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sábado, 23 de novembro de 2024
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Aproximação divide cubanos em Miami

Reaproximação pode trazer mudanças na vida dos cubanos e americanos, mas exilados de Miami estão profundamente divididos em duas posições opostas, “sem meios-termos”

Postado em 21 de março de 2016 por Sheyla Sousa
Aproximação divide cubanos em Miami
Reaproximação pode trazer mudanças na vida dos cubanos e americanos

O ano era 1928 quando o presidente republicano Calvin Coolidge viajou a Havana para participar da VI Conferência Panamericana. Quase 90 anos depois, um presidente democrata, Barack Obama, volta a Cuba, e não há melhor lugar para medir a reação dos exilados do que no bairro de Little Havana, em Miami, uma região que agrega velhos e jovens, recém-chegados e também aqueles que já vivem nos EUA há muito tempo.

“Em Cuba há uma ditadura, e Obama vai apertar a mão de um ditador”, critica Pedro López, um empresário de 50 anos que deixou a ilha em 1980. “A posição dos exilados não pode morrer conforme vão morrendo os mais velhos. Nossos filhos têm que levar adiante nossa bandeira”. 

No entanto, nem todos os jovens filhos de cubanos e nascidos em Miami tomam para si os princípios políticos do país. Estudos mostram que os mais jovens costumam ser mais liberais e tolerantes que a geração anterior. 

“Respeito meus pais e seu sofrimento, mas para mim é muito difícil concordar com eles”, pondera Rafael Méndez, universitário de 22 anos. “É hora de mudar o que não está funcionando. A porta dos dois países já está aberta, e sou otimista em relação ao futuro. É uma questão de tempo”.

Para o professor Sebastián Arcos, diretor do Instituto de Estudos Cubanos da Universidade Internacional da Flórida, os exilados de Miami estão profundamente divididos em duas posições opostas, “sem meios-termos”. Ele conta que as diferenças se baseiam na idade, e, em geral, os mais velhos repudiam a ida de Obama a Cuba.

“Os mais jovens, que nasceram aqui ou chegaram há pouco, não têm a mesma experiência vivida pelos mais velhos, e isso tem um peso muito importante em sua forma de pensar “ explica o acadêmico.

O professor afirma que aqueles que chegaram antes de 1994 “ano em que houve protestos por liberdade em Havana” são muito resistentes a qualquer flexibilização, porque sua postura carrega um forte componente político, ausente naqueles que chegaram posteriormente.

“Eu os chamo de -grupo dos cínicos-, pois apenas estão interessados em resolver seus problemas econômicos pessoais”, diz o professor.

O pensamento do exílio cubano também está exposto no Parque do Dominó, onde os mais velhos se reúnem e falam de política.

“Não acreditava que um dia veria os EUA ajoelhados diante da tirania cubana. Tinha apenas 2 anos na época da visita de Coolidge, mas jurava que morreria antes que outro presidente fosse a Cuba”, lamenta Ricardo Soler, que chegou a Miami em 1960.

Ivan Hernández, seu parceiro na partida de dominó, concorda com o amigo e diz sentir falta dos exilados beligerantes de outras épocas.

“ Se um presidente tivesse visitado Cuba dez anos atrás, os exilados teria saído em massa às ruas para protestar, mas, agora, não. Muita gente já morreu”.

O professor Arcos assina embaixo: “Como muitos ativistas já morreram, há menos protestos e, consequentemente, mais tolerância com opiniões contrárias. Ainda assim, não se pode negar que se trata de um exílio muito polarizado”. (Agência O Globo) 

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