Cão policial torna-se animal de estimação
Com aposentadoria aos 10 anos de idade, adestradores garantem que cachorros podem viver tranquilamente com uma família de civis
Karla Araujo
Um dos principais aliados da polícia no combate ao crime são os animais. No Batalhão de Choque da Polícia Militar do Estado de Goiás, os cães treinam periodicamente e trabalham em diversas operações durante oito anos ou até completarem 10 anos de idade. Depois disso, são aposentados. Atualmente, 22 cães adultos e 13 filhotes moram no canil.
O tenente Higor Alexandre Guimarães Moreira, responsável pelo canil e primeiro comandante da Companhia de Policiamento com Cães, afirma que machos e fêmeas são igualmente capacitados para o trabalho. Quando a vida útil no trabalho encerra-se, o animal é oferecido ao adestrador ou à sociedade civil. “Quando não encontramos ninguém que o queira, cuidamos dele no canil até morrer”, diz.
Há três anos, o sargento José Eduardo de Lima adotou a Pantera, um pastor alemão fêmea de 11 anos. “Eu já era instrutor da Pantera. Como ela tinha afinidade comigo, já era indicado que eu ficasse com o animal”, conta. Lima afirma que o convívio da cadela com a esposa e os filhos é muito agradável. Pantera trabalhava como farejadora de entorpecentes. Segundo o sargento, para este tipo de trabalho são escolhidos animais com perfil dócil.
“Para quem deseja ter um cachorro treinado, o quartel analisa primeiro para ver se a pessoa realmente gosta de animais, se já teve outros antes. Mas, o comum é que o animal seja adotado pelo o instrutor, que já tem um convívio, uma ligação com o animal”, explica. O sargento explica que a agressividade dos animais treinados é controlada e nada impede que os cães da polícia convivam com uma família comum.
Treinamento
Os cachorros começam a ser adestrados nas primeiras semanas de vida em três tipos de treinamentos diferentes: guarda e proteção; busca e captura, e detecção de odores. Os cães são provenientes do cruzamento em cativeiro, mas também podem ser adotados.
O período necessário para que um cão esteja pronto para o trabalho varia de seis meses até dois anos, de acordo com o animal. Mas quando o animal está preparado, diz o tenente, pode sentir o cheiro de uma gota de sangue em 500 litros de água. “Em uma diligência em um lixão, um dos nossos cães conseguiu encontrar um saco cheio de dinheiro enterrado embaixo de um monte de lixo”, conta Moreira.
De acordo com o tenente, a pessoa que havia colocado o dinheiro ali era usuário de um tipo de droga. Como ele havia tocado no entorpecente e depois pegado o saco, o odor ficou no material e o animal conseguiu senti-lo mesmo com todas as distrações que um lixão pode trazer para o olfato. Moreira explica que no treinamento o adestrador coloca essência com cheio de alguma droga em uma bola pequena e o cachorro brinca de encontrá-la.
Variedade
No caso da guarda e proteção, Moreira explica que os cães mais usados são das raças pastor alemão, pastor holandês, doberman e rottweiler, por serem animais fiéis. “Tem que ser um cão que o treinador confie que acatará todas as suas ordens. Tem que ter caráter firme e equilibrado e instinto de defesa apurado”, explica. Após o treinamento o cão vai trabalhar em contenção de detentos, policiamento a pé e em barreiras, casos em que os policiais precisam de proteção.
Para detecção de odores são treinados cães brincalhões como labrador, pastor belga e alemão. O tenente lembra que os animais trabalham enganados, achando que procuram por algum brinquedo e sempre recebem uma recompensa por isso. Outro tipo de treinamento é a busca e captura, mas o Choque ainda não tem cães prontos para o trabalho, que visa à localização de indivíduos. “É preciso cães de muita energia e versáteis, como o pastor belga de malinois”, explica.
Em todos os tipos de treinamento o rottweiler é cada vez menos usado e o objetivo, segundo Moreira, é não treinar mais.os cães da raça Segundo o tenente, os animais se cansam rapidamente e, por isso, o rendimento é inferior às demais.