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quarta-feira, 12 de março de 2025
Política

Educação domiciliar volta a ser discutido

Proposta pelo Governo Federal, visa a criação virtual para que os pais matriculem seus filhos. Método utilizado em diversos países já foi criminalizado pelo Supremo Tribunal Federal

Postado em 15 de abril de 2019 por Sheyla Sousa
Educação domiciliar volta a ser discutido
Proposta pelo Governo Federal

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Raphael Bezerra*

O projeto de educação domiciliar apresentado na última quinta-feira (11) pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) e que será enviado ao Congresso Nacional deverá ser examinado em conjunto com pelo menos outras duas propostas do Senado Federal — o PLS 490/2017 e o PLS 28/2018, do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). O projeto do Executivo dará entrada pela Câmara dos Deputados e, caso aprovado naquela Casa, seguirá para exame no Senado Federal.

A proposta do governo cria uma “plataforma virtual” em que os pais ou responsáveis matricularão seus filhos em um sistema a ser hospedado no Ministério da Educação. Pelo projeto, a educação domiciliar poderá ser adotada para crianças e jovens desde o ensino fundamental (do 1º ao 9º ano) até o último ano do ensino médio (que tem três anos de duração). Anualmente, os jovens farão uma única avaliação para comprovar seu aprendizado.

Líder do governo no Senado, Bezerra defende o ensino domiciliar como uma “opção aos pais e responsáveis”. “Outros países que têm essa experiência convivem muito bem. Evidentemente, com alguns critérios para avaliação. E a criança não pode ter prejuízos na sua avaliação”, avalia.

Por sua vez, o sociólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Pedro Demo é crítico em relação às propostas, pois avalia que somente pais com melhores condições econômicas poderão dar todas as disciplinas e conteúdos necessários nos currículos escolares.

“Um programa como esse vai exacerbar as desigualdades entre os jovens. Haverá a perda da socialização entre os alunos de diferentes origens para aprenderem a conviver com diferentes formas de pensamento.  Estamos indo contrariamente à função de integração das crianças que serão os futuros cidadãos”, afirmou.

Descriminalização

Tanto o projeto do Executivo como os dois projetos do Senado agem em duas frentes: na primeira, descriminalizam o ensino doméstico, que é proibido tanto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como pelo Código Penal, pois o entendem como abandono intelectual de um menor.

Na segunda frente, criam mecanismos para o MEC regular o ensino domiciliar com regras para o aprendizado e avaliações.

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, foi uma das maiores defensoras da proposta no governo. Ela afirmou que a educação domiciliar é um direito das famílias.

“Nós entendemos que é direito dos pais decidir sobre a educação dos seus filhos, é uma questão de direitos humanos. Então, a iniciativa sai deste ministério sob esta vertente. É uma questão de direitos humanos também”, afirmou a ministra em março

A fala da ministra foi uma resposta ao Supremo Tribunal Federal (STF), que, em 12 de setembro de 2018, decidiu, com repercussão geral sobre todos os outros processos sobre o mesmo assunto, que não seria aceitável o ensino domiciliar no país. Os ministros analisaram que não havia essa previsão de ensino no sistema educacional brasileiro, regulado pela Lei das Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Assim, o projeto do governo foi uma resposta ao STF, criando a figura do ensino domiciliar e estabelecendo uma mínima regulação.

 

Pais Lutam por educar seus filhos em casa 

Em Goiás, pelo menos 200 famílias lutam para que seus filhos sejam educados pelos próprios pais. Em todo o país, são cerca de 5 mil famílias que lutam pelo direito de educar os filhos em todas as esferas. A prática não é proibida, mas segundo o Artigo 55 do Estatuto da criança e do Adolescente “Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”, isso faz com que a retirar os filhos da escola para formá-los em casa, possa ser considerado negligência por parte dos pais podendo ainda ser punido pelo art. 246 do Código Penal como crime de abandono.

A Constituição Federal de 88 é explícita “a educação é direito de todos e dever do Estado e da família”, diz o Art. 205. Seguindo o que diz a constituição, pais buscam formas alternativas de promover a formação acadêmicas em casa, a prática é conhecida como Homeschooling. Apesar de ser um direito garantido às famílias pela constituição, as mesmas esbarram diante do Estatuto da Criança e do Adolescente que obriga que os filhos sejam matriculados em rede regular de ensino.

Alfabetizar as crianças em casa não é mais exclusividade dos pais americanos ou europeus. O novo modelo de educação em que os responsáveis pela formação acadêmica dos seus filhos são os próprios pais chega ao Brasil. O método vem ganhando força e cada vez mais adeptos e pessoas curiosas em entender como funciona na prática.

Frequentar a escola não faz mais parte da rotina de cerca 6 mil crianças brasileiras. É o que mostra um estudo de 2016 levantado pela Associação Nacional de Educação Domiciliar.

A relação entre mãe e filho

Há uma ano e meio, a pedagoga Viviane Canello decidiu por alfabetizar seu filho de 6 anos que chegou a estudar em uma escola durante um ano. “Opteimeu filho precisava de mim com ele, como acho que toda criança pequena precisa. Pela minha experiência profissional, a criança necessita desta segurança, principalmente na educação infantil, a importância da família, a referência de pai e mãe presentes na vida dos filhos, é fundamental”, explica Viviane.

Viviane destaca que a ideia de educar os filhos em casa não é apenas fugir dos parâmetros curriculares da educação nacional, segundo ela, os filhos devem receber a mesma formação, porém, no conforto dos lares. “O fantástico disso tudo às famílias homeschoolers, é ver a progressão e poder promover, ter os resultados do seu filho. É sim, maravilhoso e de uma satisfação sem igual”, assegura.

“Estou estudando gramática para ensiná-lo da melhor forma, quero seguir o método de estudo clássico. Ensiná-lo a ler e interpretar os diferentes textos. Conhecer um poema, uma matéria de jornal, um livro de história, mitologia, estudamos o catecismo da Igreja Católica, estudos bíblicos. Somos católicos, rezamos o terço todos os dias, sim, isso faz parte da nossa rotina de aprendizado. Ele reza, pensando no que está falando, meditando os mistérios do Santo Terço, não é repetição. Tem as aulas normais do currículo escolar, tem as aulas de matemática, ciências, inglês também, que é o que ele mais gosta”, explica

Segundo a mãe, ele sabe que há uma diferença entre ele e outras crianças que frequentam a escola, para compensar o tempo em casa, ele participa de encontro semanais para desenvolver atividades físicas e ficar com brincar com outras crianças. “Ele entende que é diferente de ser educado na escola, hoje ele não quer mais ver falar de escola. Em casa ele aprende muito mais e em muito menos tempo. Aqui na nossa cidade há muitas famílias optando por ficarem mais tempo com as crianças e outras já fazendo o Homeschooling. Então, sempre têm crianças para ele brincar e um encontro ou outro, com outras crianças para a socialização”, explica. (*Especial para O Hoje)

 

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