Roraima pede Força Nacional; detentos do semiaberto ficam em prisão domiciliar
O estado vive uma crise no sistema carcerário após a morte de 33 detentos na Penitenciária Agrícola Monte Cristo
O governo de Roraima deve protocolar nesta segunda-feira (9)
o pedido de envio da Força Nacional de Segurança para o estado. Roraima vive
uma crise no sistema carcerário após a morte de 33 detentos na Penitenciária
Agrícola Monte Cristo, na zona rural de Boa Vista. Com capacidade para 750
presos, a unidade abriga mais de 1.400 detentos
Em sua página no Facebook, a governadora Suely Campos
informou que conversou com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, nesse
domingo (8) e ele afirmou que em poucos dias deve enviar o apoio necessário
para garantir a ordem pública e enfrentar a grave tensão instalada na
Penitenciária de Monte Cristo.
Em nota, a assessoria do ministério diz que “o ministro já
determinou que a Secretaria Nacional de Segurança Pública providencie o imediato
apoio ao estado”.
Em novembro do ano passado, o governo de Roraima chegou a
solicitar a presença da Força Nacional após a morte de 10 detentos na mesma
penitenciária, mas o pedido foi negado.
Para a professora Aldenizia Laranjeira, a presença da Força
Nacional vai trazer mais segurança porque, “a população, no popular, está
cabreira, com medo. Medo de rebeliões, de esses presos saírem das cadeias,
saírem matando todo mundo, fazendo reféns. Se a governadora tá pedindo ajuda do
ministro da Justiça, ele tem por obrigação ajudar o estado”, afirma.
Trinta e três detentos morreram na penitenciária agrícola na
madrugada da última sexta-feira (6), mas dois desses mortos só foram
encontrados na tarde de sábado (7), após a denúncia de familiares, como a dona
de casa Simone Alves, de 24 anos. “Vocês não sabem o meu sofrimento de saber
que o meu marido está enterrado em um buraco dentro da cozinha e ninguém faz
nada. A polícia fecha os olhos. O que está faltando, meu Deus, para vocês
entrarem e procurarem o meu marido, o que tá faltando?”, desabafou a mulher.
O trabalho de necropsia foi encerrado nesse domingo (8) e
quase todos os corpos já foram entregues aos familiares. As exceções são os
corpos de um venezuelano e um rondoniense que ainda não foram entregues por
falta de documentação. Ainda há o corpo de um detento, que não foi reclamado
pela família.
Prisão domiciliar
A Justiça de Roraima concedeu prisão domiciliar aos detentos
do regime semiaberto do Centro de Progressão Penitenciária (CPP). O pedido foi
feito pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
A medida vale até o fim desta semana. Com isso, desde ontem (8), os detentos
não precisam se dirigir à unidade para dormir. Eles devem ficar em casa.
O documento é assinado por 23 reeducandos e pelo diretor do
CPP, Wlisses Freitas da Silva, e informa “a impossibilidade de garantir a
segurança dos presos e dos servidores que trabalham naquela unidade prisional”.
Segundo a OAB, os presos estariam sofrendo “ameaças diárias
de morte, inclusive, de facções do crime organizado”. O documento leva em
consideração relatos de presos provisórios que afirmam ser alvo da próxima
tragédia no sistema carcerário.
O medo não está apenas no CPP. A professora Aldenizia
Laranjeira revela a sensação de insegurança vivida na cidade. Segundo a
moradora de Boa Vista, “algumas farmácias, alguns comércios fecharam mais cedo,
por medo de rebeliões, de esses presos saírem aí das cadeias, saírem matando
todo mundo, fazendo reféns, e a sensação de morte, muito triste, nunca tinha
acontecido isso aqui em Roraima”, relata.
O Centro de Progressão Provisória sofre com o baixo efetivo
de servidores. São, no máximo, quatro agentes por dia para prestar segurança a
160 presos, além dos que cumprem pena na Casa do Albergado e que assinam
frequência no CPP, totalizando um fluxo de quase 500 detentos. Os agentes
penitenciários reclamam ainda da falta de armamento adequado e suficiente para
todos.
Foto: Reprodução Efectos Notícias (Fotos Públicas)