Clima seco e baixa umidade do ar requer atenção à saúde
Tempo seco é típico nesta época do ano e eleva numero de doenças com sintomas respiratórios. Além disso, poder público
volta a discutir queimadas
e nível dos mananciais
Gabriel Araújo*
O tempo seco que vem afetando todo o estado de Goiás é a causa para diversos problemas na região metropolitana de Goiânia. A baixa umidade relativa do ar, que na última quarta-feira (01) chegou a 31% de acordo com o Clima Tempo, torna a vegetação seca e quebradiça, o que aumenta a probabilidade de incêndios e causa um crescimento nas entradas em hospitais por doenças respiratórias. O atual ainda período é marcado pela diminuição do volume de água dos rios que abastecem a capital.
De acordo com o médico infectologista do Hospital de Doenças Tropicais (HDT) Boaventura Braz de Queiroz, a queda na umidade do ar é responsável por problemas respiratórios devido à necessidade do corpo humano em receber o ar 100% saturado. “O fato do clima estar muito seco pode causar transtornos no padrão de hidratação das pessoas. O processo de desidratação do clima seco leva a uma irritação muito acentuada das vias respiratórias altas e isso contribui para infecções por vírus e bactérias. Esse quadro de desidratação é muito perigoso em crianças e idosos”, conta.
Outra questão que pode ser responsável por problemas respiratórios é a qualidade do ar, que vem decaindo devido à grande quantidade de incêndios. Somente no estado, já foram registrados mais de 2 mil casos de incêndios florestais. Conforme informado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, o quantitativo de focos este ano já é mais de 15% superior que o registrado no mesmo período do ano passado. Em junho de 2017, o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) registrou 442 focos de incêndios, o que ainda é o maior índice já registrado no mês na história, desde 1998.
Além do tempo seco, problema já recorrente nessa época do ano, o goiano ainda enfrenta a grande mudança de temperatura. Na última quarta-feira (1º) a temperatura passou de 16º para 31º Celsius, uma mudança de 15º na temperatura ambiente da Capital, o que pode causar prejuízos à saúde. “O organismo prefere que haja uma estabilidade da temperatura, então essa mudança pode trazer transtornos e facilitar processos infecciosos e quadros de desidratação”, completa.
O infectologista ainda finaliza afirmando que a melhor forma de se preparar tanto para as grandes variações de temperatura quanto o clima seco de Goiás é a ingestão de grande quantidade de líquidos. “A grande preocupação nesse clima é com a hidratação, se existe o consumo de água o organismo termina melhor preparado e o líquido que é perdido é reposto”, conclui.
Principais doenças
Dentre as principais doenças que afetam a população neste período do ano, em razão do tempo seco, está a rinite alérgica, que é uma reação responsável por coceiras, olhos lacrimejantes e espirros. Outra doença que fica mais evidente com a baixa umidade é a asma, que devido às condições sofrem com o ressecamento da mucosa dos bronquílios, canais responsáveis pela passagem do ar, que se contraem e dificultam a entrada de ar. Com o tempo seco, a quantidade de bactérias também aumenta, gerando gripes, resfriados e faringite, que é uma inflamação na faringe.
Alto índice de desmatamento interfere nos níveis dos rios goianos
De acordo com o Fundo Mundial para a Vida Selvagem e Natureza (WWF, sigla em inglês) somente cerca de 20% da vegetação original está relativamente intacta, o bioma chegou a ocupar cerca de 30% da área nacional e 5% da flora mundial. O principal problema é o desmatamento para a implantação de novas culturas como soja, algodão e cana-de-açúcar, além da pecuária extensiva que se deu, com maior intensidade a partir da expansão da fronteira agrícola.
No início dos anos de 1970, com o desenvolvimento de sistemas mecânicos de irrigação, a introdução do arado e a utilização do calcário para a diminuição da acidez do solo, muitas áreas antes impróprias para o cultivo foram valorizadas e a partir de então o empreendimento agroindustrial ganhou força, diminuindo assim grande parte da vegetação nativa do cerrado.
