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domingo, 24 de novembro de 2024
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Educação

Comércio de livros usados resiste a crise de livrarias

Livrarias luxuosas são fechadas e podem refletir no mercado de livros usados

Postado em 9 de novembro de 2018 por Sheyla Sousa
Comércio de livros usados resiste a crise de livrarias
Livrarias luxuosas são fechadas e podem refletir no mercado de livros usados

Thiago Costa

Uma crise que chegou e bateu as portas das livrarias brasileiras tem causado um rastro por onde passa, afetando direta e indiretamente o comércio de livros usados, os chamados sebos. Aquelas que compram e vendem produtos usados, que inicialmente foram adquiridos nessas grandes livrarias. Somente neste ano 100 livrarias espalhadas pelo país fecharam suas portas. Em Goiânia uma grande rede já fechou as portas e outra ameaçou sair da cidade. 

O fechamento de muitas livrarias diminui diretamente o fluxo de giro das livrarias sebo, já que a reposição depende que as pessoas tenham esses livros seminovos para revender após o uso.

Max Weider é gerente da livraria Páginas Antigas, uma livraria que trabalha com produtos novos e usados e diz que, o reflexo do fechamento dessas grandes redes deverá afetar o mercado de literatura de seminovos em breve, já nos próximos meses. Ele ressalta que se diminuem as lojas que vendem esses produtos novos, diminui o giro de produtos que as pessoas procuram as lojas que compram seminovos e diminui a circulação de usados em Goiás.

O gerente explica que como seu público é, em sua maior parte o escolar, a demanda do comércio é para os livros usados, já que primeiro as pessoas buscam os livros seminovos e, só depois de esgotadas as procuras, compram livros novos. Os livros usados na empresa que Max é gerente são aproximadamente 40% mais baratos em relação ao preço de tabela, quando comparado com o preço do produto novo. 

O gerente diz ainda que as grandes livrarias que passam por problemas e fecham as portas não trabalham com livros escolares em geral, mas que a ausência delas poderá causar um impacto enorme no mercado goiano, uma vez que diminuirá o fluxo nas empresas como a que Max é gerente, que compram esses livros que foram adquiridos em grandes livrarias. 

“Nossas vendas aumentam muito na volta às aulas, o que nos ajuda manter toda a estrutura no restante do ano, mas por também vendermos livros usados, a procura é continua. Primeiro as pessoas procuram os livros usados e, se não encontrarem, procuram livros novos”, pondera o gerente.

Em relação aos porquês das livrarias estarem fechando as portas no Brasil e na capital goiana, Max acredita que o maior causador desse impasse é a falta do hábito de leitura do brasileiro. De acordo com Max, nessa época de crise a leitura acaba se tornando um luxo e comprar um livro seria a última coisa que o brasileiro iria fazer. “Primeiro o brasileiro se preocupa com o básico e necessário. Numa possibilidade de diversão e cultura, o livro seria uma última opção”, compara.

“O mercado de Goiânia sempre foi mais difícil para conseguir livros com facilidade. Em relação a livros escolares, somos bem assistidos, mas para outros tipos de livros, os mais complexos e difíceis de encontrar, dependemos quase 100% de São Paulo. Evitamos comprar muita coisa para não sobrar”, afirma o gerente. 

Para a economista Núbia Simão, em relação ao fechamento das livrarias físicas, duas coisas chamam a atenção. A primeira é a questão dos custos fixos que tem uma loja física e sua concorrência virtual. “A loja física tem dois custos fixos muito grandes. O aluguel do empreendimento e o pagamento de funcionários responsáveis pela manutenção do local pesam para manter uma livraria física aberta”, explica a economista.

De acordo com o professor de economia, Adriano Paranaíba, o brasileiro ainda é muito conservador e gosta de comprar em lojas físicas. Há a possibilidade de comprar qualquer coisa pela internet, mas as lojas físicas continuam importantes para o mercado financeiro. Para Adriano, as livrarias não vão acabar. “Não da para manter esses palácios para vender livros. As empresas precisam se adequar ao novo modelo de mercado. Precisam fazer novas pesquisas e verificar as exigências do público para conseguirem se manter”, finaliza. 

