Papai Noel por profissão
‘Bom velhinho’ é destaque nesta época do ano em lojas e shoppings e alimenta a fantasia de crianças e até adultos
Felipe André*
A agitação de fim de ano em diversos shoppings da capital goiana já começou. Lojas são tomadas por clientes que aguardaram por um fim de ano cheio de emoção. No quesito decoração de Natal grandes árvores natalinas, luzes piscando e, é claro, não poderia faltar o principal personagem, um senhor de idade já avançada, barba branca e rodeado por crianças, o Papai Noel. Mas encarnar o personagem deixou de ser um hobby e virou uma profissão.
Basta ficar por alguns minutos observando a movimentação ao redor da ‘casa do bom velhinho’ para notar o alvoroço de crianças e adultos que aproveitam o momento para garantir uma foto com esse personagem. Mas por trás do homem gordo vestido de vermelho e de barba branca existe um profissional que leva a sério essa tarefa de encarnar e dar vida ao Papai Noel.
Carlos Gonçalves Avelino, de 60 anos, é um dos responsáveis por levar alegria às crianças em um shopping da Capital. Acompanhado da Noelete ele anima a criançada que também pode aproveitar para se divertir tirando fotos ou fazendo pedidos.
Apesar de trabalhar como Papai Noel por muitos anos, Carlos começou nessa ‘profissão’ por acaso. “Faltou o Papai Noel em um shopping, mas já tinha sido feito a divulgação e ficou essa vaga em aberto, me candidatei, fiz uma entrevista com o pessoal do shopping e no meu primeiro ano, graças a Deus, foi um trabalho de sucesso, me dediquei tanto ao trabalho que acredito que não consigo viver sem ele mais”.
O trabalho pode até acontecer no final do ano, mas o cuidado com as características fundamentais do Papai Noel permanece em todos os meses. “A minha barba é natural, nunca nem pintei. Pouco tempo atrás ela estava um pouco maior, mas quando eu pedi para a Mamãe Noel cortar um pouco, ela errou e tirou uns três dedos. Eu mantenho a barba por todo o ano, apenas aparo um pouco para manter o tamanho. A última vez que fiquei de ‘cara limpa’ foi cerca de três anos atrás, tirei após o Natal e deixei crescer a partir de maio para trabalhar no Natal de novo”.
“É maravilhoso [o emprego], estou fazendo um trabalho diferenciado no shopping que está me dando muito prazer, é uma frequência dividida entre crianças e adultos. Tiro muitas fotos com adultos também, aproveito para conversar e gravar vídeos para mandar para o pessoal que não teve Papai Noel nas cidades deles. Isso me satisfaz muito, me deixa emocionado poder fazer o bem e espalhar para todo o Brasil”.
Carinho
Carlos se mostra muito emocionado ao falar a respeito do carinho que recebe das crianças no dia a dia. “Costumo dizer que sou muito grato a Deus por esse trabalho nessa época da minha vida, não encaro como um trabalho, é um prazer. É uma coisa que vejo nas crianças, têm muitas mães e pais que me falam que os filhos não gostam de ir no Papai Noel de outro shopping, mas comigo ela [criança] vem. Eu tenho uma empatia para promover esse encontro, é raro uma criança vir e não se sentir bem comigo, quando a criança chora e não quer ficar comigo, me entristece”.
Apesar da felicidade constante, o Papai Noel Carlos guarda uma criança em especial no coração e não contem o choro ao lembrar a história. “Teve uma criança que me marcou, de Anápolis. Eu fui o Papai Noel lá cerca de quatro anos atrás, depois dessa vez eu não voltei mais para trabalhar na cidade. Quando estava lá, ele ia todos os dias me ver, o pai dele levava. Na época de Natal ele sempre conversa comigo, recentemente me mandou mensagem perguntando onde eu estava e falando que queria me ver. Avisei que estaria em Goiânia. Ele me mandou uma foto e mostrou um frasco de insulina. Ele está diabético e disse que o pai estava cuidando dele. Então eu estou esperando para saber se o pai dele vai conseguir trazer ele aqui para tirar umas fotos, esse carinho que sempre demonstrou por mim, é uma coisa maravilhosa”.
Carlos conta com o apoio de sua mulher para se tornar o Papai Noel. A remuneração é o fator com menos importância, segundo ele. “Minha mulher é quem me arruma, ela arruma minhas roupas, é uma parceira de vida. Mas esse é um trabalho que eu faria até sem remuneração, é muito gratificante. Enquanto Deus me der saúde e eu tiver oportunidade de fazer, quero continuar. São poucas pessoas nessa fase da vida que têm a oportunidade de trabalhar e eu ganho para ter prazer”.
“Sou o primeiro de cabelo e barba brancos”, reivindica Papai Noel
Valdemar Fernandes Vieira, de 67 anos, natural de Goiânia, trabalha como bom velhinho em outro shopping da Capital, localizado na Avenida Perimetral Norte. Em 19 anos como Papai Noel, Valdemar se proclama o original de Goiânia. “Sou o primeiro Papai Noel de cabelo e barba branca natural de Goiânia. Depois vieram outros me copiando”.
Mas nem só de fabricar e distribuir brinquedos vive o Papai Noel. Valdemar, nos outros meses do ano, investe na carreira como fotógrafo e recentemente como cantor. “Ajuda muito nessa crise[trabalhar]. Eu sou aposentado e ganho um salário mínimo, mas é muito pouco, então a renda de Papai Noel me ajuda a sustentar durante o ano inteiro. Faço uma poupança para ir gastando ao longo do ano. Durante os outros meses eu faço outras coisas, sou fotógrafo, produtor de cinema, mas nesse último caso não ganho dinheiro, só gasto, então estou parando. Comecei a cantar, lancei o CD “Gabiroba”, mas como o Valdemar, depois pretendo lançar um natalino. Onde tiver possibilidade de ganhar dinheiro, estou ganhando”.
Afeição
Rodeado por crianças e adultos, o Papai Noel demonstra a felicidade pelo tratamento que recebe dos jovens. “É maravilhoso trabalhar com as crianças, é uma coisa fantástica, tem criança que já vem de braços abertos e pula no Papai Noel, é aquela alegria, quer abraçar, conversar. Outros que têm medo, que nunca viu, mas faz parte.
Valdemar conta com o apoio dentro de casa e convenceu sua esposa a trabalhar na área. “Ela [esposa] é Mamãe Noel, esse ano está trabalhando em outra empresa, mas trabalhou muito tempo comigo, e é o maior sucesso quando estamos juntos”.
Assim como Carlos, o Papai Noel Valdemar tem uma criança especial que marcou durante seus anos trabalhados. “Teve várias histórias, mas neste ano teve uma menina que disse que queria que o Papai Noel existisse para sempre. Arrepiei todo, comecei a chorar, não deixei ela perceber, mas a lágrima começou a escorrer, me tocou muito”. (Felipe André é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)