Aumenta distância entre Dilma e o PT
Presidente, que se encontra no Chile para uma reunião, não tinha decidido se participaria das comemorações dos 36 anos do PT, no Rio de Janeiro
Aguerra fria entre o PT e a presidente Dilma Rousseff, que começou ainda no primeiro mandato, chegou esta semana a seu ápice. Com a decisão tomada nesta sexta-feira de ampliar sua visita ao Chile até a tarde deste sábado, Dilma, a não ser que mude de ideia na última hora, estará ausente da comemoração dos 36 anos do partido, no Rio. Se no primeiro mandato o principal motivo de divergências girou em torno da definição de quem – Lula ou ela – seria o candidato a representar o projeto político ainda com alta popularidade nas eleições de 2014, agora a disputa é pela simples sobrevivência. Na tentativa de resistir simultaneamente à maior crise econômica dos últimos 20 anos e às denúncias da Operação Lava-Jato, a presidente e o PT escolheram rotas distintas.
Em busca de sua sobrevivência como presidente, Dilma tenta colocar de pé uma agenda que vai na contramão do que quer o PT. Decidida a apresentar a reforma da Previdência e a aprovar medidas econômicas duras para debelar a crise econômica, Dilma resolveu resistir às pressões petistas, criando um ambiente de litígio.
Nos últimos dias, três movimentos da presidente demarcaram a crise com seu partido: ela não aceitou o convite da direção do PT para aparecer na propaganda partidária, que foi ao ar na última terça-feira; desistiu de participar do evento partidário de hoje e deixou os senadores petistas falando sozinhos contra um projeto do tucano José Serra (SP), que mudou as regras de exploração do pré-sal, acabando com a exclusividade da Petrobras. Enquanto o PT lutava contra a alteração, ministros, com o aval de Dilma, negociavam com Serra e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pequenos ajustes no texto.
Com o discurso ético esfacelado e sob risco de perder o que ainda tem de base social, o PT, por sua vez, busca em bandeiras históricas uma volta por cima. Rejeita a reforma da Previdência, que ainda nem foi apresentada pelo governo, e critica a política econômica conduzida pelo ministro Nelson Barbosa (Fazenda), depois de ter pressionado pela saída do liberal Joaquim Levy do posto.
– A reforma da Previdência, a política econômica, a questão da Petrobras, o pacote fiscal estão criando um choque entre o palácio e o PT. Ou o governo começa a ter uma política mais próximas às bandeiras históricas do PT, ou o PT vai ficar com o povo e se afastar do Planalto. Está se criando uma situação muito difícil. A reforma da Previdência vai unir todo mundo contra ela: servidores públicos e trabalhadores – afirmou o senador Paulo Paim (PT-RS).
As divergências em relação ao governo Dilma foram explicitadas na reunião do diretório nacional, nesta sexta-feira, no Rio. (ABr)