Ambiente hospitalar mais leve auxilia na recuperação
Tratamento humanizado é realizado por unidades de saúde de Goiânia como opção para amenizar a dor e angustia de pacientes
Karla Araujo
“Em um Sarau Itinerante entramos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e cantamos uma música ao lado de um dos leitos. O idoso que há dias não fazia contato verbal ou visual abriu os olhos e balançou a cabeça no ritmo da canção. Foi surpreendente e muito gratificante”. A declaração é da diretora de Enfermagem do Hospital Alberto Rassi (HGG), Natalie Alves Andraschko, responsável pela organização das ações de tratamento humanizado na unidade de saúde.
Natalie explica que o hospital possui rotina de atividades com objetivo de amenizar as dificuldades do momento de enfermidade pelo qual o paciente passa. No Sarau, por exemplo, os pacientes podem participar de apresentações de dança realizadas na recepção do ambulatório. As cadeiras são retiradas e o local vira um grande palco. Quando a pessoa não pode sair da cama, o Sarau é levado até o quarto.
Além disso, a cada 15 dias, voluntários vão ao local para ensinar pintura em tela aos pacientes, que podem levar a produção para casa. A oficina dura uma hora e meia. Existe também no HGG o Projeto Dose de Letras, em que um carrinho, cheio de livros e revistas, passa pelos quartos dos hospitais. Os pacientes podem ficar com as edições até irem para casa.
Janielly Moreira Modesto Reis, 18, está internada no local há 20 dias. Ela mora no Tocantins e veio à Goiânia procurar tratamento, pois está com febre há semanas e os médicos ainda não descobriram a causa. Ela participou da última oficina de pintura ao lado da mãe, a dona de casa, Maria Rosangela Moreira, 44. “Achei interessante. Uma distração. Nunca tinha pintado na tela assim. É uma novidade”, admirou a jovem.
A adolescente, Maria Helena Lopes Ribeiro, 15, também participou da oficina. Ela está no hospital há uma semana porque tem diabetes e complicações aconteceram nos últimos dias. Para ela, aprender a pintar foi uma distração. “Ficamos sem fazer nada nos quartos. Foi bom sair um pouco. Nunca tinha feito nada assim”, disse a jovem.
Além das atividades, o HGG também é uma verdadeira galeria de arte, com exposições de pinturas de artistas renomados. As telas ficam nos corredores e recepções no hospital por três meses. Atualmente, 150 pinturas da exposição Imaginário Primitivo– de Américo Poteiro, Helena Vasconcelos, Sandro Carvalho e Veramarina- estão nas paredes da unidade de saúde.
Eficácia
De acordo com Natalie, é comum os pacientes perguntarem quando será o próximo sarau. “O êxito do tratamento humanizado é comprovado por diversos estudos científicos. Conseguimos acompanhar a melhora do paciente que está fragilizado por uma doença e ainda por cima longe de casa, em um ambiente estranho que é o hospital”, explica a coordenadora de Enfermagem.
Fátima Maria Lindoso da Silva Lima, diretora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), também concorda em relação ao efeito positivo do tratamento. “Por meio do programa de extensão Pronto Sorriso, estudantes do primeiro ao quarto ano dos cursos de Saúde levam alegria e a humanização do cuidado a pessoas doentes por meio da figura do palhaço”, diz Fátima Maria. O programa é executado no Hospital das Clinicas.
Além do resultado positivo para o paciente, a diretora afirma que o programa é fundamental na formação dos profissionais, pois desperta o carinho e o cuidado em relação ao paciente. “Quando há carinho no trabalho, o médico ou enfermeiro buscará o melhor para o paciente. Ao encontra um ex-aluno, é comum ouvir dele o quanto o Pronto Sorriso, que existe há 17 anos, acrescentou em sua formação”, afirma a diretora.