Caem crimes no transporte público, mas medo predomina
Batalhão diminuiu crimes dentro dos terminais de ônibus em Goiânia, mas não fazem usuários se sentirem mais seguros

Igor Caldas*
O Batalhão de Terminal é um projeto criado em março do último ano para atuar nos terminais de ônibus do Eixo Anhanguera para tentar dar mais segurança aos usuários. Após diminuições de ocorrências de crimes no período inicial da implantação, o projeto foi ampliado e segundo o gerente de segurança da RedMob, Sérgio Guimarães, já está presente em todos os terminais da Capital. Ainda assim, passageiros e usuários do transporte coletivo relatam forte sentimento de insegurança dentro dos veículos do transporte coletivo.
Valdinan Rodrigues é pesquisador e diz se sentir seguro dentro dos terminais rodoviários, mas que a sensação de segurança desaparece quando entra no veículo do transporte coletivo. “Quando estou dentro do terminal, me sinto bem, mas quando eu ponho o pé dentro do ônibus já não me sinto tão seguro”, relata. Os principais medos de Rodrigues estão relacionados ao furto. Ele afirma que já viu bandidos circularem dentro dos terminais procurando um alvo para realizar o furto dentro do ônibus.
Segundo o Tenente Coronel da Polícia Militar, Geraldo Pascoal, a ocorrência de crimes dentro dos terminais e no seu entorno diminuiu drasticamente após a implantação do projeto. No entanto, ao ser questionado sobre o interior dos ônibus do transporte coletivo, Pascoal afirma que a garantia da segurança dos usuários dentro dos veículos é responsabilidade da empresa concessionária que oferece o serviço. Ao ser questionado sobre o efetivo de policiais que fazem parte do projeto, Pascoal afirma que o número não pode ser divulgado por motivo estratégico.
“Conseguimos diminuir drasticamente os crimes dentro dos terminais e no entorno desde que o Batalhão de Terminais entrou em ação. Porém, o que acontece dentro dos ônibus é de responsabilidade das empresas concessionárias que oferecem o serviço”, pontua Pascoal. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública de Goiás, houve uma queda de 79% das ocorrências de crimes dentro dos Terminais Rodoviários desde a implantação do Batalhão de Terminal.
Para o Gerente de Segurança da RedMob, concessionária que oferece o serviço de transporte público por meio da Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC), os resultados da implantação do Batalhão de Terminal são muito expressivos. “Após a presença da PM, tivemos uma redução no numero de ocorrências entre 60 a 70%”, pontua Guimarães. Segundo ele, as principais ocorrências são de ameaças a integridade física, geralmente relacionada à insistência do não pagamento da tarifa para entrada no terminal. “Quando as pessoas são abordadas por não quererem pagar tarifas elas ameaçam os funcionários. Temos também alguma resistência em relação aos ambulantes que insistem em comercializar dentro dos ônibus e promovem animosidade à questão da segurança”, acusa Sérgio.
A reportagem esteve no Terminal Bandeiras para averiguar a situação de segurança dos usuários do transporte coletivo. Sargento Rogério Barbosa, que faz o turno de segurança dentro do terminal junto com outro oficial no período da tarde, relata que na verdade, o maior número de ocorrências está relacionado ao furto que é feito dentro dos veículos. Dentro dos terminais, Barbosa afirma que a ocorrência predominante é o uso de entorpecentes ilegais.
“A cada dia que passa os crimes que ocorrem dentro dos terminais estão diminuindo e nosso trabalho vem ficando mais ocioso. Porém, dentro dos ônibus ainda ocorre muito furto. O ladrão sabe que se ele fizer alguma coisa aqui dentro, vai levar um pé na bunda. Então o que ele faz é ficar dentro do terminal procurando o alvo que vai roubar dentro do veículo”. Rogério ainda afirma que a maior parte das ocorrências que atende é de pessoas que acabaram de sair do ônibus e descem no Terminal Bandeiras. Ele não mencionou animosidade em relação a vendedores ambulantes no Terminal.
Allef Cavalcante é estudante de psicologia e mora há 3 anos na Capital. O jovem afirma que já presenciou a ação de bandidos procurando alvos fáceis dentro de estações do Eixo Anhanguera para realizarem furto no interior do transporte coletivo. “Eu já vi gente sendo roubada dentro do ônibus por uma pessoa que estava rondando dentro de uma estação do Eixo Anhanguera”, relata Cavalcante.
O estudante ainda afirma que é necessário aumentar a segurança e a iluminação para prevenir ações de criminosos nos arredores dos terminais e estações do Eixo Anhanguera. Para Alef, que passou a infância em Goiânia, foi morar em São Paulo e voltou recentemente à Capital, foi o crescimento urbano desenfreado que desencadeou os problemas de segurança pública em Goiânia. “Quando voltei para Goiânia fiquei impressionado com o crescimento da cidade. Acho que a questão da segurança pública não conseguiu acompanhar o crescimento demográfico”, afirma Alef.
Abuso no Coletivo
Outro problema enfrentado principalmente pelas mulheres dentro dos ônibus é o abuso e a importunação sexual, sobretudo dentro do veículo lotado. O gerente de segurança da RedMob Sérgio Guimarães afirma que foi criado um número de Whatsapp pela empresa para receber denúncias de crimes cometidos dentro do transporte coletivo. No entanto, usuários relatam não ter conhecimento deste canal de denúncias. A reportagem não encontrou nenhum material publicitário, cartaz ou qualquer tipo de campanha para estimular as denúncias de crimes cometidos contra os usuários do transporte coletivo. Ainda assim, Guimarães reitera que as denúncias dos usuários do transporte coletivo é peça chave na questão de segurança.
Aline de Jesus Silva, 18 anos, não se sente segura andando de ônibus, mas é a única forma que ela tem para se locomover dentro da Capital. Seus principais medos são referentes ao abuso sexual e furtos cometidos dentro dos veículos. “Aqui dentro do Terminal Bandeiras eu raramente vejo a polícia. Hoje foi a primeira vez. Tenho medo do assédio e abuso dentro do ônibus porque quando está lotado, eles aproveitam”, acusa Aline.
Ela ainda afirma que nunca teve conhecimento de nenhum canal de denúncia específico para relatar os crimes cometidos dentro dos terminais ou dos carros da RMTC. Aline relata que esse é um problema enfrentado por todas as mulheres que andam de transporte coletivo. “Esse problema acontece diariamente dentro do ônibus. Eu tenho certeza que outras mulheres também sofrem com isso e nem tinham conhecimento de um número para denúncias. Não vi nenhum cartaz, nada. Falta uma campanha para isso ser incentivado”.
A estudante Sara Ramos, de 21 anos, já sofreu abuso dentro do ônibus e também reafirma a falta de uma campanha para divulgar o canal de denúncias de crimes da RMTC. Mesmo com a presença dos policiais dentro dos terminais ela não se sente segura como usuária do transporte público. “No ônibus lotado sempre acontece assédio. Acho que a presença da PM não inibe os crimes por que a maioria deles acontecem fora do terminal”, lamenta Ramos.