PSDB caminha à passos largos rumo ao esfarelamento
Não bastasse o descompasso dos últimos anos, tucanos enfrentam agora um novo dilema
O PSDB segue dilacerado. Quem pensou que o fim das eleições de 2022 traria dias de calmaria no ninho dos tucanos se enganou. Na verdade, o efeito foi contrário. A crise gerada entre bolsonaristas a partir dos ataques de 8 de janeiro deu ainda mais musculatura a um antagonismo latente, responsável por dividir a legenda em dois grandes e importantes grupos.
O impasse que se perpetua basicamente desde as eleições de 2018 foi alavancado nos últimos meses. Conforme a disputa se aproximava, a corrida contra o relógio apertava uma faca no pescoço dos tucanos. Com linhas de pensamentos divergentes, a crise interna se tornou ainda mais clara a partir do que tentaram apresentar como “inovação” tucana. Trata-se da criação do instituto das prévias, onde lideranças do partido disputam internamente quem concorre à presidência.
“Tivemos um processo democrático, intenso e de profundo debate interno com três bons nomes”, declarou o ex-governador Marconi Perillo à época ao tentar dar um rompante bonito a um descompasso há tempos escancarado. Apesar disso, como todos sabem o resultado: nenhum dos nomes concorreu, de fato, e o partido ainda saiu enfraquecido de um processo que mais dividiu do que unificou a legenda.
Apesar de ter garantido a vitória nas prévias, o ex-governador de São Paulo sentiu que o clima entre uma parcela significante do partido era realmente de insatisfação com o seu nome — Dória, vale lembrar, foi uma grande força de oposição ao governo Jair Bolsonaro, apesar de parte dos tucanos apoiar o então presidente.
Poucos dias afastaram o ex-governador de um recuo que terminou, inclusive, com a desfiliação do partido do qual foi representante por 22 anos. O PSDB, depois disso, optou por apoiar a candidatura de Simone Tebet (MDB) — ainda a contragosto de alguns de seus quadros.
Como se não bastasse tudo isso, a legenda agora enfrenta um novo dilema. A situação tem dividido o já dividido grupo. O centro das atenções agora está com o eventual apoio ao governo do presidente Lula (PT). Ao passo em que parte das lideranças anseiam por essa aliança, outra parcela repudia veementemente qualquer sinal de aproximação.
O próprio futuro presidente nacional do partido, Eduardo Leite, tem pensado, e mais do que isso, trabalhado, pela construção de uma via que não penda para nenhum dos extremos. Apesar de demonstrar interesse em manter o partido fora do time petista, enfrenta o dilema de como fazer oposição ao atual governo. Fala-se em uma espécie de “oposição responsável” por meio da construção de um “centro democrático” com siglas nanicas, como o Cidadania e Podemos, por exemplo.
Ao passo em que a decisão agrada os mais velhos, decepciona os mais jovens. Isso porque os caciques desejam manter a defesa de um legado histórico pautado pela desconstrução da esquerda — diferentemente do que fez Geraldo Alckmin que de olho em 2026 mais do que depressa decidiu se aliar a Lula, seu, até então, adversário político.
As divergências em relação aos rumos, bem como as recorrentes derrotas eleitorais enfrentadas pelo partido em Goiás e Brasil afora tem levado importantes quadros a cogitarem uma debandada. O PSDB tem experimentado um processo de esvaziamento ao longo dos últimos anos. Cogita-se que o próximo nome, em Goiás, a pular fora seja o de sua principal liderança: o ex-governador Marconi Perillo — muitos duvidam.
Marconi, por sinal, foi um dos que saiu em defesa de diálogos com o PT. Conforme mostrado pelo O Hoje em janeiro de 2022, o tucano teve, inclusive, encontros com Lula em São Paulo. Mas a ala conservadora falou mais alto. Agora, não só Marconi, mas outras lideranças do interior refletem sobre a possibilidade de mudança ante ao cenário desanimador para os tucanos. Marconi, claro, está de olho em 2026 e sabe que sem um movimento inovador poderá amargar a terceira derrota consecutiva nas urnas.