Numa inversão histórica, setor bens de capital define acomodação na indústria
A produção industrial cresce há quatro meses consecutivos e apresentou variação positiva em cinco dos últimos seis meses na comparação com o mês imediatamente anterior
Lauro Veiga Filho/ Especial para O Hoje
A produção industrial cresce há quatro meses consecutivos e apresentou variação positiva em cinco dos últimos seis meses na comparação com o mês imediatamente anterior, segundo mostra a mais recente edição da pesquisa industrial mensal realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem. Os números continuam abaixo dos níveis alcançados em 2015, um ano de retrocesso para toda a economia e especialmente para a indústria, mas a velocidade da queda também perdeu intensidade, reafirmando uma tendência já observada nas pesquisas anteriores.
Mais intrigante, para usar um termo nem tão apropriado assim ao caso, parece ser o comportamento da indústria de bens de capital, que produz, entre outros, máquinas e equipamentos em geral, material de transporte (máquinas agrícolas, aviões, caminhões, ônibus), turbinas e outros equipamentos para o setor de energia (que muito obviamente inclui a geração hidráulica, eólica e solar, transmissão e distribuição de energia). Historicamente, o setor sempre reage tardiamente durante os ciclos de recuperação da economia e, em geral, é um dos últimos a apresentar números positivos, consolidando uma reação que já vinha sendo experimentada por praticamente todo o restante da atividade industrial.
Na comparação mensal, com dados já ajustados a fatores sazonais que influenciam mês a mês a produção, a indústria de bens de capital foi a primeira a apresentar resultados mais significativos, na comparação com os demais segmentos da indústria, apresentando taxas positivas em todos os seis meses iniciais de 2016. Tomando os índices da média trimestral móvel construído pelo IBGE, o setor de bens de capital acumula crescimento de 4,3% na comparação entre o segundo trimestre deste ano e os três meses finais de 2015. Em igual período, a indústria em geral apresentou recuo de 0,8%, com retração de 4,8% para a produção de bens de consumo duráveis e de 1,4% para bens intermediários, com leve baixa de 0,3% para o setor de semi e não duráveis (incluindo alimentos, vestuário e outros).
Os números mais gerais do IBGE mostram variação de 1,1% para o total da produção industrial entre maio e junho, com retração de 6% frente a junho do ano passado (para relembrar, a taxa negativa na comparação anual vinha superando a marca dos 10% desde setembro do ano passado, com a retração chegando a 13,5% em janeiro). No caso dos bens de capital, a desaceleração da queda foi ainda mais intensa, já que o setor anotou perdas superiores a 30% entre agosto de 2015 e janeiro deste ano, fechando o mês de junho com baixa de “apenas” 3,9% frente ao mesmo mês de 2015 (no caso, justifica-se o uso do advérbio).
Retração menos intensa
Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a produção no setor de bens de capital havia despencado 31,9% no quarto trimestre de 2015 e 28,7% nos três primeiros meses deste ano, caindo 10,6% no trimestre seguinte. A desaceleração no ritmo da queda foi observada em praticamente todos os segmentos da indústria de bens de capital, saindo de -13,6% para -3,9% nos produtos destinados à indústria, de -33,4% para -8,9% nos bens de capital para agricultura, de -51,3% para -16,6% para a construção e transitando ainda de -12,9% para um crescimento de 4,8% no setor de energia, refletindo aparentemente a instalação de novos projetos de geração eólica e solar.
Balanço
O resultado de junho da produção industrial, observa o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco (Depec), com elevação de 1,1% frente a maio, coincidiu com a mediana das previsões do mercado, que variavam entre 1,1% e 1,3%.
O avanço de 0,6% acumulado pela produção industrial no segundo trimestre, na visão do Depec, sugere “desempenho positivo do PIB (Produto Interno Bruto) industrial no período”.
Além da melhoria na produção de bens de capital, o Depec anota ainda uma ligeira elevação de 0,3% na produção de insumos típicos da construção civil na comparação entre junho e maio, “seguindo praticamente no mesmo patamar desde o início deste ano”.
Como reflexo do desempenho da produção naquelas duas áreas, prossegue o Depec, o investimento tende a apresentar variação positiva no segundo semestre, também sob o ponto de vista das contas nacionais (ou do PIB).
Entre os 24 setores da indústria acompanhados pelo IBGE, três quartos deles anotaram crescimento em junho, destacando-se o salto de 8,4% na produção de veículos, reboques e carrocerias. Para relembrar, o setor já havia crescido 5,5% na passagem de abril para maio.
Esse comportamento contribuiu para levar a produção da indústria de transformação a crescer 1,3% em junho, depois de anotar estagnação em maio (crescimento zero, literalmente).
“Coração” da indústria, dada sua representatividade para o setor, a indústria de bens intermediários cresceu 0,5%, repondo a perda na mesma dimensão registrada em maio e fechando o segundo trimestre em baixa de 7,5%.