Em 4 anos, Goiânia registrou mais de 320 resgates de primatas
Em média, 130 macacos são encaminhados ao Cetas todos os anos desde 2020
A morte persegue a vida diariamente no planeta terra em uma corrida que a sempre vence no final, como disse a escritora Clarice Lispector: “perder-se também é caminho”. Para a capital de Goiás, conhecida como a mais verde do Brasil por densidade populacional, também alberga diferentes tipos e espécies de vidas selvagens, tal constatação é tão válida para o seu reino animal.
Há os seres alados da Capital como as araras-canindé, aos peixes de água-doce como o piracanjuba, que ocupam os lagos e bacias goianienses, contudo, os primatas da cidade são a visão mais exótica dos animais terrestres que vivem nos grandes parques públicos, se esgueirando entre as árvores e, de vez em quando, nos postes da cidade. Todos estes animais são monitorados pela Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), que assegura a sua segurança física e alimentar.
Este último grupo, é um dos animais da cidade que possuem as mais variadas formas de potencialmente encontrar a morte devido a sua interação não recomendada com a sociedade humana. Contudo, também podem se machucar nos acidentes de origem urbana, como nos atropelamentos, intoxicações alimentares, choques elétricos ou por ferimentos diretamente relacionados por ações das pessoas.
Com diz Leo Caetano, Analista Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), desde o ano de 2020 foram 544 primatas encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres de Goiânia (Cetas-Go). Segundo ele, a instituição atende mais de 4 mil animais todos os anos de várias áreas em torno da Região Metropolitana de Goiânia, correspondendo cerca de 3,5% de todos os tratamentos desde o ano mencionado anteriormente
O município de Goiânia é líder dos encaminhamentos com 323 bichos levados a entidades dos 544 macacos feridos desde de 2020. De acordo com Leo, todos os dados dos pacientes são coletados para mapeamento da vida animal. “Quando atendemos um bicho nós colhemos a espécie e o local de origem, o tipo de ferimento, como foi levado para nós e para onde foi encaminhado após o tratamento”, fala o analista.
Os outros municípios de Aparecida de Goiânia e Senador Canedo ficam em segundo e terceiro no ranking de casos com 59 e 22 primatas feridos, respectivamente, fala que outros 50 municípios deslocam os primatas para procedimentos veterinários. Com isso, são 133 macacos enviados ao Cetas-Go todos os anos, e destes primatas foram 83 saguis por ano em média. Contudo, somente no ano de 2023 foram mais de 140 macacos levados à instituição veterinária.
Segundo o analista, as autoridades goianienses como o Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBM-GO) são responsáveis em grande parte por levar os animais machucados para serem medicados e um dia poderem retornar aos parques com as famílias. “Desde o ano de 2020 monitoramos que mais de 323 macacos foram levados para a nossa instituição pelos bombeiros, enquanto a Amma trouxe 63 animais”.
O caso mais recente de um primata machucado e, posteriormente, levado aos Cetas foi reportado exclusivamente pelo jornal O HOJE da bebê sagui de poucos meses de vida que levou um choque da fiação elétrica pública ao procurar comida humana em uma feira de rua no Setor Serrinha. O acidente ocorreu na manhã desta terça-feira passada (23) nas proximidades da Feira da Serrinha e foi palco de um resgate civil que pode ter salvado o bicho da morte certa.
Contudo, o trajeto da vida da sagui ficou ainda mais difícil apesar de ter saído viva do acidente. De acordo com Afonso Santana, o médico veterinário que ficou a cargo de cuidar do animal, o desastre a deixou com danos cerebrais irreversíveis com indícios de anisocoria, lesão cerebral que causa pupilas de diferentes tamanhos. “Ela sofreu um traumatismo craniano encefálico, mas nós não podemos fazer uma operação complexa como uma cirurgia devido ao pequeno porte dela”.
Ainda segundo o homem de 29 anos, a macaca foi encaminhada ao Cetas nesta sexta-feira (26) após permanecer por três dias sob cuidados do Hospital Veterinário São Francisco de Assis.
Como ajudar no resgate de animais feridos
Apesar da história comovente de resgate de Dilene e da sagui, o recomendado por Caetano é que os cidadãos liguem para as autoridades para fazer o recolhimento e o encaminhamento a unidade de saúde veterinária. Os órgãos públicos são o Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBM-GO), a Polícia Ambiental da Polícia Civil e o Batalhão Ambiental da Polícia Militar.
Para os goianienses existe a alternativa do contato com a Amma para o resgate e encaminhamento de um animal silvestre ferido, contudo Leo explica que a agência opera em horários exclusivos comerciais. Contudo, os outros órgãos mencionados operam 24 horas.
Com isso, Leo explica para que o civil evite contato para que a pessoa não se machuque com o animal assustado e para que o quadro de saúde do bicho ferido não piore. “O recomendado é que o resgate de animais selvagens seja feito por autoridades competentes, especialmente se forem grandes o suficientes para ferir alguém. Mas, o Cetas não faz o transporte exceto se for um animal ameaçado como uma onça-parda, por exemplo”, explica o analista.
Porém, Caetano explica que caso o animal seja de pequeno porte e a pessoa saiba manusear o bicho existe a possibilidade do civil fazer o transporte direto para a entidade, contudo, existem riscos associados a isso. “O animal pode estar com alguma doença que ofereça algum risco à pessoa, em especial se for um morcego devido a chance de transmitir a raiva”, diz o Analista.