Deputados goianos comentam ato pró-bolsonaro na Avenida Paulista
Evento foi convocado pelo ex-presidente para que ele pudesse se defender das investigações da PF sobre um suposto golpe de Estado
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou aliados para um ato na avenida Paulista, em São Paulo, no domingo (25) para, conforme ele próprio, se defender das acusações da Polícia Federal (PF) em investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado. No local, cerca de 185 mil, segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP). Número inferior ao esperado (1 milhão), mas volumoso.
Para avaliar a manifestação, o Jornal O Hoje conversou com alguns deputados federais. Congressista pelo PT, Adriana Accorsi diz que, em um ato convocado para defender Bolsonaro de “graves acusações de crimes”, o ex-presidente “confessa a prática de golpe e reitera o teor da minuta golpista, e seu conhecimento dela, o que não teve coragem de dizer na Polícia Federal (PF)”.
Vale lembrar que, na última quinta-feira (22), Bolsonaro esteve na sede da PF, em Brasília, e ficou em silêncio. Já no domingo, o ex-chefe do Executivo, de fato, admitiu ter conhecimento da minuta de golpe encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, em janeiro de 2023. De acordo com a colunista Malu Gaspar, a PF vai usar a fala como evidência.
Disse Bolsonaro: “Agora, o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha santa paciência. Golpe usando a Constituição.” E emendou: “Deixo claro que estado de sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Isso foi feito? Não. Apesar de não ser golpe o estado de sítio, não foi convocado ninguém dos conselhos da República e da Defesa para se tramar ou para se botar no papel a proposta do decreto do estado de sítio.”
Em relação a minuta, tratava-se do rascunho de um decreto para instalar um “Estado de Defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral”. O intuito era “garantir a preservação ou o pronto restabelecimento da lisura e correção do processo eleitoral presidencial do ano de 2022”.
De volta a Adriana, ela acredita que a manifestação não altera o cenário. “Não muda nada. As eleições passaram e ele vai responder por seus crimes contra o Estado Democrático de Direito.” Ela aponta, ainda, que outras pessoas cometeram crimes no ato. “Houve orador que colocou em dúvida a questão dos atos golpistas e também a lisura dos trabalhos do Supremo Tribunal Federal (STF)”, não citou nomes.
Outras posições
O deputado Adriano do Baldy (PP) viu o ato como movimento democrático, mas confessou não entender bem a finalidade dele. Segundo o político parlamentar, ainda está processando. “Todo ato democrático é interessante.”
“Eu vi o ex-presidente falando de chapas de prefeito e vereador. Acho que mostrar força para crescer o PL. Estamos a três anos da eleição presidencial, então são as eleições municipais”, declara.
Questionado sobre as questões da PF, ele reforça não saber. Ele, contudo, se preocupa que questões políticas antecipadas possam dividir a população. “Minha preocupação é o Brasil. Então não sei se [esse tipo de ato, mesmo democrático] é justificado.”
Também do PP, José Nelto foi mais contundente. Segundo ele, a manifestação na Paulista foi uma simulação. De acordo com ele, o ato de domingo é o contrário do que Bolsonaro pregou ao longo dos quatro anos do governo dele. “Pregou o contrário.”
“Ele chegou a dizer que não teria eleições, que as urnas não eram confiáveis. Colocou confusão na cabeça do povo”, citou e reiterou: “Ameaçou não ter eleições. Isso não compete a nenhum presidente dizer.”
“Domingo foi uma simulação, um processo simulado. Não é o que Bolsonaro pensa e nem o que ele fez em quatro anos. Foi só para dar satisfação a turma dele, mais nada. Estado Democrático de Direito é tudo que ele não queria. Até porque, fez reunião no Palácio sobre golpe e minuta de golpe. Ele produziu provas contra ele mesmo.”
Já Rubens Otoni (PT) apontou que “a manifestação na Paulista, de democrática, não teve nada. Foi uma tentativa de pressionar a Justiça e assim barrar as investigações que a cada dia trazem elementos de golpismo, ataque às instituições e desprezo à democracia”.
O congressista Ismael Alexandrino (PSD), por sua vez, reconheceu a força de Bolsonaro. “Uma mobilização muito grande, mostrando que a liderança do ex-presidente na direita é real. O ato foi pacífico e ordeiro”, elogiou.
Para ele, as falas dos que se pronunciaram foram ponderadas. “O Brasil precisa pacificar, a polarização extrema não constrói nada para melhorar a vida da população. Divergências fazem parte da individualidade humana, e as diferenças precisam ser respeitadas para que a democracia se consolide.”
Redes sociais
Pelas redes sociais, o deputado federal Professor Alcides (PL) comemorou o ato. “Estive lá muito bem acompanhado pelo senador Wilder Morais, pelos colegas Gustavo Gayer e Zacharias Calil e pelo ex-deputado Major Vitor Hugo, entre outras autoridades. A força do povo é impressionante”, escreveu.
Gustavo Gayer (PL), por sua vez, afirmou: “Nós voltamos. E como voltamos.” O político bolsonarista se referiu à direita brasileira. Durante discurso, ele classificou o momento como “único no Brasil”. Segundo o parlamentar, participar do evento é colocar um “alvo nas nossas costas”. Para ele, o povo deu um recado: “Nós não vamos parar, nós não vamos desistir.”
A deputada federal Magda Mofatto (PRD), que também marcou presença no evento, publicou: “Milhões de brasileiros presentes e em todo País defendendo a liberdade.”
Convocação
A convocação do ato por Bolsonaro ocorreu logo após a Operação Veritatis, deflagrada pela PF, em 8 de janeiro contra o político e aliados. Oficialmente, o intuito do ex-presidente era se defender das acusações no âmbito da investigação – tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito que serviria para manter ele no poder.
“No último domingo de fevereiro, dia 25, às 15h, estarei na Paulista realizando um ato pacífico em defesa do nosso Estado Democrático de Direito. Peço a todos vocês que compareçam trajando verde e amarelo. E mais do que isso: não compareçam com qualquer faixa ou cartaz contra quem quer que seja. Nesse evento, eu quero me defender de todas as acusações que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses. Mais do que discurso, uma fotografia de todos vocês, porque vocês são as pessoas mais importantes desse evento, para mostramos para o Brasil e para o mundo a nossa união, as nossas preocupações e o que queremos”, dizia mensagem do ex-chefe do Executivo.