ONG de Goiânia leva amor e doações a comunidades carentes
Segundo pesquisa divulgada pelo IBGE, cerca 7,4 milhões de pessoas realizaram trabalho voluntário. O aumento foi de 12,9% em comparação a 2016
Márcio Souza*
Doar um pouco de si para ajudar o próximo tem se
tornado algo frequente do brasileiro. Cada vez mais pessoas estão se envolvendo
com trabalhos voluntários. De acordo com a pesquisa Outras Formas de Trabalho
2017, divulgada no dia 18 de abril pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), cerca 7,4 milhões de pessoas realizaram trabalho
voluntário, o equivalente a 4,4% da população de 14 anos ou mais de idade. O
aumento foi de 12,9% em comparação a 2016.
Proporcionalmente, as mulheres fizeram mais
trabalho voluntário que os homens (5,1% frente a 3,5%). Além disso, quanto
maior o nível de instrução, maior a taxa de realização: 2,9% das pessoas sem
instrução ou com ensino fundamental incompleto realizaram trabalho voluntário,
já entre as pessoas com superior completo o percentual foi de 8,1%.
Foi vendo a necessidade de ajudar o próximo, que a
autônoma Rejane Guimarães Machado, de 35 anos, decidiu fundar a Organização Não Governamental (ONG) Ensinando Abraçar, que
atua há quatro anos em Goiânia e Região Metropolitana. “Quando você ajuda o
outro, você acaba se ajudando muito mais. Você compreende que seus problemas são
muito pequenos em relação aos que os outros passam. Então, para mim, esse programa é uma
escolha de vida”, afirma a coordenadora.
O projeto da instituição consiste em reunir pessoas de todas as religiões, para juntos, levar alegria e amor a quem
precisa. Entre as ações realizadas pela ONG, está o desenvolvimento de
atividades em asilos, como no São Vicente de Paulo, onde idosos recebem serviços assistenciais como corte
de cabelo, barba, unhas, além de jogos de memória que estimulam o pensamento dos
velhinhos.
A cada três vezes por mês, grupos de voluntários
praticam ação no antigo lixão de Aparecida de Goiânia, com o projeto O que
você quer ser quando crescer. “Levamos um profissional para falar sobre a área
dele e instruir as crianças sobre”, conta Rejane. Além disso, as crianças também recebem
aulas de português e matemática. “Aplicamos metodologias
bem divertidas, uma vez que 25 crianças de lá do lixão são analfabetos
funcionais”, explica.
Trabalhos voluntários também são desenvolvidos no
Residencial JK, em Goiânia. Teatro interativo, e uma biblioteca
itinerante, com troca de livros, são levados todos os meses para as pessoas carentes da região, com
intuito de estimular o conhecimento e levar alegria aos moradores.
Foi por meio das redes sociais que a estudante de
Pedagogia, Emilly Thais, de 23 anos, conheceu os trabalhos feitos pelo Ensinando
Abraçar. “Ficava olhando as fotos pela internet, querendo muito poder fazer
parte de tudo aquilo, mas não queria ir sozinha. Até que fui para o Instituto
Federal de Goiás (IFG), e lá, em uma conversa com amigos, uma amiga me disse
que o primo dela fazia parte dessa ONG. A partir disso, juntas, resolvemos
fazer parte dessa família”, recorda.
A primeira ação voluntária que a estudante
participou foi o Eu Quero, que ocorre uma vez ao ano, onde grupos se reúnem
em parques da cidade para conscientizar a população sobre várias doenças e a
importância do diagnóstico certo. No local é realizada as doações de sangue e de cabelos. “Essa ação me marcou bastante. Pude ver crianças
doando seus cabelinhos para outras crianças. E eu que sempre tive cabelo grande, e ainda não havia tido essa coragem, no calor da emoção também doei meu cabelo”, conta Emilly. “Se eu soubesse que iria me fazer tão bem, tinha cortado antes”, completa.
Voluntários recebem roupas,
calçados, brinquedos e acessórios de doações da população. Em contrapartida, como pagamento simbólico,
elas ganham abraços como gesto de reconhecimento. “Com o passar do tempo, os
sorrisos das crianças e a felicidade dos pais começam a nos mover. É muito
gratificante. Você começa a dar valor às pequenas coisas da vida”, enfatiza
Emilly.
Para ela, participar de projetos como estes é algo
lindo e mágico. “No início, você vai com a intenção de ajudar, mas depois você
começa a perceber que é você que está sendo ajudado”. Ela conclui que dar ou
compartilhar qualquer coisa material com uma pessoa que precisa traz um retorno
satisfatório muito maior. “O sentimento de gratidão começa a pulsar ainda mais
no coração”.
O engenheiro civil, Julio Cesar Andrade, de 24
anos, conheceu o projeto por meio da namorada, que sempre falava sobre
as ações desenvolvidas em instituições. A partir daí, despertou nele o interesse de
acompanhar de perto as atividades prestadas pelo Ensinando Abraçar. “Minha
primeira ação foi no Residencial JK, com crianças carentes. Percebi que você
não está ali só para ajudar, mas para ser ajudado”. Ele conta que
no começo foi estranho, mas logo descobriu que o sorriso e o carinho que
as pessoas e as crianças passam, tornam tudo gratificante. “A sensação é de
você estar se redescobrindo, vendo que o mundo é muito mais infinito do que aquilo
que está acostumado a viver no cotidiano, que essa gratidão que enche o coração é algo muito maior e ainda cativa e nos motiva a fazer mais, a
participar mais”, revela. Ele acrescenta que conhecer esse projeto realmente mudou a sua vida e o fez olhar com outros olhos para as pessoas.
Marcela Guimarães da Silva, de 19 anos, também faz
parte do grupo de voluntários. Para a estudante de Publicidade e Propaganda,
não há palavras que descreve o mix de sentimentos, como gratidão e empatia, em
participar das ações. “É muito amor. Nada nesse mundo paga os
sorrisos que recebemos. Costumo dizer que todo mundo precisa disso na vida. A
gente recebe muito mais do que quem doa”, diz. Ela faz parte da ONG há um ano e
quatro meses.
Como ser voluntário da ONG Ensinando Abraçar
Hoje, a ONG Ensinando Abraçar possui cinco grupos,
cada grupo tem cerca de 100 a 150 pessoas, reunindo ao todo mais de 600
voluntários no projeto. A instituição não recebe doação em dinheiro.
Segundo a coordenadora, Rejane Guimarães, qualquer
pessoa pode ser voluntária. Para isso, bastar entrar em contato por meio do
WhatsApp, pelo número (62) 99924-8645. A pessoa é adicionada a um grupo no
aplicativo, onde recebe as regras de boa convivência. “Toda semana a gente
posta as ações com as vagas e o nome do coordenador, aí a pessoa escolhe a área
que quer atuar, reserva a vaga, e o coordenador faz um grupo a parte e passa as
atividades e o dia marcado”, esclarece. A partir daí, os voluntários se reúnem na sede do Ensinando Abraçar,
no Setor Parque Amazônia e seguem paras as ações.
*Márcio Souza é integrante do programa de estágio do
jornal O Hoje, sob supervisão de Naiara Gonçalves