Mercado de trabalho em Goiás ainda sofre com estagnação do emprego com carteira
Lauro Veiga Filho Especial para O Hoje
A
melhora relativa anotada pelo mercado de trabalho em Goiás no último trimestre
do ano passado continuou a refletir, paradoxalmente, uma deterioração das
condições de emprego na economia. O ligeiro avanço no número de pessoas
ocupadas e o recuo no total de desempregados foram alcançados sobretudo em
função do incremento observado no contingente de pessoas que trabalham por
conta própria, em ocupações precárias, sem direitos e garantias, e ainda pelo
aumento no número de empregadores sem registro no Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica (CNPJ), tão informais quanto empregados sem carteira e por conta
própria.
O
total de pessoas trabalhando como empregadores e por conta própria sem o CNPJ,
o que não lhes assegura férias, 13º e acesso à Previdência, entre outros
direitos, avançou de 696,0 mil no terceiro trimestre do ano passado para 716,0
mil nos três meses seguintes, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (PNADC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Isso representou uma elevação de 2,9% ou 20,0 mil pessoas a mais. Para
se ter uma ideia da dimensão desse dado, o total de pessoas ocupadas no Estado
passou de 3,293 milhões para 3,327 milhões no mesmo intervalo, numa variação de
apenas 1,0% (ou seja, 33,0 mil ocupados a mais). Como se percebe, o aumento do
número dos “sem CNPJ” respondeu por 60,6% do crescimento anotado pelo total de
ocupados na economia goiana. São esses movimentos que estão por trás da redução
da taxa de desemprego de 9,4% no final de 2017 para 8,2% no quarto trimestre de
2018.
E ainda piora
Os
números são ainda piores quando comparados a último trimestre de 2017. O total
de ocupados cresceu 1,3% no período, saindo de 3,285 milhões de pessoas no
quarto trimestre daquele ano, com a entrada de 41,0 mil pessoas para o grupo. Desses,
em torno de 38,0 mil pessoas (ou 92,68%) passaram a engrossar o contingente de ocupados
por conta própria. Além disso, 51,2% das contratações ocorridas entre o quarto
trimestre de 2017 e igual período do ano passado podem ser explicadas pelo
crescimento do número de pessoas sem carteira assinada. Na mesma comparação, os
empregos com carteira literalmente não cresceram – ao contrário, registrou-se
mesmo uma leve redução, de 1,237 milhão para 1,232 milhão de pessoas. Pode-se
inferir, com base nos dados da PNADC, que a maior parte dos informais encontrou
colocação no setor de serviços, que passou a responder por praticamente metade
do total de ocupações no Estado (49,89% mais precisamente), diante de uma
participação de 48,5% no final de 2017.
Balanço
·
Na
verdade, o peso maior da informalidade deu a tônica para o mercado de trabalho
ao longo de todo o ano. Na média do ano passado, a taxa de desocupação baixou
para 9,2% saindo de 10,6% em 2017. Para comparação, em 2014, o desemprego havia
alcançado 5,3%.
·
O
número de pessoas desocupadas desabou 12,8%, de 382,0 mil para 333,0 mil (49
mil a menos), diante da variação de 1,6% registrada, na média, pela população
ocupada, que saiu de 3,234 milhões para 3,286 milhões no ano passado (52 mil a
mais).
·
O
crescimento na ocupação, no entanto, foi puxado pela alta de 4,8% no número de
trabalhadores sem carteira e pelo aumento de 3,6% no pessoal ocupado por conta
própria. Os “sem carteira” avançaram de 682 mil para 715 mil (33 mil a mais) e
os ocupados por conta própria de 798 mil para 827 mil (29 mil a mais).
·
A
informalidade medida pelo contingente de ocupados sem carteira e sem CNPJ
aumentou 2,8% no ano passado (de 1,375 milhão para 1,413 milhão) e respondeu
por mais de sete entre cada 10 ocupações abertas, com 38 mil novos ocupantes.
·
O
pessoal com carteira assinada, entre empregados dos setores público e privado e
trabalhadores domésticos, passou a responder por apenas 37,61% do total de
ocupados, diante de 40,17% em 2016.
·
A
fatia da indústria em geral no total de ocupados, da mesma forma, murchou de
15,72% em 2012 para 13,18% no ano passado, mantendo a participação registrada
em 2017 (13,20%).
A massa total de rendimentos, que havia crescido
7,2% em 2017, avançou 0,63% em 2018, com acréscimo de R$ 42,750 milhões ao
total de rendimentos recebidos pelos ocupados, menos de um décimo do acréscimo
anotado em 2017.