Gelo nas asas pode explicar queda do avião em Vinhedo
Especialistas apontam gelo nas asas como principal causa do acidente
Na tarde desta sexta-feira (9), a queda de um avião ATR-72 da VoePass, que resultou na morte de 62 pessoas. O acidente ocorreu nas proximidades de Vinhedo, interior de São Paulo, quando a aeronave estava prestes a iniciar os procedimentos de descida em direção ao Aeroporto de Guarulhos.
Especialistas estão agora analisando as possíveis causas da tragédia, e a principal hipótese levantada é que a formação de gelo nas asas possa ter levado à perda de sustentação e, consequentemente, à queda do avião.
Análise técnica do acidente
O engenheiro aeronáutico Celos Faria de Souza, um dos peritos criminais especializados em acidentes aeronáuticos e diretor da Associação Brasileira de Segurança de Voo (Abravoo), compartilhou sua análise das imagens do acidente em entrevista ao O Globo. Segundo ele, há uma probabilidade de 95% de que a formação de gelo nas asas tenha sido a principal causa do desastre.
Souza explicou que havia previsão de formação de gelo na área onde o acidente ocorreu, e é possível que o sistema de degelo da aeronave não tenha funcionado adequadamente. “Isso faria com que o avião perdesse sustentação, resultando na queda que observamos no vídeo”, afirmou o especialista.
Além disso, Souza destacou que as imagens mostram a estrutura da aeronave aparentemente intacta, sem sinais de avarias antes do impacto com o solo, o que reforça a hipótese do gelo como fator determinante. A formação de gelo nas asas é um problema sério em aviação, pois altera o formato aerodinâmico das asas, reduzindo a capacidade de gerar sustentação necessária para manter a aeronave em voo.
Condições climáticas e relatos de pilotos
A região onde o acidente ocorreu apresentava condições climáticas que favoreciam a formação de gelo. Um piloto de um Airbus A320, que voou na mesma rota horas antes, reportou a formação de gelo na janela lateral da cabine, um fenômeno raro que indica a gravidade das condições atmosféricas naquele momento. Este relato corrobora a hipótese de que o gelo poderia ter se formado também nas asas do ATR-72, comprometendo a segurança do voo.
Embora a investigação ainda esteja em andamento, outros pilotos que operaram na mesma região naquele dia sugeriram que a formação de gelo pode ter sido um fator contribuinte significativo para a perda de controle da aeronave. As condições meteorológicas adversas, especialmente em altitudes elevadas, podem criar uma camada de gelo na superfície das asas, mesmo que a aeronave esteja equipada com sistemas de degelo.
Hipóteses alternativas
Apesar da forte evidência em favor da hipótese do gelo, Celos Faria de Souza também apresentou uma segunda possibilidade, embora menos provável. Ele sugeriu que a aeronave poderia ter sofrido um desbalanceamento durante o voo. Isso ocorreria se uma carga dentro da aeronave tivesse se deslocado para a parte traseira, alterando o centro de gravidade e causando a perda de sustentação.
No entanto, Souza destacou que essa hipótese é menos provável, dado que as condições climáticas extremas e a formação de gelo são fatores bem documentados que poderiam ter impactado diretamente a estabilidade do voo.
A investigação oficial conduzida pelas autoridades competentes, incluindo a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), ainda está em seus estágios iniciais. No entanto, as evidências até agora apontam para a formação de gelo como a causa principal do acidente.
Os investigadores estão coletando dados do local do acidente, incluindo gravações das caixas-pretas da aeronave, que registrarão as últimas conversas na cabine e os parâmetros técnicos do voo.