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quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Povo indígena

Documentário brasileiro é exibido em Berlim

O filme tem como protagonista um antigo pajé que foi obrigado a se converter ao cristianismo

Postado em 18 de fevereiro de 2018 por Katrine Fernandes
Documentário brasileiro é exibido em Berlim
O filme tem como protagonista um antigo pajé que foi obrigado a se converter ao cristianismo

Neste sábado (17) o cineasta brasileiro Luiz Bolognesi lançou no Festival de Berlim, na Alemanha, seu documentário “Ex-Pajé”, que retrata a ameaça das igrejas evangélicas e da modernização ocidental para a identidade cultural dos povos indígenas contemporâneos. O filme mantém o foco na figura de um antigo pajé do povo indígena Paiter Suruí, que foi obrigado a se converter ao cristianismo após ser acusado de ter “vínculos com o diabo”.

A ideia inicial de Bolognesi, conforme o próprio diretor contou à Agência Efe, era rodar um documentário sobre os pajés, pois são essas pessoas que concentram “todo o conhecimento das populações das Américas antes da chegada dos brancos”, já que os povos originais carecem de uma cultura escrita.

O projeto sofreu uma grande mudança quando Bolognesi iniciou sua pesquisa e conheceu o ex-pajé que acabou se tornando o protagonista de seu documentário.

Hoje, segundo Bolognesi, o papel da evangelização está sendo exercido pelas igrejas evangélicas, que têm correntes “fundamentalistas e muito agressivas” e apresentam grande crescimento no Brasil. Além disso, o trabalho destas igrejas é realizado de modo “muito violento”, em particular, contra os pajés, ao os acusarem de terem ligação com o diabo, o que os leva a serem perseguidos por seu próprio povo.

Algumas lideranças indígenas mostradas no filme afirmaram que a violência contra os pajés e a perseguição da igreja é, precisamente, o maior problema que os povos indígenas enfrentam atualmente no Brasil, por isso decidiram escrever um manifesto, que teria trechos lidos durante a apresentação do filme no festival.

Na Berlinale, Bolognesi leu um manifesto pela proteção dos índios brasileiros, ao lado de dois membros da tribo Paiter Suruí. O índio Ubiratã esteve acompanhado da mãe, que entrou pela primeira vez em uma sala de cinema.

Em seu discurso, o diretor afirmou:

“Os espíritos da floresta estão zangados, chorando por ajuda, como se, para cada árvore derrubada, cada rio poluído, eles se aproximassem da extinção. Um sábio xamã disse uma vez, a floresta é um portal cristalino, e todos nós, os humanos, precisamos disso. Se a floresta partir, nosso espírito partirá também. Os pajés devem existir e, para existir, devem ser respeitados. Antes que seja tarde demais, o mundo seja esvaziado de sua espiritualidade e o Céu pode cair sobre nossas cabeças! Chega de etnocídio! Mais pajés! Menos intolerância”.

Segundo Bolognesi, “o encontro entre o interesse evangélico e o agrobusiness é estratégico”, pois ambos formam uma rede que “trabalha em conjunto” e que tem como objetivo destruir a dimensão mitológica dos povos indígenas.

“Se acabamos com sua mitologia, a floresta já não tem valor mágico, já não tem valor simbólico, espiritual” e, assim, fica mais fácil convencer os povos indígenas a destruir tudo e a despertar neles o interesse pelo dinheiro, comentou o cineasta.

Para Bolognesi, é precisamente de sua relação mitológica com a floresta e com a terra que os ocidentais brancos têm algo a aprender.

“Falamos muito de sustentabilidade, esta é a palavra do momento, mas ninguém no mundo conhece mais de sustentabilidade que os povos indígenas das Américas”, afirmou o cineasta.

(com informações do G1 em um minuto)

(Foto: Reprodução) 

 

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