Como o TDAH afeta crianças, adolescentes e adultos
Cerca de 60% das crianças e adolescentes com essa condição entrarão na vida adulta com alguns dos sintomas de desatenção e hiperatividade
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurobiológico que afeta crianças, adolescentes e adultos, caracterizado por dificuldades persistentes de atenção, impulsividade e hiperatividade. Segundo a psicóloga clínica Jeanny da Costa Alves, especialista em neuropsicologia e terapia cognitiva comportamental, o TDAH tem suas bases em causas genéticas e manifesta-se de maneira variável ao longo da vida dos indivíduos.
De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 60% das crianças e adolescentes com essa condição entrarão na vida adulta com alguns dos sintomas de desatenção e hiperatividade/impulsividade, porém em menor número.
Os primeiros indícios desse transtorno geralmente surgem na infância, frequentemente antes dos sete anos de idade, e podem persistir na adolescência e na vida adulta. Crianças com TDAH frequentemente têm dificuldades em manter a atenção em tarefas, são impulsivas e podem ser excessivamente ativas, características que podem afetar significativamente seu desempenho acadêmico e social.
“Crianças com TDAH podem ter dificuldade em esperar sua vez, mostrar impulsividade comportamental e ser facilmente distraídas por estímulos externos, como movimentos ou sons”, detalha a especialista.
“É importante notar que o TDAH não é apenas um problema de comportamento; é um transtorno neurobiológico que interfere na capacidade da pessoa de regular seu comportamento de maneira apropriada às demandas do ambiente”, explica Jeanny Alves. “Essas dificuldades podem persistir ao longo da vida adulta, impactando tanto na vida acadêmica quanto profissional e nos relacionamentos interpessoais”, acrescenta.
O TDAH pode ser classificado em três subtipos principais: com predominância hiperativa-impulsiva, com predominância desatenta e combinado. Quando os sintomas de hiperatividade e impulsividade são predominantes, denomina-se TDAH com predominância hiperativa-impulsiva. Por outro lado, quando predominam os sintomas de desatenção, é chamado de TDAH com predominância desatenta. O subtipo combinado é caracterizado pela presença significativa de sintomas de ambos os domínios.
O tratamento do TDAH geralmente envolve uma abordagem multimodal que pode incluir intervenções comportamentais, educacionais e farmacológicas, dependendo das necessidades individuais de cada paciente. Terapias comportamentais, como treinamento de habilidades sociais e estratégias de organização, podem ajudar a desenvolver habilidades adaptativas e reduzir os sintomas disruptivos.
Além disso, essa abordagem depende da gravidade dos sintomas. Em casos leves, a psicoterapia pode ser suficiente, complementada por intervenções psicopedagógicas para lidar com desafios específicos, como coordenação motora ou processamento de informações. Em casos mais severos, pode ser necessária a intervenção medicamentosa, geralmente prescrita por neurologistas, neuropediatras e psiquiatras.
“A gestão do TDAH não se resume apenas ao controle dos sintomas, mas também à promoção do bem-estar emocional e ao desenvolvimento de habilidades que possam melhorar a qualidade de vida do paciente”, destaca Jeanny Alves. “É fundamental um trabalho integrado entre profissionais de diferentes áreas para proporcionar suporte adequado e personalizado às necessidades individuais de cada pessoa com o transtorno.”
Além dos desafios acadêmicos e profissionais, o TDAH pode impactar profundamente os relacionamentos pessoais e familiares. Muitas vezes, pessoas com esse déficit enfrentam estigmas e mal-entendidos devido aos sintomas que manifestam, como impulsividade e desatenção. “Educar a família e a comunidade sobre o TDAH é crucial para promover a aceitação e o apoio necessários para indivíduos afetados”, comenta.
“A compreensão do TDAH como um transtorno complexo e multifacetado é essencial para oferecer um suporte eficaz e empático às pessoas que convivem com essa condição”, ressalta Jeanny Alves. “Com o tratamento adequado e o suporte contínuo, muitos indivíduos podem aprender a gerenciar seus sintomas e alcançar seu potencial máximo em diferentes áreas de suas vidas.”
A psicóloga reitera que o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade é uma condição que requer uma abordagem compreensiva e individualizada. Com diagnóstico precoce, intervenções terapêuticas adequadas e apoio contínuo, é possível minimizar os desafios associados ao TDAH e ajudar os indivíduos afetados a viverem vidas plenas e produtivas.
“A educação e o conhecimento são fundamentais para reduzir o estigma em torno do TDAH e promover uma maior compreensão sobre como essa condição afeta a vida das pessoas”, afirma Jeanny Alves.
Diagnóstico na infância é fundamental para evitar outros transtornos
O diagnóstico preciso desse problema do neurodesenvolvimento envolve uma avaliação detalhada por profissionais qualificados, como neurologistas, neuropediatras, psiquiatras, psicólogos e neuropsicólogos. Segundo Jeanny, esses especialistas utilizam critérios diagnósticos específicos e frequentemente recorrem a avaliações neuropsicológicas para investigar os sintomas relatados e seu impacto na vida diária do indivíduo.
A condição neuropsiquiátrica pode ser diagnosticada nos primeiros anos de vida por meio de uma avaliação abrangente que inclui testes psicológicos, neuropsicológicos e, em alguns casos, exames como eletroencefalograma (EEG). Esta abordagem é crucial devido à semelhança do TDAH com outros transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo, segundo a psicóloga.
A especialista destaca que após a pandemia de COVID-19, o diagnóstico tornou-se mais desafiador devido às possíveis sequelas neuropsicológicas, como dificuldades de memória, que podem mimetizar sintomas do TDAH. Em adultos, além da entrevista clínica, é comum realizar entrevistas com familiares e aplicar testes específicos para corroborar o diagnóstico.
Compreender esse transtorno desde a gestação até a idade adulta é essencial para um diagnóstico e tratamento eficazes, de acordo com a neuropsicóloga. “A combinação de abordagens terapêuticas multidisciplinares e o suporte contínuo aos pais são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados pelo TDAH”, destaca.
Jeanny finaliza dizendo que de modo geral, o TDAH apresenta desafios diagnósticos significativos, especialmente nesse contexto pós-pandêmico, mas abordagens integradas e personalizadas oferecem esperança para aqueles que vivem com essa condição complexa.