Bolsonaro vai levar “até o fim” candidaturas do PL em cidades-chave de Goiás
Ex-presidente esteve com lideranças do partido. Segundo interlocutores, conversa passou por estratégias de campanha para as eleições que se aproximam. Partido não considera recuar e, inclusive, fará dobradinha nos principais municípios do Estado
O PL não trabalha, ao menos por ora, com a possibilidade de recuo. Ainda que em alguns cenários eventuais composições pareçam interessantes ao partido, a orientação é levar “até o fim” os nomes da sigla na disputa que se aproxima. Segundo interlocutores, a conversa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com integrantes da legenda, na semana passada, passou por esses pontos.
Uma comitiva de políticos da direita foi ao encontro do ex-mandatário na capital federal para falar sobre 2024 e, claro, 2026. Em Goiânia, ainda que o projeto do PL tenha perdido força com a desistência do deputado federal Gustavo Gayer, o comentário é que o ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL), ainda que tenha dificuldade em decolar, terá respaldo para seguir firme “até o fim”.
Há, como já mostrado pelo O HOJE, um racha na sigla. Isso porque integrantes do grupo na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) acreditam que o melhor nome, ao invés de Fred, seria o do deputado Delegado Eduardo Prado. São eles: Paulo Cezar Martins, Major Araújo, e, claro, o próprio Prado. Mas isso não parece incomodar o ‘novo indicado’, que tem ao seu lado os ‘maiorais’ do partido — leia-se: Jair Bolsonaro, Gustavo Gayer e Wilder Morais, nessa ordem de importância.
De volta, porém, a conversa com Bolsonaro, foi definido também que o partido fará uma dobradinha nas eleições municipais às prefeituras de Goiânia e Aparecida de Goiânia. Os representantes do partido nas cidades, ou seja, Fred e o deputado federal Professor Alcides cumprirão agendas conjuntas.
Em Brasília, eles acertaram detalhes desse movimento. Segundo o presidente estadual da legenda, senador Wilder Morais, os projetos de ambos são tratados como prioritários para o PL nacional e contam com atenção especial de Bolsonaro. “Juntos, alinhamos importantes estratégias para o crescimento do nosso Estado e do partido que mais cresce no país”, declarou em suas redes sociais.
Bolsonaro é figura recorrente em Goiás. No último mês, ele esteve em Goiânia, Aparecida, Rio Verde e Anápolis para oficializar pré-candidaturas de postulantes do PL. Alcides, por exemplo, avalia o apoio do presidente como “fundamental” em sua pré-campanha. E justifica dizendo que sua visita em Goiás “fortalece as bases” e “dá visibilidade aos candidatos apoiados por ele”. A expectativa, segundo o postulante, é que ele “ajude muito” nas eleições que se aproximam.
Na contramão do esperado
Durante sua peregrinação pelo Estado, Bolsonaro quebrou as expectativas em Goiânia ao anunciar Fred Rodrigues como pré-candidato. No lugar dele, era esperado que o deputado federal Gustavo Gayer liderasse a chapa do PL. Ele, contudo, recuou para permanecer na Câmara.
Em discurso a apoiadores na Região da 44, no centro de Goiânia, Bolsonaro afirmou que a decisão de escalar Rodrigues no lugar de Gayer para disputar a prefeitura da capital foi fruto de um acordo e não descartou a possibilidade de o parlamentar concorrer ao cargo futuramente. “Ficará para um momento oportuno”, disse.
Ao falar de Rodrigues, o ex-presidente afirmou que a pré-candidatura dele é a “mais viável” no momento e justificou que o correligionário sofreu “uma tremenda injustiça”, sem detalhar sobre o que se referia diretamente — Fred foi cassado na Assembleia Legislativa por causa de contas da campanha de 2020, quando disputou o cargo de vereador. “Nós pretendemos levar essa pré-candidatura para frente”, afirmou Bolsonaro.
Nada disso
O PL reforça as parcerias entre os nomes ligados ao bolsonarismo Goiás afora. O intuito é que os nomes colaborem uns com os outros sempre que possível, como é o caso de Goiânia e Aparecida, por exemplo. O partido aproveita, ainda, para descartar composições ventiladas nos bastidores, como é o caso de uma possível aproximação entre Alcides e o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Solidariedade). Da mesma forma, desconsidera uma aliança entre Rodrigues e Sandro Mabel (UB), o candidato da base governista na capital.
Mayara (PL), o sonho de Mabel
Conforme mostrado pela reportagem na última semana, Mayara Mendanha soa como uma figura minimamente importante para toda e qualquer candidatura. A ideia é que Mayara representa o único nome capaz de verdadeiramente capitalizar a força do marido — Gustavo Mendanha, ex-prefeito de Aparecida de Goiânia e figura influente, como poucos, na capital. Seria ela, então, a ‘vice dos sonhos’ de Mabel: mulher, evangélica e ‘herdeira’ de um político forte em Goiânia.
No entanto, Mayara é filiada ao PL. E justamente por isso a construção dessa aliança pode ser mais difícil do que se imagina. Segundo interlocutores, são vários os motivos que justificam a tese de que o comandante do PL em Goiás, senador Wilder Morais, luta com todas as forças para impedir uma eventual composição entre o PL e a base.
O principal argumento que justifica essa resistência passa pela disputa de 2026. Parece longe, mas não é. E mais do que isso: qualquer decisão agora tende a respingar diretamente nas composições políticas para as eleições daquele ano.
Wilder é um dos nomes fortes para a briga política pelo governo de Goiás. Acontece que ele tem, ao menos por ora, como principal adversário, o vice-governador Daniel Vilela (MDB). O emedebista é o sucessor natural de Ronaldo Caiado e está diante de sua melhor oportunidade para agarrar o governo. Sendo assim, vai à luta com gosto de sangue.
Ainda no campo das possibilidades, se Mabel terminar eleito, será uma vitória, claro, para a base caiadista. Base esta que estará, além de mais forte, nas ruas em favor de Daniel em 2026. Ou seja, é mais do que claro para o dirigente do PL goiano que a dobradinha com a base hoje poderia enfraquecer seu projeto amanhã.
Fator Caiado
Outro fator curioso na cena política goiana é que o governador de Goiás, em paralelo ao bolsonarismo, mantém posição nas principais cidades goianas. Caiado articula para ser alçado à presidência da República em 2026 com o apoio do ex-presidente. No entanto, não titubeia e mantém posição firme em relação aos nomes da base na disputa de 2024. Cenário pode ser observado nos principais municípios goianos, onde o governador se opõe aos interesses do ex-presidente. É o caso, por exemplo, não apenas em Goiânia, mas também em Aparecida, Rio Verde e Anápolis.
Analistas acreditam que a posição de Caiado pode impactar uma aliança futura com o PL, em 2026. Além de querer o apoio de Jair Bolsonaro para disputar a presidência, o governador pode ter o presidente do PL em Goiás, senador Wilder Morais, como adversário de seu sucessor, Daniel Vilela, na corrida pelo Palácio das Esmeraldas.
Como a manutenção da postura vai impactar a relação de ambos em 2026 ainda não se sabe. Da mesma forma que não se sabe se Bolsonaro, de fato, apoiaria o governador. O ex-presidente já teria esboçado como preferido o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O chefe do Executivo paulista, porém, ainda está em primeiro mandato e pode seguir pelo caminho da reeleição, o que colocaria Caiado, nesse cenário e ao menos por ora, entre as melhores opções.