Comerciantes do Terminal Novo Mundo protestam contra mudança de local
Terminal passará por reforma em agosto e deve retirar comerciantes de quiosques
Há mais de cinco anos, Elcione Gomes trabalha com vendas nos terminais de Goiânia, e há três destes anos se estabeleceu em um quiosque de lanches no Terminal Novo Mundo. Devido a correria do cotianos, poucos clientes notariam a sua real situação e do seu problema de saúde que a faz ficar sentada na maior parte do tempo. O motivo disso é pela artrose nos joelhos que a faz andar arduamente pelo terminal todas as manhãs para ganhar a renda que a sustenta. Contudo, ela assim como outros 37 trabalhadores sofrem com o risco de despejo pela concessionária RedeMob. “Estou aqui porque não tenho onde trabalhar com a minha situação”.
Uma reforma do terminal prevista para o dia 17 do mês de agosto prevê o despejo de quase todos os quiosques que populam o local, outros quatro serão selecionados para poder permanecer por sorteio no local. Como oferta da concessionária pela retirada, será construído uma galeria fora do perímetro do terminal para sediar as bancas dos vendedores e transformá-lo em um centro comercial popular. Contudo, há um problema com essa oferta para os vendedores, pois, além da alta probabilidade de perda de clientes pela distância do terminal, e assim da renda, o preço do aluguel do local será triplicado para alguns comerciantes.
Segundo afirma a vendedora de joias e bijuteria do local, Maria José, tal mudança poderia quebrar financeiramente muitos vendedores e famílias que dependem do comércio local.. “Hoje pagamos uns R$ 130 e ainda querem que a gente mude de lugar para pagar R$ 800, mais luz, água, segurança e limpeza. Então querem tirar a gente daqui que quase não tem muito movimento para colocar em algum lugar fora do terminal para pagar um absurdo desse?”.
Para ela, essa questão é importante pois não é somente o seu sustento na linha de fogo, como o de familiares dela que também dependem da renda que tira todo mês das vendas. Isso, porque depois de passar por dificuldades financeiras, prometeu a si mesma ajudar os familiares e não deixá-los passar fome. Contudo outros comerciantes dependem totalmente deste trabalho. “Tem famílias inteiras trabalhando, pessoas com deficiência visual que quase não enxergam, outros que [começaram] pagar a casa própria”.
Por causa disso, ela reuniu dez colegas comerciantes nesta segunda-feira (15) para reivindicarem a permanência do local com um advogado na central da concessionária. De acordo com eles, os quiosques de lanchonetes iriam sofrer mais com essa mudanças uma vez que os clientes não iriam sair do terminal para fazer compras ou lanchar. Enquanto isso, alguns estão se preparando para o pior, como o caso da família da jovem Amanda Mizutani que possui uma barraca de lanches na entrada do terminal. “Já estamos planejando fazer uma poupança para começarmos de novo [no centro comercial], ou em outro lugar”, diz.
De acordo com a RedeMob, em nota para a imprensa, comentam que esta reforma visa uma melhor experiência do transporte público para o passageiro, e que deve revitalizar outros quatro terminais do Eixo Anhanguera. Ainda não se sabe se os comerciantes de outros terminais também serão igualmente afetados, contudo, Maria José teme o pior. “Do Eixo Anhanguera inteiro somos mais de 200 trabalhadores e mais de 300 famílias que dependem da renda. Apenas os permissionários dos terminais Praça da Bíblia e Jardim Novo Mundo somam mais de 80 trabalhadores ameaçados, sem contar Praça A, Dergo ou Padre Pelágio”.
A equipe de reportagem também conversou com comerciantes do Terminal da Praça da Bíblia que não ainda sabiam do despejo dos colegas. Contudo, a história deles também é similar aos outros como Rosimara que também depende da renda do trabalho para se sustentar. “Há alguns anos eu morava com o meu pai e tinha o suporte financeiro dele. Mas desde que ele morreu eu moro sozinha e me sustento com esse dinheiro”, diz.
Em relação ao novo espaço, a concessionária afirma, em nota à imprensa, que foi idealizado para prover estrutura e segurança para comerciantes, bem como algo que estava em diálogo desde o início do ano. Além disso, afirmam que será uma oportunidade para uma melhora da condição de trabalho e com toda documentação legal exigida. “A mudança para o novo centro comercial popular também é uma grande oportunidade para melhorar a situação dos atuais comerciantes que hoje estão em situação precária, sem estrutura física digna, instalados em quiosques de lata dentro do velho atual terminal Novo Mundo”.