem falado com Caiado. A afirmação não é nenhuma novidade. Embora tenha sido considerado uma peça-chave no projeto de reeleição de Caiado em 2022, houve, segundo aliados, um distanciamento do ex-deputado com o morador da Casa Verde.
Por isso, o desafio agora é contrapor a um homem que não quer deixar o osso, no caso, Paulo do Vale que, conforme escreveu o colunista da Xadrez do jornal O Hoje, Wilson Silvestre, que Paulo permite, com “sua personalidade centralizadora só permite pessoas à sua volta se forem obedientes e rezarem em sua cartilha política”. Este é um ponto favorável ao Lissauer.
Silvestre classifica o jeito de Vale como “meio feudal nas tratativas para costurar alianças”, o que, como escreveu, “acabou criando um problema para a base de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela em Rio Verde”. Afinal, o atual prefeito pretende ter o MDB em sua base, mas não aceita a deputada federal Marussa Boldrin comandar o diretório municipal e montar uma nominata de vereadores. “Paulo teme que Marussa apoie um adversário de seu grupo, mesmo a deputada sendo fiel à base caiadista”. O jeito é aguardar.