Goiás registra redução de 35% na detecção de Hanseníase
Brasil tem o segundo maior número de novos casos da doença no mundo
A hanseníase é uma das doenças mais antigas da humanidade, com relatos de casos desde 600 A.C. Apesar de antiga, ela ainda é um grave problema de saúde pública, especialmente no Brasil, que concentra o segundo maior número de novos casos do mundo, atrás apenas da Índia.
A doença, que já foi chamada de lepra, foi renomeada devido ao estigma associado ao termo. Desde 1995, por definição da Lei nº 9.010, o termo lepra e seus derivados não podem mais ser utilizados na linguagem adotada nos documentos oficiais da União, dos estados e municípios.
No Brasil, foram 312 mil novos casos registrados nos últimos dez anos, o que coloca nosso país na segunda posição no ranking mundial da doença, atrás da Índia. Aqui, a média é de 30 mil novos casos por ano. “O número vem se mantendo com uma discreta queda, mas ela ainda não é considerada significativa para se dizer que a doença está em declínio”, destacou o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Heitor Gonçalves.
Manchas brancas ou avermelhadas pelo corpo, sensação de dormência e não sentir calor ou frio são alguns dos sintomas desta doença que tem cura, mas ainda é estigmatizada e negligenciada por muitos brasileiros. “Esses casos de mancha, dormência ou insensibilidade são suspeitos e necessitam formalmente de uma assistência para diagnóstico médico clínico”, observou.
O maior número de casos novos identificados na última década está na Região Nordeste (43% do total, ou o equivalente a 132,7 mil pacientes). Em seguida, vêm o Centro-Oeste, com 20% dos casos; o Norte (19%); e o Sudeste (15%). Apenas 4% dos novos pacientes registrados nos últimos dez anos apareceram na Região Sul do país.
Redução dos casos em Goiás
Em Goiás, entre 2020 e 2021, houve redução de 35,47% nos números de casos registrados no estado (916 casos em 2020 e 933 em 2021). Ainda assim, a taxa de detecção foi de 12,8 por 100 mil habitantes em 2020 e 12,9 por 100 mil habitantes em 2021, número bastante elevado se comparado ao ideal para controle da doença, que seria de 2 casos a cada 100 mil habitantes.
A gerente de Vigilância Epidemiológica da Superintendência de Vigilância em Saúde da SES-GO, Ana Cristina Gonçalves de Oliveira, destaca que a pandemia trouxe consequências como o desabastecimento de medicamentos. Além disso, o distanciamento social e a priorização da assistência à Covid-19 também causou prejuízo no seguimento e adesão aos tratamentos.
“Ainda existem muitos desafios a serem superados. Diagnosticar precocemente todos os casos, tratar, curar e devolver os pacientes sem deformidades à sociedade é uma das melhores medidas para combater o preconceito contra essa doença estigmatizante”, enfatiza a gerente.
Em 2020, a Gerência de Vigilância Epidemiológica da Suvisa ministrou, em parceria com a Universidade Federal de Goiás e as Secretarias Municipais de Saúde, treinamentos virtuais para profissionais de 137 municípios. Já entre 2021 e 2022, as capacitações ocorreram de forma presencial, reunindo teoria e prática em serviço, contemplando 720 profissionais, entre médicos, enfermeiros e fisioterapeutas. O objetivo é preparar os serviços municipais para o adequado manejo clínico.
Preconceito
O vice-presidente da SBD esclareceu que menos da metade dos pacientes com hanseníase transmite a doença, mesmo sem tratamento, porque mais de 50% têm imunidade razoável contra o micróbio. A transmissão também não é tão fácil como muitos pensam.
“Esse bacilo não salta de dentro da pele do doente para fora. Isso significa que tocar a mão de uma pessoa doente não transmite hanseníase. É preciso que o doente tenha um ferimento na pele, bem como a outra pessoa, e que esses ferimentos se encontrem para que o bacilo passe de um para o outro. Por isso, o dermatologista afirmou que é difícil a transmissão pela pele. O principal fator de transmissão é a tosse”, reiterou.
De acordo com o MS, a hanseníase acomete mais os homens do que as mulheres. Nos dez anos compreendidos entre 2010 e 2019, foram detectados 172.659 casos novos entre pessoas do sexo masculino e 139.405 em mulheres. “Os homens não têm costume de ir ao médico, como as mulheres. Esse talvez seja o motivo”, destacou o dermatologista
Manifestação e Tratamento
Estudos científicos indicam que 95% da população têm resistência natural ao bacilo de Hansen, causador da doença e que a vacina BCG, contra a tuberculose, aplicada logo após o nascimento, confere proteção de até 80% contra as formas mais graves de hanseníase.
Entre os principais sinais e sintomas, estão a sensação de formigamento ou fisgadas, que podem ocorrer em qualquer lugar da pele, principalmente nas mãos e nos pés; diminuição ou ausência de sensibilidade na face, nas mãos ou nos pés; e surgimento de manchas claras ou avermelhadas, localizadas ou disseminadas; e nódulos.
O tratamento é realizado pela administração de um conjunto de antibióticos, denominado poliquimioterapia (PQT), distribuído gratuitamente pelo SUS. Segundo a médica dermatologista Ana Lúcia Osório Maroccolo de Sousa, da Coordenação de Doenças Negligenciadas, da Gerência de Vigilância Epidemiológica, esse acompanhamento tem a duração de seis meses a um ano, dependendo da quantidade de lesões apresentadas pela pessoa que tem a doença e deve ser seguido à risca.