Pesquisa revela: 31% das pessoas não se opõem ao casamento com IA
Especialista comenta as problemáticas das relações pseudo sociais com Inteligência Artificial


A Inteligência Artificial (IA) transforma a vida moderna não apenas no que se diz respeito à automação do trabalho, indústria e consumo de produtos e serviços. A mudança também vem no processo de socialização das pessoas, principalmente com a popularização dos chatbots, ou seja, programas de computador projetados para simular conversas humanas por meio de IA. A pesquisa Inteligência Artificial na Vida, publicada em 2024 pela Talk Inc, mostra que 31% das pessoas não se opõem ao casamento com IA.
De acordo com Jullena Normando, pesquisadora em Comunicação e Inteligência Artificial pela Universidade Federal de Goiás, esse tipo de construção revela riscos para a saúde mental humana. “As IA’s são programadas para passar a ilusão de que são capazes de atender necessidades humanas. Nos Estados Unidos, por exemplo, há uma ferramenta popular que permite a criação do parceiro amoroso perfeito” explica a especialista.
Uso da IA como terapia
“A tentativa de construir relações essencialmente humanas por meio de fórmulas matemáticas é busca sem fim, inclusive quando falamos de apoio terapêutico”, continua Jullena. A mesma pesquisa da Talk Inc também aponta que um a cada 10 brasileiro recorrem aos chatbots em busca de terapia.
Nesse sentido, a procura por apoio emocional em algo não-humano, segundo a pesquisadora, aponta a antropomorfização das conversas com IA. Isso quer dizer que as pessoas atribuem, cada vez mais, significados humanos a textos que só foram construídos graças a um conjunto de códigos e dados.
“A terapia é um tratamento que não pode ser substituído por ferramentas não-humanas, já que, as abordagens utilizadas para cuidar da saúde de um paciente são baseadas baseadas em experiências humanas. Um chatbot não é capaz de compreender emoção, sofrimento. Por isso, essa pode ser uma alternativa pouco eficaz”, comenta a pesquisadora Jullena.
O uso de chatbots para apoio emocional é questionável pela comunidade científica. Mesmo com isso, é possível que o público veja nessa ferramenta uma oportunidade acessível para cuidar da saúde mental. Outra pesquisa realizada pela Associação Médica Brasileira aponta que apenas 5% dos brasileiros fazem terapia, mas cerca de 17% usam medicamentos. Isso revela uma tendência pela busca de alternativas mais práticas em relação à terapia convencional.
“Seja por questões financeiras ou qualquer outro motivo, há fatores no caminho da manutenção da saúde mental do brasileiro, e essa é uma questão de saúde pública que não pode ser mascarada pelas relações pseudo sociais que uma conversa chatbots permite”, conclui Jullena.