Grupo Asas de Picadeiro leva arte às periferias da Capital
4º Edição do projeto “Arte na Periferia” vai cruzar por 10 bairros de Goiânia. Entrada é franca
Victor Lisita*
Dos egípcios aos indianos, dos chineses aos gregos, é certo que
quase todas as civilizações antigas já praticavam algum tipo de arte há pelo
menos mil anos. Tais manifestações estéticas ou comunicativas expressam emoções
e ideias, que tecem um significado único e diferente para cada ação e pessoa
que a contempla. Sua definição varia com o tempo e de acordo com as várias
culturas humanas, pois seu próprio conceito é uma construção cultural variável
e constante. O certo é que a arte, independente de como e por quem é feita,
consegue encontrar um local especial nos corações de cada indivíduo, ao mesmo
tempo em que estimula a imaginação e manifesta novos costumes.
Lenon Alves costumava frequentar um circo que se instalava nos
campos de futebol em seu setor a cada semestre. O que diferencia o “antes” do
“hoje” é sua percepção de que a população não tem mais acesso fácil às
expressões artísticas, “elas são carentes, dentre tantas coisas, de arte e
cultura”. Por meio desses dois pilares, ele e o Grupo Asas de Picadeiro se
organizam para levar experiências de outrora às comunidades periféricas de
Goiânia; o que, por sua vez, representa despertar, alertar e sensibilizar
pessoas para as coisas boas que podem ser praticadas na vida apenas com o
exercício do bem comum.Quando ele e a companhia chegam aos bairros e começam a
surgir palhaços, o picadeiro e o camarim, é dado início a um momento mágico na
região, “como se naquele instante, todos abandonassem os problemas, a
violência, o momento atual do país e se envolvessem com as atrações”.
A história conta que a arte circense apenas tomou forma durante
o Império Romano, porém, não como se conhece hoje, visto que atrações como
corridas de carruagem, lutas de gladiadores e apresentações com animais
selvagens faziam parte da programação de entretenimento do público. Foi na
Inglaterra do século XVIII que surgiu o circo moderno, com seu picadeiro
circular e a reunião de atrações que ainda hoje compõem o espetáculo. O sucesso
foi tamanho que, 50 anos depois, a arte circense inglesa era imitada não só no
resto do continente europeu, mas atravessara o Atlântico e se espalhara pelos
quatro cantos da Terra.
Criado em 1986 pelo artista circense Manoel Alves de Jesus,
conhecido como Sapeca, o Grupo Asas de Picadeiro é composto por uma diversidade
de artistas, que vão desde arte-educadores e artesões até brinquedistas
populares. Lenon conta que a trupe traz em seu perfil a pedagogia do lúdico e
do encantamento por meio do mundo mágico da arte do circo. “O grupo não se
contenta em fazer apenas arte por arte, mas sim de levar, em suas performances,
atrações educativas e reflexivas para o processo de formação para a vida e de
um jeito ecológico”.
O projeto tornou-se bastante conhecido na cidade, tendo ganhando
vários prêmios e até mesmo reconhecimento da Funarte. A realização dos
espetáculos se dá através das leis de incentivo à cultura e possuem sempre um
caráter aberto para o público, uma vez que os espetáculos ocorrem em ruas,
praças e feiras livres, sempre trazendo o lazer criativo e sadio como
protagonista. “Sempre fez parte do nosso objetivo-missão
facilitar o processo de entendimento da cultura de paz e humanização. Ela é capaz
de despertar no ser humano curiosidades que podem contribuir com informações
necessárias para o desenvolvimento cognitivo e afetivo, principalmente das
famílias em situação de vulnerabilidade social”. explica Lenon.
Arte na Periferia
Desde 2009, a companhia leva para as periferias de Goiânia um
projeto de democratização social e acesso as artes chamado “Arte na Periferia”.
Com uma série de espetáculos artísticos e circenses que circulam bairros da
Capital. A trupe fortalece e difunde a diversidade de manifestações culturais
com um espaço alternativo para a eclosão de novas ações locais e regionais. E
neste ano não poderia ser diferente.
Da primeira edição até a atual, o projeto atingiu mais de 30
bairros das periferias da região metropolitana de Goiânia. Do dia 26 de agosto
até 23 de setembro, a 4º Edição do Arte na Periferia vai cruzar por 10
subúrbios goianienses, com a proposta de valorizar, resgatar e preservar a
memória artística e a cultura popular. Como o próprio grupo descreve, “trata-se
de um rebuliço de expressões, destruindo pesadelos e renovando sonhos de um
novo dia. É um picadeiro de arte, cultura e cidadania”.
As atrações de cada show são compostas por um espetáculo-base de
variedades e interações circenses, que serão concebidas e encenadas pelo grupo.O
roteiro cênico será complementado com a participação espontânea de artistas do
anonimato, descobertos em cada comunidade, e das pessoas (crianças e adultos)
que participarão das interações brincantes. Palhaços, pernas de pau,
malabaristas, mágicos, pirofagistas, acrobatas, monociclistas, comediantes e
equilibristas são algumas das apresentações que serão intercaladas com brincadeiras
e performances de novos talentos.
Confira o cronograma desta edição: 26 de agosto(Bairro
São Francisco); 01 de setembro (Chácara do Governador); 02 de setembro (Setor
Novo Planalto); 03 de setembro(Conjunto Vera Cruz); 07 de setembro(Jardim
Curitiba I); 08 de setembro (Finsocial); 10 de setembro(Jardim Nova Esperança);
15 de setembro (Goiânia Viva); 21 de setembro (Residencial Vale dos Sonhos) e
23 de setembro(Jardim Novo Mundo).A estimativa de público para cada espetáculo
é de 600 pessoas.
*Victor Lisita é integrante do programa de estágio do jornal O Hoje, sob a supervisão de Naiara Gonçalves.