Economia dá primeiros sinais que o pior já passou
Números mostram que demissões começam a diminuir. Micro e pequenas empresas já dão sinais de serem as primeiras a saírem da crise
RHUDY CRYSHTIAN
AIndicadores revelam que o desemprego começou a perder fôlego, inflação apresenta sinais de dar uma trégua, um leve aumento nas vendas do comércio varejista e uma maior confiança dos empresários no cenário político/econômico dão, pelo menos, uma esperança, de que a severa crise financeira que assola o País e varre a renda do brasileiro para o ralo mostra vestígios de enfraquecimento e acende uma pequena luz de otimismo para o cidadão que viu nos últimos dois anos seu emprego e dignidade na berlinda.
Mesmo abaixo dos 50 pontos e longe da média histórica de 54,3 pontos, o Índice de Confiança do Empresário Industrial subiu para 45,7 pontos em junho, o maior valor desde novembro de 2014. Foi o segundo mês consecutivo de melhora na confiança dos empresários. O que mostra que pretendem voltar a investir. O resultado será mais postos de trabalho.
O consumo de energia elétrica atendido pelo Sistema Interligado Nacional (SIN) registrou alta de 1,4% em abril, comparado a abril de 2015. Esta é a primeira alta no consumo de eletricidade desde fevereiro de 2015. As maiores contribuições foram observadas nas classes residencial (+7,5%) e comercial (+1,7%).
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), teve uma leve redução na previsão de queda em 0,03% em relação a março. O indicador é visto pelo mercado como uma antecipação do resultado do PIB. Serve de base para investidores e empresas adotarem medidas de curto prazo.
A classe industrial continua em queda (-4,8%), porém, mais suave do que as observadas anteriormente. O que pode sinalizar um fôlego também na produção industrial que vinha registrando baixas exorbitantes nos últimos meses com fábricas fechando ou reduzindo sua escala de produção. “Ainda é cedo para falarmos de recuperação, mas só de a queda em todos esses índices começar a perder força já é motivo para podermos almejar uma melhora”, comenta o analista José Roberto Barbosa.
Pequenas empresas
Com um quadro de 90 colaboradores, a diretora de recursos humanos de uma empresa de tecnologia em Goiânia, Glenda Maris Auad, afirma que o poder de retenção de talentos de colaboradores em momento de crise é um dos indicadores de que a empresa é bem estruturada e está preparada para enfrentar momentos de turbulência financeira. Ela comenta que em 2015 conseguiu reter até 95% dos talentos na empresa. O que significa que quase não houve desligamentos.
Glenda justifica que as empresas bem enxutas, com poucos funcionários não têm muitas alternativas de cortar custos com demissões, o que pode explicar, em parte, o motivo da redução dos desligamentos. “Conseguimos administrar e gerir melhor nossos talentos, remanejamos pessoal com mais facilidade e o próprio colaborador está mais flexível e disposto a assumir outras funções para se manter no mercado de trabalho”, enumera.
Em tempos de crise, a goiana Pirulitos Carrossel não registrou demissões de nenhum colaborador nesse ano, ao contrário, só cresceu. Em 2016 aumentou 30% o número de trabalhadores na fábrica. A empresa produz e distribui pirulitos, balas de aniversário, embalagens e entre outros produtos do seu segmento em todo o Brasil.
Enquanto o período é de crise, o planejamento comercial do proprietário Orlando Melo auxilia o crescimento da produção e contribui para o aumento do efetivo de funcionários. A fábrica também cresceu 10% com criatividade e inovação.
A proprietária de uma clínica de estética em um shopping de Goiânia, Angélica Castanheira investiu R$ 150 mil para comprar a franquia há dois anos e garante que está toda feliz com a aplicação. A empresa só cresce. Já aumentou o faturamento e o número de colaboradores. “De janeiro até agora o movimento deu uma estabilizada e a nossa expectativa é que melhore ainda mais”, espera.
A micro empresária se mostra otimista com os rumos da política e economia do País e vê como positiva as mudanças que estão acontecendo no cenário nacional. O que, segundo ela, poderá refletir diretamente nas empresas.
Menos demissões indicam melhora
As micro e pequenas empresas, aquelas com menos de 100 colaboradores, são as primeiras a entrarem na onda do otimismo e apresentam enfraquecimento nas demissões, bem mais que as empresas de grande porte. As demissões ainda são preocupantes, mas quando comparadas com as empresas de médio e grande porte, a diferença é de mais de cinco vezes, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência Social.
Segundo informações do Sebrae, em abril, as micros e pequenas empresas demitiram 10,5 mil pessoas a mais do que contrataram em todo o País. O número é quase quatro vezes menor que o registrado em março, que teve 46,9 mil postos de trabalho fechados. As micros e pequenas representam quase 98% do total de empresas no Brasil e são responsáveis por cerca de 55% a 60% dos postos de trabalho formais no País.
Eliane Sousa trabalha em uma clínica de depilação com menos de dez colaboradoras. Ela sozinha sustenta uma casa com três filhos. Ela foi efetivada em janeiro desse ano, mas antes já prestava serviços como free lancer no mesmo local. “Sempre que o movimento aumentava a patroa me chamava para ajudar, mas eu ganhava por hora, não dava para tirar uma renda satisfatória”, diz.
Antes, a depiladora trabalhava como empregada doméstica. “Resolvi mudar de profissão para ver se conseguiu ganhar mais dinheiro”. Hoje, satisfeita com o salário, ela garante que acredita que o pior da crise, que levou mais de 10 milhões de brasileiros a perderem seus empregos, já passou, ou pelo menos, está passando. (R.C.)