Fevereiro marca 30 anos das mulheres na PM em GO
Policiais militares revelam os desafios em comemoração as três décadas da presença feminina na corporação
Jéssica Torres
O mês da mulher na Polícia Militar de Goiás (PM-GO) é fevereiro. São 30 anos de histórias e conquistas dentro da corporação, marcado por grandes mudanças. Mulheres que antes não podiam ingressar na carreira, hoje estão presentes em todas as áreas de atuação da PM e no próximo dia 20 celebram a data. De salto alto, unhas feitas e maquiagem as policiais contam suas histórias ao O Hoje.
Major Neila de Castro, há 16 anos na Polícia Militar, é um dos exemplos dentro da corporação. Ela que exerce a função com paixão, escolheu a carreira por tradição. “A minha irmã que fez parte da segunda turma sempre conta que eram tempos diferentes e difíceis”, relata. A resistência, às exigências e a visão da mulher àquela época foram dificuldades que enfrentaram. “Ficavam a cargo de trabalhos apenas com crianças abandonadas, no trânsito, em shopping e aeroporto. Além disso, não atendiam ocorrências”, relata.
Para entrar na PM era preciso ainda ser solteira, não ter filhos e o casamento só poderia ocorrer após dois anos de atividade policial. As mulheres que tinham o cabelo comprido tiveram que cortá-los bem curtos, como forma de se assemelharem à aparência masculina. “Tinham até mesmo escala de esmalte e aula de etiqueta”, lembra.
Requisitos que não existem mais. Apenas a exigência de um curso superior para soldado e formação em Direito para oficiais. A questão de altura mínima de 1,60 continua, porém, muitas entraram com ação na justiça e mesmo abaixo da estatura garantiram sua vaga. Outra mudança é que além disso, as turmas eram exclusivamente para mulheres, diferente da atualidade onde elas e homens fazem o curso de seis meses e trabalham juntos. “Temos mulheres atuando em praticamente todas as funções”, destaca.
“O homem intimida só pelo físico, já a mulher tem que se impor na hora de falar, por que em um primeiro momento o criminoso não respeita”, confessam. Mas em contrapartida, as policiais entrevistadas confirmam a proximidade maior com a comunidade.
Desafios
Hoje, 10% do efetivo estadual é composto por mulheres. Só em 2014, é que as mulheres em ingressaram na banda da PM, contando com seis.
Para a 2º Sargento, Karen Carrijo, 34, com 15 anos na corporação, a soldado Lilian Abadia e as outras colegas, o preconceito, apesar de menor, ainda existe e se trata de lugar que tem predominância masculina. “Nossa presença incomoda a muitos”, avaliam. Mas já tomaram conta do espaço e um pouco mais de mil mulheres atuam hoje na PM-GO.
Para a soldado Ana Neves, 35, os desafios não deixaram de existir. Há cinco anos na corporação ela conta que o sonho veio pelo exemplo do pai e do marido, que são militares. “Meu marido sempre me incentivou, já meu pai estava temeroso por saber dos riscos da profissão, mas depois se encheu de orgulho”, lembra. “É uma vitória chegar até aqui, depois de tantas etapas e tendo que conciliar o tempo para cuidar do meu filho que tinha três anos”, ressalta.
Esse é um dos pontos em que todas balançam a cabeça positivamente. O desafio de conciliar triplas funções- marido, cuidar dos filhos e exercer o trabalho- que exige muita responsabilidade, dedicação e qualidade. “Lidamos com o crime e ao mesmo tempo pensamos nos filhos e no medo de não voltar”, revela Ana. Para a soldado, existe a necessidade de reafirmação dentro do contexto policial. “Alcançamos o espaço co esforço e dedicação”, destaca. E sem descer do salto as mulheres continuam na luta.