Dados do IBGE mostram que falta de demanda ainda segura o crescimento
Lauro Veiga
Os
números apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
para a produção industrial nas principais regiões do País e para as vendas do
comércio apontam numa mesma direção e reforçam o diagnóstico já repisado: a
economia não apresenta sinais de uma retomada mais intensa exatamente porque
falta demanda. Parece de uma obviedade total, mas este é precisamente o fator
ausente nas análises sofisticadíssimas dos “gênios” do mercado, que preferem
receitar, como solução aparentemente única para o baixo dinamismo da economia,
um reforço no ajuste das contas públicas, lastreado em mais cortes de gastos.
Neste caso, preferencialmente com expurgo daquelas despesas que poderiam
favorecer uma aceleração nas taxas de crescimento, com redução notadamente de
recursos para programas sociais e investimentos públicos.
As
vendas do varejo andaram de lado em fevereiro, na verdade, não avançaram um
milímetro em relação a janeiro, embora tenham apresentado crescimento de 3,9%
em relação ao segundo mês do ano passado, no conceito restrito, e de 7,7%
quando se incluem as concessionárias de veículos e motos, lojas de autopeças e
de materiais para construção (o tal varejo ampliado das estatísticas do IBGE).
Neste caso, com a ajuda do calendário, lembrando-se que o carnaval do ano
passado ocorreu em fevereiro, reduzindo o número de dias úteis daquele mês.
Conforme
o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), esse “efeito
calendário” tornaram os resultados na comparação anual os mais robustos para um
mês de fevereiro desde 2014. No entanto, se forem descontados os reflexos sobre
as vendas dos dois dias úteis adicionais em fevereiro deste ano, muito
provavelmente o ímpeto das vendas seria menor, o que aproximaria os resultados
do “padrão recente de crescimento”.
Começo “morno”
Na
avaliação do instituto, esgotado o “impulso das promoções do último mês de
novembro”, as vendas do varejo voltaram a apresentar o desempenho modorrento de
antes, “fazendo do início de 2019 um período morno não apenas para a indústria,
mas também para o comércio. Além disso, o dinamismo recente se mostra
concentrado em poucos ramos varejistas”. Nos dois primeiros meses deste ano,
ainda que oito entre os 10 ramos do varejo acompanhados pelo IBGE tenham
anotado algum incremento, “apenas três apresentaram contribuições
significativas para o resultado geral”, aponta o Iedi.
Balanço
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Considerando
o varejo ampliado, as revendas de veículos e autopeças respondem por 55,6% do
aumento nas vendas, acumulando alta de 13,7% no primeiro bimestre, embora o
setor tenha um peso próximo de 25% na composição do indicador do varejo do
IBGE.
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Supermercados,
alimentos, bebidas e fumo contribuíram com menos de 13% para o crescimento
observado no primeiro bimestre, ainda que as vendas no setor tenham crescido
apenas 1,9%. A questão é que o setor contribui com aproximadamente 30% nas
vendas totais do varejo ampliado.
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No
terceiro posto, a lojas de artigos de uso pessoal e doméstico, que
experimentaram alta de 8,2% no bimestre, contribuíram com 11% para o incremento
geral das vendas.
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Em
Goiás, o varejo tradicional sofreu recuo de 0,1% na passagem de janeiro para
fevereiro, com avanço de 1,1% no varejo ampliado. Em relação a fevereiro do ano
passado, as vendas saltaram 7,8% e 11,3% respectivamente, acumulando variação
de 5,9% no varejo restrito e 8,2% no ampliado.
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A
produção industrial no Estado, ao contrário, devolveu o crescimento registrado
em janeiro e encolheu 2,6% em fevereiro, na comparação mensal. Foi o segundo
pior resultado entre os 13 Estados acompanhados pelo IBGE.
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Em
relação a fevereiro do ano passado, sem descontar os dias úteis a mais no
segundo mês deste ano, a produção cresceu 5,7%. Mas foi um crescimento
praticamente todo concentrado no setor de alimentação, que avançou 14,6% puxado
pelos setores de farelo e óleo de soja e carnes.
Excluída a indústria de alimentação, o restante
da indústria apresentou queda de 2% em relação a fevereiro do ano passado.