O tipo de vegetação do cerrado é extremamente complexo e fundamental para a alimentação dos grandes aqüíferos. Ela tem plantas que ficam com um terço de sua estrutura exposta, acima do solo, e dois terços no subsolo. O que forma o chamado sistema radicular, que absorve a água da chuva e alimenta o lençol freático, que vai alimentar o lençol artesiano, ou seja, os aqüíferos.
Hoje, as águas que brotam do Cerrado são as responsáveis pela alimentação e configuração das grandes bacias hidrográficas da América do Sul. Rios como o São Francisco, Paraná e até afluentes que chegam ao Amazonas sofrem com a diminuição das águas dos aquíferos, fato recorrente devido à queda na porcentagem de vegetação nativa.
O maior problema enfrentado no momento é a recuperação da vegetação que pelas características do bioma já que o cerrado é uma das matrizes ambientais mais antigas da história recente do Planeta Terra, o que significa que este ambiente já chegou ao seu clímax evolutivo, ou seja, uma vez degradado, não se recupera no ápice de sua biodiversidade.
A crise
Os reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste do país estão com níveis médios de 34% da capacidade, o que equivale a uma queda de 25 em relação a março deste ano. A energia armazenada caiu para menos de 75.181 MW mês e as hidrelétricas de Furnas e Serra da Mesa trabalham com 27,90% e 20,47% da capacidade respectivamente.
Os reservatórios da região nordeste são os mais prejudicados pela crise hídrica que afeta o país desde 2014. A média de operação subiu 0,3% em relação ao ano passado, mas a capacidade dos reservatórios ainda está em 35,9% em média, somente a Usina de Sobradinho se encontra com 31,63% de sua capacidade.
O nível de água de outro reservatório do Estado, o de Emborcação, é um dos menores já registrados. No início de 2015, o nível chegou a 12% do volume total e a menor taxa já registrada foi em dezembro de 2001, quando o volume chegou aos 10% do total. Segundo dados informados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em medição realizada na última segunda-feira (30) o lago contava com 22,93% da capacidade total.
Essa é uma das piores secas dos últimos 100 anos e afeta o fornecimento energético de diversas regiões do estado, fazendo com que a bandeira na conta de luz permaneça vermelha.
O Abastecimento
No dia 13 do último mês de março o governo estadual decretou situação de emergência hídrica nas bacias dos rios Meia Ponte e João Leite por 290 dias. O Estado informou, na época, que a medida buscava evitar uma piora na situação das bacias, que já estão em estado crítico, e definiu o uso da água de acordo com os processos de licenciamento para evitar o consumo desordenado.
A lei federal define o uso prioritário da água para o consumo humano e limpeza de animais. A Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima) indicou ao Estado que medidas urgentes para conter a situação de escassez hídrica eram necessárias.
No início de julho a Operação Meia Ponte, ação da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Ambientais (Dema), flagrou diversas captações ilegais de água em afluentes do Rio Meia Ponte. Uma das captações era usada para abastecer o sistema de irrigação de uma lavoura de milho na cidade de Goiânia e já havia sido alvo de operação no ano passado.
Dois equipamentos eram utilizados para retirar algo em torno de 70 litros por segundo no ribeirão Capivara. O produtor rural responsável pelos pivôs de irrigação estava descumprindo o Termo de Embargo lavrado em 2017, o que resultou em duas autuações no valor total de R$ 90 mil.
O regime de chuvas vem diminuindo nos últimos 20 anos nas Bacias dos Rios Meia Ponte e João Leite, e a expectativa de precipitação pluviométrica para o período de fevereiro a setembro deste ano aponta para uma grande probabilidade de chuvas abaixo da média devida. O Governo afirmou que a medida visa evitar uma nova crise de abastecimento de água, como a que ocorreu na Região Metropolitana de Goiânia enfrentou nos meses de setembro a outubro de 2017, quando ocorreram limitações no fornecimento de água em alguns setores da capital. (Gabriel Araújo* é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor interino de Cidades Rafael Melo)