Construção do BRT causa prejuízos ao comércio de Goiânia
Obras de construção do BRT seguem, mas podem ser prejudicadas novamente pelo período de chuvas
Gabriel Araújo*
A construção da via exclusiva para o Bus Rapid Transit (BRT), obra que deve ligar Goiânia à Aparecida de Goiânia, segue de forma lenta devido à chegada do período de chuvas e afeta o comércio por onde passa. De acordo com empresários da região próxima ao Terminal Recanto do Bosque, a interdição das vias para a continuação da construção já fez as vendas caírem pela metade nos últimos 40 dias.
Para Ana Carolina Borges (nome fictício), a interdição da pista que dá acesso ao restaurante em que trabalha dificulta a chegada dos clientes. “Aqui a gente já perdeu mais de 40% das vendas por causa do fechamento da rua. Já teve até uma cliente que caiu aqui na frente por causa da lama e da altura que ficou quando eles tiraram o asfalto”, conta.
Atualmente as obras se encontram em um trecho da Avenida Oriente, no Setor Morada do Sol e buscam criar a entrada e saída dos ônibus articulados no Terminal Recanto do Bosque. “Desde quando começaram a pararem o trânsito aqui as coisas pioraram, e ainda tem todo esse barro que desse a avenida a atrapalha todo mundo”, completa Ana Carolina.
O BRT, quando pronto, deve contar com 28 veículos articulados e 65 convencionais divididos em quatro linhas para atender cerca de 120 mil pessoas por dia. Segundo o Consórcio BRT, as obras estão sendo executadas no trecho Norte entre o Recanto do Bosque e a Praça do Trabalhador, com alguns trechos sendo finalizada a implantação da via. Esta etapa, conforme o órgão, está prevista para ser entregue no fim deste ano. “Sobre os recursos, a Secretaria de Infraestrutura de Goiânia reforça que todos estão garantidos para a conclusão do trecho”, completou.
Com o termino das obras inicialmente previsto para o fim do primeiro semestre de 2017, os trabalhos do BRT ficaram paralisados por quase um ano devido a irregularidades na licitação e na própria obra. No último mês de março o atual prefeito de Goiânia, Iris Rezende (MDB), assinou o termo de serviço com as alterações previstas pelo Termo de Ajustamento de Conduta do Ministério Público Federal (MPF), o que previu a entrega final apenas para outubro de 2020, daqui cerca de dois anos.
Na época em que o termo foi assinado, o prefeito afirmou que a primeira parte do trecho entre o setor Balneário Meia Ponte até a Rodoviária seria entregue até o aniversário da Capital (ontem), mas até a ultima terça-feira (23) homens ainda estavam trabalhando na via ainda incompleta.
De acordo com o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), o Município de Goiânia e o Consórcio BRT-Goiânia devem adotar um plano de obras que contemple a completa conclusão do Subtrecho Norte do trecho II, entre a Avenida Independência e o Terminal Recanto do Bosque, antes de dar início às obras do Subtrecho Sul, entre a Avenida Independência e o Terminal Isidória e as obras do Trecho 01, que deve ser licitado novamente.
Anunciada em 2015, obra de mobilidade acumula problemas
O Bus Rapid Transit (BRT) foi anunciado em 2015, em uma parceria entre Governo Federal e Municipal, para uma obra orçada em cerca de R$ 242 milhões. Quando completo, o corredor terá 21,8 km de extensão e ligará a região norte da Capital à Aparecida de Goiânia, passando por, pelo menos, 148 bairros da Capital e de Aparecida de Goiânia. A expectativa é de que mais de 120 mil pessoas usem o transporte diariamente, sendo até 15 mil somente no horário de pico.
De acordo com a prefeitura, um dos diferenciais do projeto para o sistema é o aumento médio na velocidade dos coletivos, que deve passar de 14 km/h para 28 km/h. O sistema foi criado para ligar as regiões noroeste, a partir do Terminal Recanto do Bosque, e sudoeste, chegando ao terminal de Integração Cruzeiro do Sul, na divisa com Aparecida de Goiânia.
Entre as principais avenidas que fazem parte do trajeto estão a Avenida Rio Verde, Avenida 4ª Radial, Avenida Goiás, Avenida Lúcio Rebelo, Rua Oriente e, para que a velocidade média dos veículos possa aumentar, serão retirados alguns semáforos e pontos de cruzamentos.
BRT Goianiense
O Eixo Anhanguera é a atual maior linha de ônibus da Grande Goiânia, foi inaugurada em 1976 e é o segundo corredor específico de transporte coletivo do Brasil, sendo considerado um dos primeiros modelos dos atuais Ônibus de Transporte Rápido (BRT).
Contando com 13,5 km de extensão e 43 anos desde sua implantação, tem cinco terminais e 19 estações elevadas de embarque e desembarque que sustentam um sistema que transporta mais de 250 mil pessoas por dia. De acordo com a Metrobus, as linhas de ligação que partem dos terminais representam 35% do total da rede. Ainda segundo o órgão, dos 18 municípios que compõe Rede Metropolitana de Transporte Coletivo, 15 possuem linhas que integram diretamente nos terminais do Eixo Anhanguera, tornando o sistema o mais importante da Grande Goiânia.
Em 2011 a Metrobus Transporte Coletivo S/A venceu a licitação e obteve a concessão de toda a extensão do Eixo Anhanguera por cerca de 20 anos. Logo no início da concessão, a Metrobus investiu cerca de R$ 4 milhões na restauração da pista central da Avenida Anhanguera, local por onde circulam os ônibus do transporte coletivo. No período, o objetivo era substituir todo o asfalto da via, para acabar com os problemas estruturais.
Vias Estruturais
Além do Eixo Anhanguera, Goiânia conta com diversas avenidas e vias que buscam melhorar o trafego de veículos. A Marginal Botafogo é uma dessas vias, que conta com mais de 13 quilômetros e ajuda a facilitar o fluxo no centro e regiões sul. Além dela, existem a Avenida Leste-Oeste e o projeto da Avenida Cascavel, que devem melhorar o acesso À Senador Canedo, Trindade e Aparecida de Goiânia, diminuindo o fluxo de carros em vias como a BR-153.
A construção da Avenida Leste-Oeste, que tem projetos datados dos anos de 1970, é o caso mais emblemático de construção viária na Capital. A Avenida seria construída sobre o leito da antiga Ferrovia Goiás e já tinha um orçamento e planejamento completo.
Apesar dos projetos iniciais, o atual planejamento começou em 1997, com a via partindo do prédio da Câmara Municipal de Vereadores e seguindo até a Avenida Bernardo Sayão, no Setor Fama. Até o momento o projeto não foi completo e somente o sentido oeste da via foi construído, com o tempo, construções tomaram o entorno da antiga ferrovia e se tornaram obstáculos para a conclusão da obra.
Desde o início do último semestre, a gestão municipal tenta alterar o projeto para conseguir a liberação da verba federal. A mudança estipulada faria uma parte da obra ser construída em via subterrânea e prevê, ainda, a desapropriação dos lotes invadidos no entorno da antiga ferrovia. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian).