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sábado, 23 de novembro de 2024
Saúde

Insônia: vilã das noites mal dormidas que afeta grande parte dos brasileiros

72% da população sofre de doenças relacionadas ao sono, entre elas a insônia, segundo estudos da Fundação Oswaldo Cruz

Postado em 20 de julho de 2024 por Ronilma Pinheiro
A insônia pode ter um impacto significativo em diversos aspectos da saúde mental | Foto: Marcello Casal Jr/ABr

Lucas Lima Marinho, um técnico judiciário de 32 anos, enfrenta um desafio que perdura há uma década: a insônia. Para ele, esse distúrbio do sono não escolhe momentos convenientes para se manifestar, podendo surgir tanto em noites que antecedem eventos importantes quanto de forma completamente aleatória.

“Às vezes, na noite anterior a algo importante, a ansiedade bate um pouco e eu já não consigo dormir direito. Durmo durante o dia e fico acordado durante a noite”, relata Lucas. “Mas pode ser também numa noite em que estou cansado, e mesmo assim não consigo dormir. Não tem motivo aparente, é algo que acontece no meu organismo e eu não tenho controle.”

Lucas tenta diferentes estratégias para lidar com o problema. “Eu já experimentei ouvir um podcast, ler um livro antes de dormir, e percebo que ajuda um pouco, mas não resolve completamente”, admite. Outra medida que adotou foi ajustar a iluminação do seu quarto, utilizando uma lâmpada que permite controlar a intensidade e a cor da luz para criar um ambiente mais propício ao sono.

“No entanto, essas são coisas que ajudam, mas não resolvem a minha situação”, lamenta Lucas. “Nunca recorri a medicamentos prescritos, embora às vezes, quando a situação fica muito complicada, recorra a algum antialérgico que pode auxiliar no sono, mas não é algo que gosto de fazer frequentemente.”

O impacto da insônia transcende o aspecto pessoal e afeta significativamente sua vida profissional. “Trabalho no fórum dando andamento em processos judiciais”, explica Lucas. “Meu trabalho requer um nível alto de concentração, e esse problema de sono interfere bastante na minha produção diária.”

Apesar das dificuldades enfrentadas, Lucas continua em busca de soluções que possam melhorar sua qualidade de sono e consequentemente sua qualidade de vida, tanto pessoal quanto profissionalmente.

Assim, como o jovem, milhões de brasileiros sofrem desse distúrbio do sono. De acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 72% dos brasileiros sofrem de doenças relacionadas ao sono, entre elas, a insônia.

Fernanda Chrispim, especialista em medicina do sono, destaca que a insônia não se resume simplesmente à dificuldade para iniciar ou manter o sono. Ela abrange uma gama de sintomas que incluem dificuldades para iniciar o sono, dificuldades para manter o sono e despertar precoce, resultando em um tempo de sono insuficiente. Para ser diagnosticada como insônia crônica, esses problemas devem persistir por mais de três meses e ocorrer pelo menos três vezes por semana, impactando significativamente a qualidade de vida.

“Quando alguém enfrenta dificuldades constantes para dormir adequadamente, isso não afeta apenas o descanso físico, mas tem repercussões profundas na sua saúde física, mental e emocional”, explica Fernanda. Estudos demonstram que distúrbios do sono estão fortemente associados ao aumento do risco de desenvolvimento de condições crônicas, como hipertensão arterial, diabetes, obesidade, depressão, ansiedade e até doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer.

A insônia pode ter um impacto significativo em diversos aspectos da saúde mental. Afeta a cognição, a capacidade de concentração, a memória e o aprendizado. Além disso, problemas emocionais como irritabilidade, ansiedade e depressão podem ser exacerbados por um sono inadequado.

Quando questionada sobre os diferentes tipos de insônia, Fernanda esclarece que ela pode ser classificada em insônia aguda e insônia crônica. A insônia aguda pode surgir em resposta a eventos estressantes ou mudanças significativas na vida de uma pessoa e geralmente é de curta duração. Por outro lado, a insônia crônica persiste por mais de três meses e pode ser subdividida em insônia de início do sono – dificuldade para adormecer inicialmente – e insônia de manutenção do sono, quando a pessoa acorda várias vezes durante a noite ou desperta muito cedo pela manhã e não consegue voltar a dormir.

Descubra como combater os vilões da noite de sono

Os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da insônia são variados. Incluem hábitos de vida inadequados, como consumo excessivo de cafeína, uso prolongado de dispositivos eletrônicos antes de dormir e falta de uma rotina regular de sono. Além disso, o estresse emocional, excesso de trabalho, preocupações financeiras e problemas de saúde física são comumente associados ao surgimento de distúrbios do sono.

“A boa higiene do sono é essencial para promover um sono saudável”, enfatiza Fernanda. Isso inclui a criação de um ambiente propício para o sono, como um quarto escuro, silencioso e com temperatura adequada. Também é crucial evitar estimulantes, como cafeína e nicotina, antes de dormir, e estabelecer uma rotina relaxante antes de se deitar.

A insônia não é exclusiva de adultos; crianças e adolescentes também podem sofrer com ela. Em crianças, a insônia comportamental frequentemente está associada à falta de uma rotina de sono consistente e à exposição prolongada a dispositivos eletrônicos antes de dormir. Já em idosos, problemas de saúde como distúrbios urinários, respiratórios e condições crônicas como artrite podem levar a despertares frequentes durante a noite.

Quanto ao tratamento da insônia, Fernanda destaca a importância de buscar ajuda especializada. “Existem abordagens eficazes além do uso de medicamentos, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) voltada para o sono”, explica. A TCC ajuda os pacientes a identificar e modificar comportamentos e pensamentos que interferem no sono, promovendo assim uma melhoria duradoura na qualidade do sono.

“É fundamental que as pessoas evitem automedicar-se com remédios para dormir, pois isso pode levar à dependência e a complicações adicionais”, alerta Fernanda. Ela enfatiza a importância de consultar um profissional de saúde para um diagnóstico correto e um plano de tratamento adequado, personalizado para cada indivíduo. 

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