Tal pais tal filhos 

Leandra Leão mora em Rio Verde, é professora e mãe do Diogo, que cursa o segundo ano do Ensino Médio e neste ano fez o Exame Nacional do Ensino Médio por teste, pois ano que vem será para valer e a sua nota no Exame influenciará diretamente toda a sua vida pela frente. Como conta Leandra, sempre que a família frequentava shoppings durante passeios em família, Diogo sempre mostrou nas livrarias seu local preferido para o passeio. 

Leandra acredita que o hábito da leitura “infelizmente não está inserido nos brasileiros. A leitura deveria ser incentivada inicialmente pelos pais, a fim de criar um hábito. Uma rotina. Porém, como as crianças imitam os pais, se os responsáveis não têm essa rotina de leitura, as crianças os imitarão e não criam o hábito da leitura”, lamenta.

A professora da rede pública afirma que investir em leitura torna o cidadão mais crítico nos seus pensamentos e em suas opiniões sobre como é a vida. Leitores frequentes possuem raciocínio rápido e fazem as melhores escolhas. 

Grandes livrarias apostaram alto em estruturas e estoques  

Como explica o professor de economia do Instituto Federal de Goiás (IFG), Adriano Paranaíba, as livrarias aproveitaram que tinham baixos custos para pegar empréstimos nas agências bancarias e fizeram grandes investimentos e transformaram suas lojas em verdadeiros palácios e agora não conseguem manter essa estrutura, o que as obriga fechar as portas. “O setor demorou para quebrar porque eles usaram por muito tempo as editoras como laços, comprando livros consignados  e empurrando as dívidas para frente, até que essas empresas [livrarias] quebraram. Foi um erro de estratégia de gestão de mercado. Pensaram que o dinheiro estaria fácil para sempre, mas os juros subiram”, comenta o economista.

Ainda de acordo com o professor, assim como há público para a internet, há também público para as lojas físicas. Nenhuma dessas áreas vai acabar, embora muitas delas precisam de adequações para se manter de pé. “Existem os consumidores que gostam de comprar presencialmente, mas também existem os que preferem comprar com a praticidade da internet. Logo, existe os comerciantes das lojas físicas, mas também existem os comerciantes que preferem vender só pela internet”, explica.

Na visão da economista Núbia Simão, as lojas físicas elevam os custos, que, por sua vez, faz com que o valor vendido também seja repassado para o consumidor final, o que pode tornar esse comércio menos atrativo para um tipo de público. “Falando sobre a concorrência, nós temos atualmente inúmeras livrarias espalhadas pelo mundo. Livrarias que já nasceram no mundo digital que tem outro pensamento de mercado, voltada exclusivamente para a economia digital”, compara Núbia.

Em um comparativo, livrarias digitais não tem custos fixos e esse modelo de comércio trabalha, muitas vezes, com a terceirização para a venda do livro. Elas apresentam ao público que prefere concluir suas compras no mundo digital a foto do livro e, após feita a venda para o consumidor final , ela comprará o produto de um terceiro para entregar ao consumidor. Com isso, a empresa digital consegue um parcelamento maior, podendo chegar em até 12 vezes sem juros, além das várias possibilidades que esse tipo de empreendimento conseguir trabalhar promoções que sejam mais atrativas para o usuário. 

“A empresa inserida no mundo digital não tem custos com depósito. Os custos com funcionários são reduzidos. Tudo isso é uma tendência mundial. Infelizmente está acontecendo esse fechamento de livrarias físicas no Brasil”, lamenta Núbia.

Outro  problema apresentado pela Núbia é o fato das pessoas já conseguirem comprar um livro digital e fazer a leitura pelo próprio aparelho celular, mas para o economista Adriano Paranaiba este não chega a ser o motivo das livrarias fechadas, já que ele garante que o público brasileiro não aderiu à leitura digital, como ele mesmo destaca o exemplo de eBooks [livro em formato digital].  

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