Novas espécies de peixes encontradas no sudoeste goiano podem estar em risco de extinção
Novas espécies descobertas são da família dos Rivulídeos, popularmente conhecidos como peixes-das-nuvens
Em uma cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU) no Rio de Janeiro, no ano de 1993, foi criado o Dia Mundial da Água, que é celebrado nesta sexta-feira (22). Desde essa época, a data já tinha objetivos além da conscientização sobre a preservação dos recursos hídricos para uso humano. Afinal, já era de conhecimento comum que as águas dos oceanos, rios, lagos e chuvas são fundamentais na manutenção do ecossistema.
Mesmo assim, após 30 anos de sua criação, a missão ainda não pode ser dita como concluída para boa parte do planeta. Contudo, isso não significa que seja uma causa perdida, mesmo com recordes históricos de elevação da temperatura climáticas e poluição hídrica. Como exemplo dessa luta pela preservação, pesquisadores do Instituto Federal Goiano e do Instituto Boitatá, em parceria com o ICMBio, do Ministério do Meio Ambiente (MMA),estão lutando contra o tempo para a preservação de espécies de peixes rivulídeos descobertas no sudoeste de Goiás e que estão potencialmente ameaçadas de extinção.
A iniciativa faz parte da segunda fase do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Peixes Rivulídeos Ameaçados de Extinção (PAN Rivulídeos), criada em 2013 e retomada em outubro de 2023, também é a sua primeira edição em solo goiano. O plano tem como objetivo a catalogação de novas espécies e a conservação destes seres vivos, que estão em risco pela perda do habitat. A segunda fase do programa tem previsão de se estender até o ano de 2027.
Segundo a pesquisadora e mestranda em Biodiversidade e Conservação, Silvana Barbosa, do Instituto Federal Goiano (IFG), as espécies dos peixes são do gênero Melanorivulus, integrantes da família Rivuliae, conhecidos popularmente como peixes anuais ou peixes-das-nuvens. “A maioria das espécies de rivulideos são dependentes das chuvas sazonais para o nascimento e a procriação. Mas como são pequenos e ocorrem em poucas e pequenas poças temporárias, passam despercebidos pela comunidade e podem perder o habitat pelas ações humanas”, afirma a pesquisadora.
As quatro possíveis novas espécies estão presentes nos campos alagados do sudoeste goiano. Por causa disso, são despercebidos tanto por moradores locais como os outros pesquisadores da comunidade científica. “As pessoas que vivem nesta região duvidam que possa ter vida nessas poças de água, por causa disso existe o perigo destes animais serem extintos e ninguém ficar sabendo”. E ainda esclarece que exista muitos destes seres vivos “invisíveis” no estado.
O motivo da possivel extinção, segundo ela, está relacionado com fatores humanos como a expansão do agronegócio no habitat do animal, que pode ser decorrente da falta de conhecimento deste peixe. A destruição destes campos também põe em risco a biodiversidade e o ecossistema da fauna local.
Além disso, as mudanças climáticas, provocadas pelas ações humanas, afetam o ciclo da chuva e aumentam a temperatura das poças. “Os peixes dependem de uma temperatura estável e mais a menos como encontramos em rios e lagos. Mas já fizemos coleta em que registramos temperatura de 35ºC nessas poças”.
Com isso, Silvana e os colegas pesquisadores esperam que mais informações destas novas espécies descobertas possam trazer mais conscientização sobre o seu papel na natureza e a importância da sua conservação. Enquanto isso, as novas espécies estão em fase de descrição para que possam ser devidamente catalogadas e reconhecidas como espécies próprias. Mesmo neste início dos trabalhos, já anseia que possam continuar a fornecer a sobrevivência desta peixes.