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sábado, 23 de novembro de 2024
Alfabetização

Ler e escrever ainda é um desafio para 8% da população brasileira

Um dos setores econômicos com maior presença de mão de obra com baixo nível de instrução ainda é a construção civil. Porém, essa realidade vem mudando com a adoção de projetos de estímulo aos estudos

Postado em 14 de novembro de 2017 por Kamilla Lemes
Ler e escrever ainda é um desafio para 8% da população brasileira
Um dos setores econômicos com maior presença de mão de obra com baixo nível de instrução ainda é a construção civil. Porém

Quem se alfabetizou no período convencional e hoje lê e escreve naturalmente, muito provavelmente,  não tem noção do obstáculo que é para uma pessoa não ter  o domínio dessas habilidades. Pode-se dizer que não saber ler é como uma cegueira cognitiva em que a pessoa não consegue entender o que vê. Tarefas corriqueiras, como pegar um ônibus, preencher uma ficha de emprego ou fazer um pagamento no banco acabam virando motivo de grandes constrangimentos.


De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE 2015), 8% da população brasileira ainda sofre com o analfabetismo. Um dos setores econômicos com maior presença de mão de obra com baixo nível de instrução ainda é a construção civil.  Porém, essa realidade vem mudando com a adoção de projetos de estímulo à retomada escolar,  como o Ensino Consciente, da Consciente Construtora e Incorporadora em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi).

Desde 2015, o projeto idealizado pelo Departamento de Responsabilidade Socioambiental da construtora formou 35 alunos no Ensino Fundamental. Neste mesmo o projeto formou sua primeira turma de ensino médio, com 17 alunos. Agora trabalhadores do canteiro do Nexus Shopping & Business, empreendimento da Consciente Construtora, têm a mesma oportunidade. Uma turma de 15 alunos/operários já cursa a alfabetização e outros 13 estão no ensino médio.

Iniciativas essa tem ajudado a mudar, para melhor, as perspectivas desses trabalhadores Dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (Rais/MTE) mostram que entre 2000 e 2010, a taxa de analfabetismo entre os trabalhadores desse setor diminuiu mais de 60%. Entre 2000 e 2010, o número de operários que concluíram o ensino médio aumentou 4,5 vezes.

Oportunidade

O pedreiro Antônio Agaci Fernando, 52 anos, é um dos alunos da sala de aula montada no Nexus Shopping & Business. Natural do Rio Grande do Norte, Antônio diz que cursou somente até a antiga 5ª Série e que até aprendeu ler e escrever. Mas, segundo ele, as habilidades foram se perdendo com o tempo.  “Tive minhas oportunidades e deixei passar. Quando larguei a escola para procurar emprego descobri que tudo sem estudo era difícil. Além de desaprender, não conseguimos bons empregos”, afirma.

As dificuldades com a falta de estudo fizeram com que Antônio valorizasse a educação e desse a suas três filhas as oportunidades que ele não teve. “Deixei minha oportunidade passar e tive que enfrentar muitas dificuldades. Me arrependo e por isso incentivei minhas filhas. Hoje eu me espelho e aprendo com elas”. Hoje, Maria Aline, 26, e Maria Agacilene, 32, já estão formadas respectivamente em pedagogia e administração. Já Maria Alletia, 25 anos está finalizando o curso de fonoaudiologia.

De acordo com Antônio, apesar de não ser um exímio leitor e escritor, sabe se virar. “Sei o mínimo, consigo ler itinerários de ônibus, placas e coisas simples. Mas isso não é suficiente. Penso em estudar, crescer na vida. Me tornar um mestre de obras ou, quem sabe, fazer uma faculdade um dia. Trabalhei com um sujeito que estava fazendo Direito com 75 anos de idade. Então sei que tudo é possível”.

Antes do curso, ele revela que não praticava muita escrita e leitura. Deixava mesmo apenas para as necessidades do dia a dia. Agora a coisa mudou. “Hoje tenho mais ideias, tenho acesso a livros, escrevo algumas coisas. Isso me deixa animado, estou evoluindo. Eu e toda a turma. Isso é fruto dos ensinamentos da professora Paula, que é sempre muito cuidadosa, educada e paciente com a gente. Isso nos estimula a sempre querer aprender mais”. 

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